EDUCAÇÃO FÍSICA DO PROFESSOR WILLIAM PEREIRA

Este blog é a continuação de um anterior criado pelo Professor William( http://wilpersilva.blogspot.com/) que contém em seus arquivos uma infinidades de conteúdos que podem ser aproveitados para pesquisa e esta disponível na internet, como também outro Blog o 80 AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA (http://educacaofisica80aulas.blogspot.com/ ) que são conteúdos aplicados pelo Professor no seu cotidiano escolar.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Notícias da Educação Física

Notícias da Educação Física


Recreação e socialização no âmbito escolar

Posted: 14 Jan 2013 12:53 AM PST


    A recreação é uma prática prazerosa em que os alunos participam de atividades descontraídas. Ela pode ser uma importante estratégia de inclusão e socialização, além de desenvolver as habilidades psicomotoras das crianças. Assim, a recreação transfere-se para o cotidiano e aproxima-se de uma vida permeada de informações. Esse processo de educação se dá através da convivência de diversos desses indivíduos, mais especificamente crianças, dentro de locais especializados que transmitem tais valores indiretamente, por meio da recreação.

    O objetivo deste estudo foi analisar como a Recreação e Socialização no Âmbito Escolar interferem no desenvolvimento dos indivíduos no espaço escolar. Visou-se examinar a formação cultural e o contexto social em que estão inseridos. Nesse contexto, propõe-se delinear entretenimento para os indivíduos e proporcionar prazer e contato com as atividades recreativas. Visou-se avaliar o comportamento e as posturas das crianças dentro das atividades desenvolvidas na escola e orientar sua conduta mediante atividades em grupo, amenizando a violência, principalmente a violência simbólica.


Recreação

    Recreação designa recreio ou prazer; sentir satisfação, divertir-se, numa atividade esportiva (FERREIRA, 2000). Por meio da recreação é possível educar. As crianças buscam em seu interior algo estimulante, que saia da rotina diária, podendo a recreação ser utilizada, até mesmo dentro da sala de aula. Hoje, o que se vê é uma sociedade totalmente voltada para o bem comum, que continua em transformação, mas que busca maneiras alternativas que contribuam no processo de reestruturação social. Os pais estão muito preocupados com a educação de seus filhos, que necessitam de uma contribuição externa, ou seja, novas alternativas na busca de melhor qualidade de vida em vários aspectos, tais como, psicológico, afetivo e social, já que os valores atuais são outros e foram transferidos, também, a outras pessoas. A responsabilidade de educar um indivíduo e transformá-lo é peça fundamental numa sociedade; deixou de ser apenas papel da família e passou a ser de responsabilidade da escola. De acordo com Brotto (2001), a recreação é uma forma específica de atividade, uma atitude ou disposição, uma área de vida rica e abundante, a vida fora das horas de trabalho.


A violência na escola

    Michaud (1989) explica que:

"Violência" vem do latim violentia, que significa violência, caráter violento ou bravio, força. O verbo violare significa tratar com violência, profanar, transgredir. Tais termos devem ser referidos a vis, que quer dizer força, vigor, potência, violência, emprego de força física, mas também quantidade, abundância, essência ou caráter essencial de uma coisa. Mais profundamente, a palavra vis significa a força em ação, o recurso de um corpo para exercer sua força e portanto a potência, o valor, a força vital. (p.08).

    A violência está em todo o mundo e se manifesta de várias maneiras. Está em toda a sociedade, em todas as classes sociais, em todas as faixas etárias. Seria equivocado acharmos que está apenas nos parâmetros da pobreza, nas periferias das grandes cidades; a violência nos cerca e está em vários lugares: na rua, na escola e até mesmo na família. Nas escolas, as discriminações são grandes, tanto por etnia quanto por religiões; crianças gordas ou magras, baixas ou altas, bonitas ou feias, separam-se em grupos e começam a rejeitar umas às outras, e essa rejeição vem em forma de "zoeiras", xingamentos e brincadeiras de mau gosto que vão se estendendo no dia-a-dia.

    A violência escolar é fruto das desigualdades sociais do mundo em que vivemos. Temos crianças que passam por muitas dificuldades em casa, ou nem casa têm; crianças que são criadas pelo mundo, que trabalham desde cedo, que são escravas dos pais, crianças que conhecem a bebida logo cedo, o cigarro, a sexualidade e as doenças. Essas crianças vão para a escola às vezes apenas para comer, não estão muito interessadas na aprendizagem; com isso, acabam desrespeitando os professores e seus colegas. Estamos falando de uma violência verbal, uma violência que é muito encontrada nas escolas, onde a educação é deixada de lado e o que vale é a superioridade de uns sobre os outros. Existe a violência em que os alunos se tornam vândalos e destroem tudo o que vêem pela frente; apedrejam e picham os muros e vidros das escolas, destroem o que seria de uso próprio para aprendizagem. O tráfico de drogas, a lesão corporal e o uso de armas brancas e de fogo são uma violência mais explícita, que choca todos, embora qualquer violência escolar, deva ser eliminada, e para isso deve haver programas dentro da escola com essas crianças e jovens. Esses programas devem ser tanto sociais como culturais e recreativos, para que a sociedade saia ganhando.


A importância da recreação no contexto social

    A recreação é uma ferramenta muito importante no desenvolvimento humano: afetivo, cognitivo, motor, lingüístico e moral. Dentro de um contexto social, quando um indivíduo está em recreação significa que está sentindo prazer em realizar alguma coisa. Os seres humanos são movidos, principalmente, pela emoção e pelo prazer; sendo assim, fica muito mais fácil assimilar alguma coisa a partir daquilo nos faz bem, sendo possível englobar os mais altos níveis de conhecimentos e, com crianças, é importante desenvolver e estimular atividades diferentes da vida cotidiana, mas que façam parte da natureza humana, já que é na infância o período de aprendizado e da assimilação que julgamos necessária para a vida adulta. O mais importante desse contexto é permitir que diferentes grupos de pessoas, principalmente crianças, se integrem, esquecendo o preconceito de valores, distinção de raça, estrutura familiar; pelo contrário, é possível estruturar todos esses tópicos.

    A recreação, nessa perspectiva, deve ser pautada em três pilares básicos de desenvolvimento: o biofisiológico, o social e o cultural, desenvolvendo o indivíduo com harmonia na realidade do seu cotidiano.

    Vygotsky (1991) defende uma relação de constituição recíproca, pois a criança se desenvolve no contexto das interações sociais e quando as informações ou experiências são internalizadas; reestrutura a organização das ações sobre os objetos, reorganizando o plano do desenvolvimento interno e, conseqüentemente obtendo transformações nos processos mentais. Assim, pode-se observar que a informação e a conivência no meio social, interpretando os seus vários significados, são necessárias para o desenvolvimento da criança. Por sua vez, a Educação Física deve ser entendida numa perspectiva político-filosófica.

    Existem vários estudos significativos e, de ainda com o critério cronológico, os principais são:

    Segundo Bourdieu (1979), o indivíduo expressa no seu corpo a sua história, marcada como tatuagem; o monge veste o hábito da mesma forma que o hábito veste o monge, pois este expressa a sua representação na hexis corporal.

    Nesse percurso, nota-se que o caminho da primeira concepção parte da sociedade mais ampla em direção ao indivíduo; em conseqüência, a segunda parte do indivíduo para a sociedade. Assim, é possível analisar os condicionantes no grupo social ou frações de classes (análise micro-social), objetivando observar a cultura expressa por esses indivíduos pertencentes a essas camadas especiais. Assim, pode-se contribuir, através dessas análises, para uma reestruturação do Habitus do indivíduo, procurando ampliar o seu capital cultural e proporcionando uma reorganização de conhecimentos. Uma reformulação de conteúdos que deverá estar em consonância com a realidade do educando, a fim de ser abordada. Nessa nova abordagem, deve-se procurar desenvolver no estudante meio para que ele possa utilizar suas experiências, sua realidade e o seu cotidiano para, enfim, ampliar suas informações e sua formação cultural.

    O desporto participação deve ter como princípio norteador à formação de habitus, segundo Bourdieu (1997): reestruturação de valores, crenças, habilidades e conduta humana que deve ser trabalhada na instituição de lazer no decorrer da vida do indivíduo, atribuindo ao mesmo uma valorização na prática da atividade física e a necessidade do tempo livre, ou seja, o lazer.

    Bourdieu (1979) expressa em seus textos que educandos oriundos de meios sociais desiguais possuem heranças culturais diferenciadas e tendem a agir de acordo com essa cultura já interiorizada. Ele ainda acrescenta que, para difundir a cultura socialmente legitima e valorizada universalmente é necessário que esses indivíduos tenham contato com os conhecimentos e com práticas culturais. Assim reestruturarão seus Habitus. Este é o conceito principal da Teoria Bourdiniana. Segundo ele, o habitus pode ser entendido como:

[...]sistemas de disposições duráveis, estruturas estruturadas predispostas a funcionar como estruturas estruturantes, isto é, como princípio gerador e estruturador das práticas e das representações que podem ser objetivamente "reguladas" e "regulares" sem ser o produto da obediência a regras, objetivamente adaptadas a seu fim, sem supor a intenção consciente dos fins e o domínio expresso das operações necessárias, para atingi-los e coletivamente orquestradas, sem ser o produto da ação organizadora de um regente (Bourdieu in Ortiz, 1983: 60-61).


Métodos e materiais

    Este estudo foi realizado em uma escola pública na cidade de Ribeirão Preto/SP. As atividades foram desenvolvidas para alunos de ambos os sexos, com faixa etária entre 11 e 13 anos de idade, que estão na 6ª série do ensino fundamental. No início quando foi aplicado o questionário piloto, eram 64 alunos divididos em 2 grupos; após a aplicação, os grupos se dividiram em 3 grupos, grupos A e B, com 26 alunos cada um e grupo C, com 22 alunos.

    Os materiais utilizados para desenvolver as aulas foram: arcos, bolas de plástico, bolas de futebol, bolas de voleibol, garrafas "pet" utilizadas como cones, jornais, barbante, raquetes e bolas de tênis de mesa, bexigas e cordas. As atividades foram realizadas em uma quadra coberta ou um pátio descoberto localizado na escola, sempre no período da tarde. No período da manhã, esses mesmos grupos tinham Educação Física com os professores efetivos da escola. As atividades desenvolvidas eram atividades recreativas educacionais, jogos cooperativos, atividades lúdicas em grupo, com o intuito de aproximar e gerar interação entre os alunos, aumentando, assim, o interesse pelos vários tipos de atividades.

    As aulas desenvolvidas eram de segunda a sexta-feira, com duração de 50 minutos, com um total de três horas-aulas para cada 6ª série do ensino fundamental.

    Através dessas atividades há uma socialização, os alunos aprendem a conviver, a interagir, a criar um ambiente harmonioso com seus companheiros, e isso se reflete fora do ambiente escolar. Dias (1996) diz que a Educação Física, quando direcionada para aprendizagem, tem um papel sócio-cognitivo-afetivo-educacional, participando diretamente na evolução da criança. Completa, ainda, dizendo que os objetivos devem estar voltados para desenvolver a responsabilidade, a socialização, a criatividade, a afetividade e a capacidade decisória.

    Através de todas as observações iniciais, foram notados violência simbólica, desrespeitos com alunos e professores, xingamentos, brigas, brincadeiras de tapas e socos, agressividade e exclusão de alunos pelos próprios companheiros. A agressividade é um elemento natural do ser humano e pode manifestar-se como uma tensão, um cansaço, uma frustração, problemas familiares e em geral. No ensino fundamental, a agressividade vem em forma de indisciplina, de desobediências, de palavrões para colegas e professores. Segundo Aquino,

[...] desobedecer, portanto, seria sinal de problemas ligados à infra-estrutura psicológica, mais precisamente à introjeção de determinadas funções morais apriorísticas, tais como: permeabilidade a regras comuns, partilha de responsabilidades, reciprocidade, cooperação, solidariedade etc. (2003, p.33).

    Notou-se a carência de diversificação de atividades no ambiente escolar escolhido para efetuar a pesquisa. As crianças apenas jogavam futebol e vôlei durante as aulas de Educação Física. Esses hábitos foram, no início, um grande desafio, pois as crianças às vezes preferem apenas praticar esses esportes sem orientação nenhuma.


Resultados e discussões

    Segundo os 64 alunos entrevistados no primeiro questionário, 42,1% disseram que a escola onde estudam é boa para a aprendizagem, 40,6% disseram que a escola é boa/legal/bonita, e 17,3% tiveram respostas variadas. Ainda sobre a escola, 48,4% responderam que gostariam que a escola fosse mais legal, alegre e interessante, 20,3% responderam que poderia haver melhorias na estrutura, regras e horários e 31,3% apresentaram outras respostas. Para 48% deles, a escola ideal seria aquela com brincadeiras, atividades e Educação Física; para 20,3% seria ideal com festas e passeios e 31,3% tiveram respostas variadas. Os alunos ainda ressaltaram que queriam atividades, jogos e sucos no recreio.

    Com essas respostas, nota-se que os alunos querem uma escola melhor, conteúdos com base científica, regras, horários e aulas que apresentem informações diferenciadas no processo de aprendizagem no programa escolar e contemplem atividades culturais. Segundo as análises das respostas, há poucas atividades criadas pelos educadores, pouco comprometimento dos professores em ministrar aulas com conteúdos diferentes e com ensino sistematizado. Nota-se que 62,5% dos educandos ressaltam que os professores ideais na escola poderiam ser mais educados e pacientes, 26,5% ressaltaram que as aulas poderiam ser melhores e com mais lições e 11% tiveram respostas variadas.

    No questionário final, 57,6% dos grupos A e B disseram que os professores de sala às vezes eram legais e 45,4% do grupo C ficaram entre as alternativas sempre e às vezes são legais. Isso mostra que os professores tendem a ter um relacionamento cordial com os alunos. Os alunos apresentam o desejo de participar de aulas mais interessantes e motivadoras. Em relação à aula de Educação Física, no questionário inicial 71,8% responderam que ela é divertida, legal, "irada" e alegre; 8,7% responderam saudável e educativa e 9,5% tiveram outras respostas. Após iniciarmos as atividades com os grupos, no questionário final 80,7% do grupo A disseram que sempre gostam das aulas de Educação Física, 69,2% do grupo B tiveram a mesma resposta e 100% do grupo C disseram que sempre gostam das atividades desenvolvidas. Isso se deve às brincadeiras propostas, brincadeiras com o intuito de aproximar os alunos através das atividades recreativas, jogos cooperativos de inclusão, de interação e socialização.

    "O objetivo da integração é inserir um aluno, ou um grupo de alunos, que já foi anteriormente excluído, e o mote da inclusão, ao contrário, é o de não deixar ninguém no exterior do ensino regular, desde o começo da vida escolar." (MANTOAN, 2003, p. 24)

    Brotto (2001) ressalta que os jogos cooperativos são jogos onde as pessoas se unem, compartilham-se em todos os momentos, havendo relação e confiança pessoal e interpessoal.

    Segundo 42,1% dos alunos que responderam o primeiro questionário dizem que na aula de Educação Física faltam jogos e esportes, 25,8% dizem que faltam atividades recreativas novas e 32,1% tiveram outros pedidos. Após 4 meses de atividades, desenvolvidas sempre no período da tarde, foi perguntado no questionário se eles ficavam sem fazer aulas de Educação Física no período da tarde. No grupo A, 88,4% responderam que nunca ficavam, no grupo B, 65,3% responderam que nunca ficavam sem fazer aula e no grupo C a resposta que nunca ficavam sem fazer aula chegou a 77,2%.

    Em relação à Educação Física ministrada por professores no período da manhã para os mesmos grupos A, B e C, a mesma pergunta foi feita e 84,6% dos alunos do grupo A falaram que quase nunca ficam sem fazer aula de Educação Física no período da manhã, 54,8% do grupo B responderam a mesma alternativa e 68,1% do grupo C confirmaram que quase nunca ficam sem fazer aula de Educação Física no período da manhã. Cabe ressaltar que nessas aulas do período da manhã, ministradas por outros professores, os alunos apenas jogam futebol e vôlei, não há nenhuma atividade educativa igual ou semelhante às propostas e desenvolvidas pelas aulas do período da tarde. Nota-se que, nesse contexto o professor deve partir de uma autonomia educacional, mas nunca se distanciar das diretrizes do ensino universalmente valorizado, evitando, assim, o esvaziamento dos conteúdos obrigatórios de base educacional.

    Comparando as respostas sobre as aulas de Educação Física de manhã e à tarde, 46,1% dos educandos do grupo A responderam que gostam mais das aulas do período da tarde, 42,3% responderam que gostam das aulas de manhã e 11,6% responderam que gostam das aulas dos dois períodos. No grupo B, 73% preferem as aulas ministradas à tarde, 23% preferem as duas e 4% preferem as aulas da manhã. As respostas do grupo C foram as seguintes: 45,4% preferem as aulas da tarde, 36,3% preferem os dois períodos, 13,6% preferem o período de manhã e 4,7% não responderam (Figura 1).

    Isso mostra que as aulas desenvolvidas a tarde, com o objetivo de aumentar o capital cultural e social das crianças, através de atividades recreativas, estão sendo bem sucedidas, pois os números e a percepção dos professores comprovam isso.

    Foram relacionadas as respostas de duas perguntas sobre os professores do período da manhã e os do período da tarde. As perguntas foram: Eu gosto dos professores de Educação Física do período da manhã? Eu gosto dos professores de Educação Física da tarde? (Figuras 2 e 3) As alternativas eram: Sempre, Às Vezes, Quase Nunca. No grupo A, 53,8% responderam que sempre gostam dos professores da tarde, 30,7% às vezes e 15,5% quase nunca. Em relação aos professores da manhã, 65,3% responderam que sempre gostam deles, 7,6% às vezes, 23% quase nunca e 4,1% não responderam. Nota-se que o índice de rejeição foi mais elevado de manhã do que no período da tarde.

    Em relação aos educandos do grupo B, 84,6% disseram que sempre gostam dos professores da tarde e 65,3% da manhã. O índice de rejeição para os professores da manhã foi 4% e da tarde 7,7%; 30,7% responderam que às vezes gostam dos professores da manhã e 7,7% da tarde.

    As respostas dos alunos do grupo C foram: 90,9% responderam que sempre gostam dos professores da tarde e 9,1% não responderam nenhuma alternativa; 63,6% sempre gostam dos professores do período da manhã, 22,7% disseram que ás vezes, 9% quase nunca e 4,7% não responderam.

    Nota-se que, nas figuras 2 e 3, os alunos gostam dos professores que são repetitivos nos conteúdos de suas aulas; pode-se também constatar que as respostas às vezes e o índice de rejeição foram grandes. Já o índice de rejeição para os professores da tarde foi muito baixo e os alunos sempre gostam dos professores que propõem aulas recreativas educacionais.

    As brincadeiras desenvolvidas nas aulas são bem aceitas pelos alunos, sempre em ambientes descontraídos e alegres; 46,1% dos alunos do grupo A disseram que quase sempre as aulas são divertidas, 42,3% que sempre as brincadeiras são divertidas e 11,6% não gostam das brincadeiras por algum motivo. Quanto ao grupo B, 80,7% responderam que sempre as brincadeiras são divertidas, contra 19,3% que acham às vezes as brincadeiras divertidas. No grupo C, 81,8% disseram que sempre são divertidas, 13,6% apenas às vezes, e 4,6% não responderam.

    De acordo com os próprios alunos dos três grupos, após os 4 meses de atividades desenvolvidas, eles disseram que a violência diminuiu. As respostas dos grupos A, B e C foram: 69,2% dos primeiros grupos e 63,6% do grupo C dizendo que realmente isso foi amenizado (Figura 4).

    Através das aulas com propostas pedagógicas planejadas e sérias, desenvolvidas por meio das atividades de socialização, com a orientação dentro das atividades, foram melhoradas a conduta e ética dos alunos e, junto com os valores adquiridos, notou-se e comprovou-se que a violência física e simbólica foi amenizada.


Conclusão

    Ficou constatado que as aulas de Educação Física desenvolvidas com propostas de educação, socialização e inclusão dos alunos, por meio de atividades recreativas, jogos cooperativos e atividades lúdica em grupo foram bem sucedidas nesse trabalho. Foi feito um resgate cultural e social dessas crianças através das atividades, através da recreação, na tentativa de diminuir a violência verbal e simbólica. Nesse contexto, verifica-se a importância da Educação Física ministrada com objetivo do desenvolvimento do Capital Cultural, com a intenção de contribuir para que essas crianças se tornem cidadãos com futuro promissor e reflitam sobre o meio social em que estão inseridas, proporcionando, no âmbito escolar o desenvolvimento da cultura universalmente valorizada para que essas crianças se desenvolvam, de um modo que a cooperação, o respeito e a convivência disciplinada possam estar embasados no princípio ético da vivência em comunidade.


Bibliografia

  • AQUINO, J. G. Indisciplina. O Contraponto das escolas democráticas. São Paulo: Moderna, 2003. (Coleção Cotidiano Escolar).

  • BOURDIEU, P. A miséria do mundo. Trad. Mateus S. Soares de Azevedo, Jaime A. Freitas Teixeira e Jairo Veloso Vargas. Rio de Janeiro: Vozes, 1997 .

  • __________. La distinction: critique sociale du jugement. Paris: Minuit, 1979.

  • BROTTO, F.O. Jogos Cooperativos. Santos, SP: Editora Projeto Cooperativo, 2001.

  • DIAS, K. P. Educação Física x Violência - Uma abordagem com meninos de rua. Rios de Janeiro: Sprint, 1996.

  • FERREIRA, A.B.H. Dicionário escolar Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, 4ª ed, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

  • LUDKE, M. e ANDRÉ M.E.D.A. Pesquisa em Educação: Abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.

  • MANTOAN, M.T.E. Inclusão Escolar - O que é? Por quê? Como Fazer? São Paulo: Moderna, 2003. (Coleção Cotidiano Escolar).

  • MICHAUD, Y. A violência. São Paulo: Ática, 1989.

  • ORTIZ, R. (Org.). Pierre Bourdieu: Sociologia. Trad. Paula Monteiro e Alícia Cruz mendi. São Paulo: Ática, 1983. (Coleção Grandes Cientistas Sociais, 39).

  • TRIVIÑOS, A.N.S. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais. A pesquisa qualitativa em Educação. São Paulo: Atlas,1992.

  • VYGOSTSKY, L S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

Autores:

Jonatas Evandro Nogueira*
jonatasnogueira_ef@yahoo.com.br  
Luciana Renata Muzzeti Martinez**
lucianamuzzeti@ig.com.br

A fisiologia em educação física e esporte

Posted: 14 Jan 2013 12:51 AM PST


Introdução

 O termo fisiologia vem do grego "physis" = natureza, função ou funcionamento e "logos" = palavra ou estudo. Assim, a Fisiologia caracteriza-se como o ramo da Biologia que estuda as múltiplas funções mecânicas, físicas e bioquímicas dos seres vivos. Ela se utiliza dos conceitos da física e da química para explicar como ocorrem as funções vitais dos diferentes organismos e suas adaptações frente aos estímulos do meio ambiente.

Nesse contexto, a Fisiologia do Exercício (também chamada de Fisiologia do Esforço ou da Atividade Física) é uma área do conhecimento derivada da disciplina-mãe Fisiologia, que estuda como as funções orgânicas respondem e se adaptam ao estresse imposto pelo exercício físico (JOYER & SALTIN, 2008; WILMORE & COSTILL, 2010). Em outras palavras, a Fisiologia do Exercício estuda os efeitos agudos e crônicos do exercício físico sobre a estrutura e a função dos diversos sistemas orgânicos. Em complemento, a Fisiologia do Exercício investiga também a interação entre os diferentes efeitos do exercício físico e a influência dos estressores ambientais (PATE & DURSTINE, 2004).

Entende-se por efeitos agudos, chamados de "respostas", as alterações decorrentes da execução de uma sessão de exercício. Essas respostas são subdivididas em respostas observadas durante o exercício (também chamadas de per exercício) e respostas observadas após o exercício (também chamadas de subagudas ou pós-exercício). As últimas podem ainda ser divididas em respostas imediatas, que ocorrem nas primeiras uma ou duas horas após o exercício, e tardias, que são observadas ao longo de 24 horas pós-exercício. Quanto aos efeitos crônicos, denominados "adaptações", eles correspondem às alterações estruturais e funcionais decorrentes de um período prolongado de treinamento físico regular (NÓBREGA, 2005). Para melhor esclarecimento, podemos tomar como exemplo o interesse da área da Fisiologia do Exercício em investigar os efeitos da atividade física sobre a frequência cardíaca. Alguns pesquisadores poderiam estar interessados em saber se a frequência cardíaca se altera durante a execução de um exercício - efeitos agudos per exercício. Porém, outros poderiam estar interessados se, após a finalização do exercício, a frequência cardíaca retorna aos valores pré-exercício, caracterizando o estudo dos efeitos agudos pós-exercício. Outros ainda poderiam ter como objetivo saber se, após um período de treinamento de algumas semanas, a frequência cardíaca sofre alguma modificação - efeito crônico. Em todas essas situações, a influência de outros fatores poderia também ser investigada, por exemplo, se esta resposta é a mesma em diferentes populações, qual o efeito de diferentes tipos de exercício ou treinamento físico, ou ainda qual a influência da temperatura ambiental. Os mecanismos envolvidos nessas respostas também interessam aos pesquisadores e, portanto, também podem ser investigados.

É interessante observar, entretanto, que pesquisas utilizando o exercício físico e avaliando as respostas fisiológicas são realizadas também por pesquisadores da fisiologia básica, sendo importante discriminar as diferenças dessas pesquisas para as pesquisas específicas, de caráter mais aplicado, em Fisiologia do Exercício. Para a fisiologia básica, o exercício é empregado como um estressor ao organismo, assim como poderia ser utilizado um estresse térmico, psicológico ou qualquer outro. O importante é colocar o organismo numa situação de instabilidade e verificar suas respostas. Fica claro que o exercício físico é utilizado como um meio de investigação científica. Por outro lado, para os pesquisadores da Fisiologia do Exercício, os conhecimentos da fisiologia básica são utilizados para explicar as respostas humanas ao exercício. O exercício passa a ser o ponto principal da análise, ele é o objeto de estudo propriamente dito, é a finalidade da pesquisa.

Alguns autores (PATE & DURSTINE, 2004; WILLMORE & COSTILL, 2010) subdividem a Fisiologia do Exercício e conceituam a Fisiologia do Esporte como uma área do conhecimento que aplica os conceitos da Fisiologia do Exercício na elaboração e organização de meios, métodos e programas de treinamento voltados, especificamente, para o aumento do desempenho físico-esportivo de atletas.

Da mesma forma, outra subdivisão existente é a Fisiologia do Exercício Clínica, que aplica os conceitos da Fisiologia do Exercício na elaboração de programas voltados para manutenção da saúde, através da prevenção, tratamento e controle das doenças pelo exercício físico (EHRAN, GORDON, VISICH & KETEYIAN, 2009; PATE & DURSTINE, 2004).

Neste manuscrito, a terminologia Fisiologia do Exercício será utilizada para representar a aplicação dos conhecimentos fisiológicos às situações da Educação Física e do Esporte.

 

Histórico

As origens da Fisiologia do Exercício se confundem com os primórdios da Medicina e da prescrição da atividade física com fins terapêuticos no tratamento de doenças e manutenção das boas condições de saúde. Porém, somente no final do século 19 é que a Fisiologia do Exercício começou a surgir como uma área de interesse acadêmico-científico. O primeiro livro específico da área foi publicado em 1889 pelo pesquisador francês Fernand LaGrange intitulado "Physiology of Bodily Exercise" (WILMORE & COSTILL, 2010). É interessante destacar que a contribuição européia para a evolução da Fisiologia do Exercício prosseguiu nos anos seguintes. O dinamarquês August Krogh (1920), o britânico Archibald V. Hill (1922) e o alemão Otto Meyerhof (1922) receberam o Prêmio Nobel por suas pesquisas na fisiologia da musculatura esquelética e do metabolismo energético. Nos anos 30, os escandinavos Erik Hohwu-Christensen, Erling Asmussen e Marius Nielsen avançaram o conhecimento sobre as propriedades mecânicas do músculo esquelético e o controle da temperatura corporal em exercício. Christensen foi o mentor de Per-Olof Astrand, o qual obteve grande destaque nos anos 50-60 com investigações relacionadas à aptidão física, saúde e resistência aeróbia. Ambos, Christensen e Astrand, foram mentores do sueco Bengt Saltin, que juntamente com Jonas Bergstrom, no final dos anos 60, impulsionaram a aplicação da biópsia para o estudo da estrutura e da bioquímica muscular. Esta técnica permitiu aos fisiologistas do exercício compreender melhor o metabolismo energético e o efeito do tipo de fibra muscular no desempenho físico dos atletas.

Por 20 anos (1927-1947), o "Harvard Fatigue Laboratory" foi o ponto focal da história da Fisiologia do Exercício nos Estados Unidos da América. Neste laboratório, o Prof. Dr. David Bruce Dill, seu coordenador de pesquisa, conduziu estudos nas áreas de metabolismo energético, meio ambiente (efeitos do frio e da altitude), envelhecimento, nutrição e aptidão física e saúde (POWERS & HOWLEY, 1994). Os anos 50 viram os nomes de Dudley Sargent e Thomas Cureton ganharem destaque. O livro clássico do Prof. Cureton "Physical Fitness of Champion Athletes", publicado em 1951, estimulou o interesse de diversos fisiologistas do exercício em investigar o perfil fisiológico de atletas (WILMORE, 2003). A partir dos anos 60, a Fisiologia do Exercício se estabeleceu como área de investigação científica com a presença de pesquisadores como William McArdle, Frank Katch, David Costill, Jack Wilmore, entre outros (DEVRIES, 2000).

No Brasil, a Fisiologia do Exercício teve início nos anos 70 com o Prof. Dr. Maurício Leal Rocha, profissional da área médica. Na década de 70, todos os alunos que ingressavam na Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ) passavam pelo Laboratório de Fisiologia do Exercício (LABOFISE), coordenado pelo Prof. Dr. Maurício, para medições antropométricas. A meta do professor era obter o perfil antropométrico e fisiológico dos alunos que ingressavam na Universidade. Esta iniciativa desencadeou alguns anos depois o Projeto Brasil. Este projeto propunha o deslocamento das avaliações para cidades do interior do país em busca do perfil de aptidão física do homem brasileiro. O Prof. Dr. Maurício esteve também envolvido com as primeiras atividades de ergometria, reabilitação e medicina do esporte no Brasil.

A história da Fisiologia do Exercício na Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFEUSP) começou com o primeiro laboratório de pesquisa da Escola denominado CIPEF - Centro Integrado de Pesquisa em Educação Física. Este centro de pesquisa foi criado por um docente de formação na área de medicina, o Prof. Dr. Mário de Carvalho Pini e foi coordenado pela Profa. Dra. Maria Augusta Peduti Dal'Molin Kiss. O CIPEF desenvolveu as primeiras pesquisas na área da Fisiologia do Exercício e foi responsável por formar alguns dos pesquisadores que se tornaram líderes nesta especialidade em nosso país (TANI, 1999).

 

Linhas gerais de investigação

As investigações em Fisiologia do Exercício são bastante diversas e levam em conta diferentes aspectos relacionados aos efeitos do exercício. Considerando-se que esse efeitos sobre as diferentes funções orgânicas dependem das características do executante, as pesquisas na área da Fisiologia do Exercício têm sido desenvolvidas com diferentes populações: crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos, indivíduos saudáveis, portadores de doenças, sujeitos sedentários, condicionados e atletas de diferentes níveis e modalidades esportivas. Além disso, alguns estudos são conduzidos com animais de experimentação, como ratos, camundongos, coelhos, porcos, cachorros e gatos.

Classicamente, as pesquisas em Fisiologia do Exercício visam observar os efeitos do exercício em sistemas orgânicos específicos, tendo como os principais temas de investigação o metabolismo energético, os sistemas cardiorrespiratório, neuromuscular, imunológico e endócrino (PLOWMAN & SMITH, 2009). Entretanto, durante o exercício físico ocorrem alterações simultâneas nas funções de todos estes sistemas, de modo que a tendência de investigação atual e, principalmente futura, na área da Fisiologia do Exercício é a elaboração de pesquisas que tragam uma visão mais abrangente e integrada dos efeitos do exercício no organismo como um todo.

Considerando-se as linhas de investigação da Fisiologia do Exercício, algumas subáreas podem ser identificadas. Os estudos iniciais se concentravam-se, principalmente, em aspectos da aptidão física e desempenho esportivo, enquanto que, mais recentemente, um grande volume de conhecimento passou a ser produzido sobre aspectos relacionados à saúde. Dessa forma, é possível subdividir a Fisiologia do Exercício em aspectos relacionados ao desempenho esportivo e aspectos relacionados à aplicação clínica (EHRAN et al., 2009; PATE & DURSTINE, 2004). As pesquisas relacionadas à primeira área envolvem a avaliação de atletas, procedimentos de treinamento, desenvolvimento de capacidades motoras, respostas agudas e adaptações ao processo treinamento, efeitos do meio ambiente, entre outros. Na área da Fisiologia do Exercício voltada à saúde, os estudos abordam a prevenção, tratamento e controle de doenças relacionadas à hipocinesia (i.e. oriundas da baixa participação em atividades físicas), em especial, as doenças crônico-degenerativas.

Para explicar os efeitos agudos e crônicos do exercício sobre as funções orgânicas em sua plenitude, a Fisiologia do Exercício precisa não só descrever as respostas observadas em decorrência da execução do exercício e do treinamento físico, mas também precisa explicar os mecanismos envolvidos e a aplicabilidade desses achados em condições reais. Para cumprir esse papel, a Fisiologia do Exercício envolve pesquisas de cunho básico e aplicado. No contexto básico, os estudos investigam os mecanismos; enquanto que as pesquisas aplicadas testam diferentes características do exercício físico em diferentes populações e avaliam os efeitos dessas diferenças nas respostas agudas e crônicas das funções orgânicas (THOMAS & NELSON, 2005).

A pesquisa aplicada envolve ainda dois níveis de investigação: o clínico ou de laboratório e o prático ou de aplicação em campo. No nível clínico, a hipótese de estudo é testada em condições bem controladas, o que aumenta a validade interna do estudo, ou seja, a chance daquele resultado realmente ser consequência da intervenção realizada. Por outro lado, no nível da aplicação em campo, a investigação da hipótese ocorre em condições reais de execução, com menor controle das variáveis que podem interferir nos resultados, o que aumenta sua validade externa, ou seja, a chance do resultado ser extrapolado para situações semelhantes.

Para facilitar a compreensão, vamos retornar ao exemplo sobre o que acontece com a frequência cardíaca durante a execução do exercício. Nesse contexto, a pesquisa clínica ou de laboratório poderia medir a resposta da frequência cardíaca durante um determinado exercício (por exemplo, 20 minutos pedalando no cicloergômetro com 100 watts), tentando controlar todos os outros fatores que poderiam afetá-la como, por exemplo, a temperatura e hora do dia. Essa investigação poderia descobrir que a frequência cardíaca aumenta 50% durante a execução desse exercício nestas condições. A pesquisa aplicada de campo, por outro lado, usaria esse mesmo exercício numa situação real, por exemplo, em pessoas que se exercitam num clube, sem controlar a temperatura e hora do dia e, dessa forma, verificaria se, realmente, a frequência cardíaca aumenta durante a execução. Ainda no mesmo contexto, a pesquisa básica tentaria explicar quais são os mecanismos responsáveis pelo aumento da frequência cardíaca durante o exercício. Eventualmente, a investigação de mecanismos necessita se aprofundar tanto, que por falta de tecnologia ou por questões éticas, ela precisa ser conduzida em animais e, nesse caso, um modelo animal adequado precisaria ser escolhido.

A transição do conhecimento da pesquisa básica para a clínica de laboratório e aplicada de campo é conhecida como pesquisa translacional. No cenário científico é altamente desejado que este modelo seja utilizado para que o fenômeno investigado seja explicado de forma mais abrangente e completa (LIPPI, 2011). Cabe ressaltar, no entanto, que a sequência de evolução do conhecimento entre esses tipos de pesquisa não precisa seguir um sentido único. Em outras palavras, é possível que a pesquisa básica crie uma hipótese que seja testada pela clínica de laboratório e depois de campo, assim, como às vezes, a pesquisa de campo cria hipóteses para serem testadas pela pesquisa de laboratório e cujos mecanismos precisam ser investigados pela pesquisa básica.

Para finalizar, é importante ressaltar que para que a ciência não perca o foco da realidade, é fundamental que as pesquisas nos diferentes níveis (básica e aplicada) embasem suas buscas em questões pertinentes e relacionadas à atuação da Educação Física e do Esporte. Em outras palavras, é desejável que o campo profissional traga os problemas que enfrenta para serem investigados, e que as hipóteses sejam montadas em função desses problemas e que sejam testadas de forma integrada nos diferentes níveis de pesquisa.

 

Linhas de pesquisa

Diversas definições de linha de pesquisa podem ser observadas. Segundo BORGES-ANDRADE (2003), a linha de pesquisa pode se entendida como um traço imaginário que: a) determina o rumo ou o que será investigado; b) delimita as fronteiras do campo específico do conhecimento que será abordado; c) oferece orientação teórica aos que farão a pesquisa; e d) estabelece os procedimentos adequados.

Segundo a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), agência do governo federal que determina os rumos da pós-graduação brasileira, linha de pesquisa define um domínio ou núcleo temático da atividade de pesquisa de um Programa de Pós-Graduação, que envolve o desenvolvimento sistemático de trabalhos com objetos ou metodologias comuns. Já para o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), agência do Ministério da Ciência e Tecnologia destinada ao fomento da pesquisa científica e tecnológica e à formação de recursos humanos para a pesquisa no Brasil, linhas de pesquisa representam temas aglutinadores de estudos técnico-científicos, que se fundamentam em tradição investigativa, de onde se originam projetos cujos resultados guardam relação entre si.

Analisando-se as definições anteriores, fica claro que uma linha de pesquisa deve ser abrangente o bastante para aglutinar pesquisas com temas e métodos comuns, mas também deve ser delimitada o bastante para que seu rumo e campo específico de investigação não se percam. Essa dificuldade de abrangência faz com que as linhas de pesquisa sejam muitas vezes definidas de forma imprecisa.

Infelizmente, essa mesma falta de precisão observada na definição das linhas de pesquisa da Educação Física e do Esporte, também pode ser verificada na área da Fisiologia do Exercício. Em levantamento no diretório dos grupos de pesquisa do CNPq (http://www.cnpq.br/gpesq/apresentacao.htm), usando-se como palavra chave de busca, Fisiologia do Exercício, observam-se desde linhas de pesquisa muito abrangentes, como "Fisiologia do Exercício", "Impacto do exercício físico aeróbico e resistido, agudo e crônico sobre os sistemas fisiológicos de indivíduos saudáveis e indivíduos doentes" ou "Atividade física, aptidão física e saúde", que quase se caracterizam como áreas do conhecimento; até linhas muito delimitadas, como "Estudo das técnicas de avaliação física e antropométrica: análise crítica, interpretação e aplicação prática" ou "Estudo da variabilidade da frequência cardíaca em pacientes com fibromialgia - efeito do treinamento resistido", que quase se configuram como um projeto de pesquisa.

Apesar dessa grande imprecisão na definição das linhas e sua abrangência, é possível observar que as linhas de pesquisas em Fisiologia do Exercício se situam, em sua maioria, em investigações voltadas para um conhecimento mais aplicado. Estudos sobre as alterações fisiológicas geradas por um tipo específico de exercício físico, a avaliação de parâmetros fisiológicos durante o exercício, os efeitos do exercício físico relacionados à saúde ou ao desempenho físico-esportivo são temas frequentemente encontrados. Além disso, algumas linhas de pesquisa definem já em seu título a população alvo de estudo (crianças, adultos, idosos, sujeitos saudáveis, portadores de doenças, atletas e animais). O tipo de exercício ou de treinamento também tem sido incluído no tema de algumas linhas de pesquisa, como treinamento de força, treinamento aeróbio, ciclismo, caminhada, entre outros. Algumas vezes, o sistema orgânico que será investigado também é citado, ou seja, adaptações cardiovasculares, respiratórias, endócrinas, imunológicas, etc.

Para exemplificar, são apresentadas, a seguir, algumas das linhas mais comuns de pesquisa dentro da Fisiologia do Exercício: 1) efeitos do exercício/treinamento físico sobre os sistemas muscular e ósseo; 2) respostas cardiorrespiratórias ao exercício físico; 3) efeitos agudos e crônicos do exercício no sistema cardiovascular; 4) diagnóstico da aptidão aeróbia; 5) exercício físico e estresse oxidativo; 6) efeitos agudos e crônicos do exercício físico no sistema imune; 7) efeitos agudos e crônicos do exercício no sistema endócrino; 8) exercício físico e envelhecimento; e 9) exercício físico e doenças crônico-degenerativas.

 

Integração com o campo profissional

O conhecimento acadêmico-científico é primordial para uma formação profissional adequada e, principalmente, para o oferecimento de um serviço de qualidade para a sociedade. Assim, a relação entre a produção do conhecimento científico em Fisiologia do Exercício e o campo de atuação profissional da Educação Física e do Esporte deve ser considerada como uma etapa importante no processo de formação do futuro profissional.

Cabe lembrar que os conhecimentos oriundos da Fisiologia do Exercício podem não ser aplicados de forma direta na prática profissional, mas oferecem suporte para o conhecimento aplicado produzido por áreas como o Treinamento Esportivo e a Atividade Física para a saúde. Entender como o corpo humano funciona e como ele reage e se adapta frente aos estímulos oferecidos pela prática de exercícios físicos permite a busca por soluções mais adequadas para a melhoria da saúde e do rendimento físico-esportivo.

Segundo PLOWAN e SMITH (2009), o conhecimento oferecido pela Fisiologia do Exercício permite ao aluno de graduação: a) compreender como o exercício físico modifica o funcionamento fisiológico básico do organismo do ser humano em curto e longo prazo, conhecendo os mecanismos responsáveis por essas mudanças (o conhecimento da resposta normal permite reconhecer uma resposta anormal e adaptar-se a ela); b) proporcionar programas de educação física e esporte que estimulem o praticante tanto física quanto intelectualmente (os praticantes precisam compreender como o exercício físico pode beneficiá-los, porque são avaliados e como os resultados dessa avaliação podem ser utilizados); c) ser capaz de aplicar os resultados da pesquisa científica de forma a maximizar a saúde, a reabilitação e/ou o desempenho atlético em uma ampla variedade de populações; e d) ser capaz de responder com embasamento científico às questões e alegações da propaganda, bem como de reconhecer e reagir aos mitos e concepções errôneas sobre o exercício e a prática esportiva.

Portanto, o conhecimento cientificamente orientado permitirá ao profissional elaborar intervenções baseadas nas respostas fisiológicas previsíveis em curto, médio e longo prazos para obter os objetivos almejados. Além disso, ele será capaz de avaliar essas respostas e, se necessário, modificar a estratégia de intervenção.

 

Perpectivas futuras

A compreensão de como o corpo humano responde fisiologicamente a cargas agudas e crônicas de exercício físico evoluiu muito nos últimos 50 anos. Os grandes avanços nos recursos tecnológicos para pesquisa e a melhoria na qualidade e na quantidade de recursos humanos envolvidos com a produção do conhecimento na área da Fisiologia do Exercício foram fatores primordiais nesta evolução.

Atualmente, a Fisiologia do Exercício constitui uma área de pesquisa bastante abrangente que tem recebido influência de diferentes áreas e de novos métodos de investigação científica. Isto tem permitido uma maior velocidade na descoberta de mecanismos, inclusive em nível celular e molecular, o que era anteriormente impossível. Estudos que antes levavam dias para a coleta e tratamento dos dados hoje podem ser feitos em questão de horas. Até mesmo a confecção de manuscritos tornou-se mais veloz.

Com certeza, os próximos 20 anos irão apresentar uma evolução marcante e uma exploração ainda maior, em particular, em nível microscópico, molecular e genético dos eventos associados à adaptação do corpo humano ao exercício físico e à influência do meio ambiente.

Evidentemente, a transferência dos conhecimentos para a prática não é tão simples e depende de um bom entendimento da área. A simples produção de conhecimento não garante a melhoria na prática profissional. Muitos dos pesquisadores atuantes na Fisiologia do Exercício não possuem sua formação de origem na Educação Física ou no Esporte. Ao mesmo tempo em que isto é interessante para a expansão do conhecimento e da interdisciplinaridade, cuidado deve ser tomado para que este progresso no sistema de investigação não distancie a pesquisa em Fisiologia do Exercício dos problemas e necessidades acadêmicas e profissionais da Educação Física e do Esporte.

 

Referências

BORGES-ANDRADE, J.E. Em busca do conceito de linha de pesquisa. Revista de Administração Contemporânea, Curitib

Fisiologia aplicada ao rendimento esportivo: bases científicas do treinamento de alta performance

Posted: 14 Jan 2013 12:44 AM PST



A performance esportiva: equipe técnica e atletas na busca da otimização dos resultados

    A fisiologia do exercício pode ser definida como uma área que procura investigar como as estruturas e funções de nosso organismo se alteram quando realizamos o exercício agudo ou crônico, enquanto que a aplicação destes conhecimentos ao esporte, denomina-se fisiologia do esporte, uma subárea da fisiologia do exercício (WILMORE; COSTILL, 2001).

    Embora a publicação do primeiro livro de fisiologia do exercício intitulado Physiology of Bodily Exercise por Fernand LaGrange tenha ocorrido em 1889, somente no início do século XX foram feitas observações mais concretas a respeito da fisiologia do exercício, como por exemplo a relação entre produção de lactato e a contração muscular feita por Fletcher e Hopkins em 1907 (WILMORE; COSTILL, 2001). Outra contribuição relevante na década de 20 foi à determinação do consumo máximo de oxigênio (VO2max) por Hill e Lupton (1923), que passou a constituir um índice de referência da capacidade aeróbia.

    É difícil identificar a data em que o treinamento esportivo começou a ser estudado de forma científica. No entanto, na literatura atual há um consenso de que foi a partir dos estudos do método intervalado pelo fisiologista Reidell e o treinador Gerschller, na década de 50, que o treinamento esportivo passou a ter uma concepção científica (COSTA, 1968; BILLAT, 2001). Desde então, muitos pesquisadores têm dedicado sua vida profissional estudando o comportamento e a influência das diversas variáveis fisiológicas durante a performance esportiva (POWERS; HOWLEY, 2000).

    A partir dos anos 60 começou a ocorrer um avanço científico promissor com o aumento do número de laboratórios de fisiologia do exercício pelo mundo. Wasserman e Macllory (1964), baseados em um estudo utilizando indivíduos com patologias cardiovasculares, criaram a concepção de limiar anaeróbio, fenômeno estudado até hoje através de protocolos e metodologias distintas. Fisiologistas como Reidell e seus colaboradores, primeiros a descreverem o método de treinamento intervalado em um periódico científico em 1962, Per-Orlof Ástrand e o grupo de pesquisadores americanos liderados por Fox tiveram destaque na área (BILLAT, 2001). Segundo Wilmore e Costill, (2001), também se destacaram os pesquisadores escandinavos, como Bergstron, que introduziu a biopsia muscular e os americanos Holloszy e Tipton, que começaram a utilizar ratos em estudos bioquímicos, além de Edgerton e Gollinick que passaram a estudar as características das fibras musculares também com ratos.

    Atualmente, muitos parâmetros têm sido utilizados na avaliação, prescrição e determinação dos efeitos do treinamento aeróbio. Dentre os parâmetros que utilizam métodos diretos, destacam-se o limiar anaeróbio (Lan) e o consumo máximo de oxigênio (VO2max). O Lan ganhou destaque na área de treinamento esportivo devido, principalmente, ao rápido ajuste desse parâmetro frente a modificações do treinamento e à baixa correlação encontrada entre a quantificação do VO2max e a predição de performance aeróbia em competições (COSTILL et al., 1973; HAGBERG; COYLE, 1983). Além disso, é um método mais fidedigno em relação à validade ecológica do teste e que apresenta menor custo operacional, quando comparado ao VO2max. Apesar de ser invasivo, tanto o volume de sangue coletado (25 µl por amostra), como a utilização de procedimentos simples de higiene e assepsia, excluem do teste pela lactacidemia qualquer risco à saúde de avaliadores e avaliados, o que normalmente conduz à aceitação de comitês de ética em pesquisa (DENADAI, 2000).

    Uma tendência atual é a utilização dos parâmetros de avaliação, principalmente do Lan, para quantificar as cargas durante o treinamento, classificando o esforço em diferentes faixas de intensidade: aeróbia, que corresponde ao exercício prolongado de baixa intensidade, em estado estável; aeróbia-anaeróbia, que seria no limite do estado estável, tendendo ao débito de oxigênio; e em débito de oxigênio, com exercício realizado e ritmo intenso. Esta idéia é sem dúvida um grande avanço para quantificar melhor a intensidade para realização do exercício, tanto contínuo como intermitente.

    Atualmente, as informações acerca do estudo da fisiologia aplicada ao rendimento esportivo podem ser obtidas com extrema facilidade em bases de dados da internet. A criatividade e acima de tudo a tecnologia disponível nos centros de excelência de pesquisa em performance atlética permitem que os estudiosos da área desenvolvam equipamentos sofisticados capazes de simular uma competição e então verificar as respostas do corpo humano frente a uma situação de estresse que exige desempenho máximo. Contudo, existe uma diferença considerável entre o que se pesquisa e o que pode ser aplicável à prática.

    Apesar deste longo período de pesquisas e avanços científicos na área de treinamento, os profissionais que trabalham no âmbito esportivo ainda enfrentam dificuldades para maximizar as capacidades físicas, técnicas e táticas dos seus atletas.

    Dentre os tópicos estudados na fisiologia aplicada ao desempenho atlético, destacam-se os procedimentos fisiológicos, físicos, táticos, técnicos, nutricionais (ergogênicos), biomecânicos, psicológicos e farmacológicos, que utilizados de forma separada ou em conjunto, são capazes de aprimorar a capacidade de realizar trabalho físico.

    Porém, a aplicação desses recursos não garante resultados positivos a todos os atletas, já que estes apresentam características fisiológicas, habilidades técnicas, comportamentos psicológicos e históricos de vidas diferentes. Mesmo sendo possível selecionar uma população de mesmo sexo, idade e aptidão física, e ainda, impor uniformidade de treinamento, moradia e dieta, numa tentativa de aproximar as características e eliminar ao máximo as diferenças individuais, ainda não seria possível, encontrarmos indivíduos com características genéticas e psicológicas idênticas.

    Embora, atualmente se conheça muito a respeito da importância da individualização da prescrição do treinamento para atletas de alto nível, devido à heterogeneidade intra-indivíduos, faz-se necessário uma reflexão crítica a respeito dos inúmeros estudos publicados e empregados em treinamento esportivo. Treinamento esportivo de alta performance: conhecimento científico e prático auxiliando o desempenho do atleta.

    Hopkins et al., (1999), preocupados com o número excessivo de estudos relacionados ao desempenho físico de atletas de alto nível, atentam para os cuidados com este tipo de população. Por exemplo, segundo os autores, é necessário que se aprofundem os conhecimentos em relação à utilização dos inúmeros testes empregados na avaliação esportiva. Muitas vezes os testes utilizados são questionáveis, pois a performance obtida durante o teste no laboratório não condiz com a obtida durante o evento competitivo. Outrora, os atletas selecionados para as pesquisas possuem características fisiológicas extremamente distintas de atletas de alta performance.

    Desse modo, os autores aconselham que as pesquisas sejam realizadas da forma mais fidedigna possível, ou seja, que se aproximem ao máximo do cotidiano de treinamento e competitivo dos atletas em questão. Assim, os resultados adquiridos nos estudos poderão ser utilizados com confiabilidade pelos interessados no assunto.

     Não existe um consenso quanto qual dieta, avaliação e programa de treinamento devem ser utilizados. Porém, quando se trata de performance esportiva, todas as informações científicas disponíveis quanto à modalidade em questão devem ser analisadas, contudo, é necessário conhecê-las e entender que estas podem se apresentar diferentemente sob condições alteradas (como por exemplo, durante a competição, estádio lotado, risco de perda e rebaixamento da equipe em um campeonato) e determinadas circunstâncias (como por exemplo, após instrução prévia do técnico, diferença de piso ou temperatura). Entretanto, se utilizadas de forma correta, elas são de extrema importância e atuam como diferencial entre os atletas que conquistarão recordes e aqueles que apenas participarão da competição.

    A formação da comissão técnica de uma equipe depende muito da modalidade, contudo, se torna imprescindível à presença de um treinador, um preparador físico e um psicólogo do esporte. Com relação à forma de trabalho dos treinadores ou da comissão técnica, tudo depende do equilíbrio entre conhecimento e infra-estrutura, não adianta uma equipe possuir a melhor tecnologia se não possui mão de obra capacitada para utilizá-la, o contrário também é verdadeiro, aquele treinador que obtém sucesso apenas com a disponibilidade de equipamentos sofisticados não interessará a uma equipe com infra-estrutura inferior.

    Assim sendo, se torna imprescindível a qualquer profissional que atua no âmbito esportivo, conhecer as perspectivas e novidades existentes nesta área, e posteriormente, obter uma opinião crítica no que diz respeito à otimização do rendimento esportivo, bem como de sua interface com outras áreas de conhecimento.

     Uma das questões mais relevantes quando tratamos de estratégia de programa de treinamento está no conhecimento do esporte no qual se pretende trabalhar. Independente de ser individual ou coletivo, a determinação das características fisiológicas do esporte é fundamental para a padronização de um tipo de treinamento que abranja à demanda energética exigida na modalidade ou competição (TUMILTY, 1993; REILLY, 1996; SMEKAL et al., 2001; STEPTO et al., 2001; BILLAT et al., 2003).

    Os mesmos autores citados acima enfatizam a necessidade de um bom preparo físico, e não descartam a importância da habilidade individual, como condição fundamental na performance, principalmente nos esportes individuais. Por isso, deve existir uma preocupação tanto com o preparo físico, como com a técnica de movimento.

    Outro detalhe importante quando se trata de alcançar os melhores resultados é conhecer as características de uma competição antecipadamente. Estudar a equipe adversária, as características climáticas e ambientais da prova (terreno, clima, altitude, etc.), traçar a melhor estratégia a ser utilizada no dia do evento são algumas alternativas que podem ser utilizadas para melhoria da performance. Atualmente, tanto no esporte individual quanto no coletivo, existe a preocupação de avaliar o histórico do desempenho competitivo dos adversários através de análises de vídeos. A utilização da filmagem permite analisar os movimentos realizados durante a partida e quantificar melhor as ações dos atletas seja para prescrever treinamento ou tática de jogo para neutralizar o adversário. A utilização da informática no voleibol, por exemplo, permite analisar a estratégia e as principais jogadas do adversário e utilizá-las ainda durante o jogo.

    Outro aspecto relevante é a escolha dos testes laboratoriais, que na maioria das vezes não representam a situação real de uma partida ou de um evento competitivo. As condições ambientais muitas vezes são imprevisíveis, contudo, é importante que as condições destas variáveis durante a avaliação reflitam ao máximo o que ocorre durante a competição. O fator psicológico é outra variável que dificilmente pode ser avaliada fidedignamente em laboratório, e durante um evento pode fazer grande diferença.

    Estudos de Westom et al. (2001) e Chapman et al. (1998) são alguns exemplos de pesquisas com a preocupação da aclimatação dos atletas antes da competição. Ambos se preocuparam em estudar qual seria a melhor estratégia para competir em um evento com diferenças de altitude. Segundo estes autores, a escolha do dia da chegada para competir interfere consideravelmente na performance. Devido a isso, muitos testes têm sido conduzidos em câmaras hipobáricas para simular as condições de provas realizadas em grandes altitudes, ou então, um período da preparação física do atleta é realizada nas condições de altitude da prova.

     Conhecer em detalhes a modalidade esportiva é dever do treinador que objetiva trabalhar com performance. Hausswirth et al. (2001) analisando o efeito de duas modalidades de drafting (continuous drafting e alternate drafiting cada 500m) no ciclismo, popularmente conhecido como vácuo, durante uma prova de triathlon verificaram maior performance na corrida para o ciclista que realizou o continuous drafting. Esse resultado demonstra que a montagem de uma estratégia de corrida pelo treinador, na qual um dos atletas possa realizar o drafting durante o evento, pode determinar a diferença entre o vencedor e os outros participantes.

    A biomecânica é outra área que tem colaborado, seja pela escolha dos melhores ângulos das articulações para a realização dos movimentos ou pela análise dos mesmos durante a competição para auxiliar na prescrição do treinamento. Papoti et al. (2003) desenvolveram um protocolo específico, com a utilização de células de carga, capaz de determinar a performance anaeróbia de nadadores.

    O avanço na nutrição esportiva, através da elaboração de recursos ergogênicos, também tem colaborado com o avanço da performance esportiva (BRUCE, 2000; BELL et al., 2002; IZQUIERDO et al., 2002; UTTER et al., 2002). Contudo, alguns cuidados quanto o manuseio, preparo, armazenamento e consumo destas substâncias se tornam necessários para atingir otimização e não oferecer riscos à saúde do seu atleta. Além disso, o conhecimento adequado das dosagens permitidas, assim como das substâncias permitidas pelo Comitê Olímpico Internacional são extremamente importantes.

    Outro fato ligado ao alto rendimento é o marketing esportivo. Como sabemos, muitas empresas investem milhões em campanhas publicitárias que têm como garotos propaganda nomes consagrados do esporte mundial. Nesse contexto, em que o esporte é sinônimo de business, a criação de centros de treinamentos especializados e a contratação não só de um único profissional, mas sim, de uma equipe de especialistas se tornou necessária para as equipes de ponta.

    A incorporação de uma equipe multidisciplinar é evidente quando se lida com indivíduos que almejam o lugar mais alto no pódio. Nesse aspecto, independente da categoria de esporte, a presença de pessoas especializadas se torna necessária. Fazendo parte dessa equipe multidisciplinar estão diversos profissionais, muitas vezes trabalhando em empresas responsáveis pela criação de material esportivo.

    Com isso, materiais e equipamentos vêm sendo elaborados por especialistas (biomecânicos, fisiologistas, entre outros) e estudados em situações laboratoriais e em competições reais com o objetivo de melhorar a performance. O trabalho de Roberts et al. (2003) é um dos estudos atuais que avalia a eficiência do uso de diferentes trajes aquáticos na performance de natação. A roupa de pele de tubarão tem ajudado nadadores a melhorarem suas marcas. A utilização da fibra de carbono permitiu a melhora do rendimento nas provas de ciclismo, no salto em altura e no lançamento de dardo no atletismo. O uso da radiotelemetria, para monitorar a freqüência cardíaca e o consumo de oxigênio a distancia favorece a obtenção de índices fisiológicos que facilitam a preparação física do atleta. Este mercado esta cada vez mais emergente, já que as empresas preocupadas em estampar sua logomarca nos melhores atletas investem pesado em tecnologia e mão de obra especializada. Este fator tem auxiliado na obtenção de novos recordes.

    Entretanto, a cobrança de melhores resultados pela equipe e por parte dos investidores faz do treinamento e da competição, condições não existentes na vida humana normal e, dificilmente podem ser exploradas de forma idêntica em condições laboratoriais. Sendo assim, é importante a presença de um profissional da psicologia do esporte, para trabalhar junto aos atletas e comissão técnica, simulando e entendendo situações que possam intervir no comportamento como, por exemplo, estresse, emoção, sucesso, derrota, entre outras pertinentes ao contexto esportivo (WEINBERG; GOULD, 2001).

    Apesar das longas horas de treinamento com grande desgaste orgânico, visando aprimorar o condicionamento físico, técnico e tático da performance, os resultados de todo o trabalho dependem muito e diretamente da condição psicológica dos atletas. Um planejamento adequado para o aspecto psicológico otimiza a relação atleta-esporte e, conseqüentemente, a mobilização de todo o potencial físico-mental-emocional dos atletas para competição.

    Com todo este suporte científico, a cada ano, observa-se progresso no desempenho em quase todas as atividades atléticas. Esses progressos em geral são atribuídos a uma série de fatores já citados acima: melhor dieta, melhor equipamento atlético e abordagens científicas mais sistemáticas e especializadas ao treinamento atlético e ao condicionamento físico. Por isso, é fundamental que o treinador possa ter acesso às fontes científicas para se manter atualizado, principalmente nas modalidades individuais em que milésimos de segundos podem separar o primeiro do último colocado.

    Quanto aos testes para determinação de intensidades ótimas de treinamento utilizados em várias esferas esportivas, podendo ser identificadas através de inúmeras metodologias. Dentre as quais, podemos citar a avaliação por parâmetros sanguíneos ou ventilatórios, aplicados de forma indireta ou direta, e ainda, realizados em campo ou em laboratório. Dessa forma, mesmo podendo existir controvérsias com relação a um número grande de protocolos e metodologias aplicadas, é importante o conhecimento científico e prático, visando selecionar o melhor teste na avaliação de atletas.

    Acredita-se que o melhor treinador ou comissão técnica é aquele que se adapta as condições de trabalho. Contudo, existem certas atitudes que podem ser desenvolvidas em qualquer ambiente. O trabalho deve ser o mais individualizado possível. Dessa forma, se não há possibilidades em prescrever e avaliar o treinamento pelo método mais sensível, que seja realizado ao menos a partir de um teste não invasivo validado. Nem toda a equipe, não importa a modalidade, dispõe de um analisador de gases para verificar o consumo máximo de oxigênio (VO2max), de um lactímetro para verificar a resposta do lactato frente ao exercício ou até de um monitor cardíaco.

    No entanto, qualquer treinador tem condição de possuir uma fita métrica, cones e cronômetro podendo realizar testes indiretos e não invasivos para mensurar, por exemplo, a resistência aeróbia e anaeróbia (teste de Cooper, Potência Crítica), força (teste de flexão e abdominal), capacidade de saltar (teste de salto vertical e horizontal); entre outros. Além disso, principalmente nos esportes coletivos, é importante que os treinos sejam diferenciados de acordo com a função que o atleta desempenha durante uma partida.

    Uma alternativa inteligente para os clubes localizados próximos às universidades que tenham o curso de Educação Física ou afins seriam os convênios, ou seja, os atletas dos clubes podem ser avaliados como participantes para pesquisas da universidade, enquanto que a comissão técnica obtém dados científicos e fidedignos que auxiliam na preparação de seus atletas. O grande problema quanto a esta prática é que existe, principalmente por parte dos treinadores, preparador físico e dirigente, um receio de que os pesquisadores possam prejudicar os seus trabalhos ou até se interessarem por seus cargos. Esse conflito, na grande maioria dos casos, desaparece assim que se estabelecem os objetivos comuns, exigência da parceria.

    Dessa maneira, a otimização do rendimento esportivo de qualquer atleta depende da capacidade do treinador se adaptar a sua realidade de trabalho e utilizar, da melhor maneira, os recursos disponíveis. Não podemos negar que existe uma relação diretamente proporcional entre o nível competitivo do atleta e os recursos de treinamento, ou seja, quanto mais treinado for o atleta maior será a necessidade de utilizar ferramentas sensíveis de avaliação e prescrição do treinamento.

    Pelo exposto não é estranho que tenhamos dificuldade para traçar um programa ideal de treinamento. Mas obter o conhecimento de variáveis que podem interferir ou auxiliar no rendimento do atleta pode ajudar na escolha de protocolos de avaliação e a determinar a melhor estratégia de treinamento para seu atleta.

    Assim, ao bom treinador é essencial o conhecimento científico e prático da modalidade esportiva que se deseja trabalhar. A estratégia a ser utilizada, dependerá muito dos recursos que a equipe ou treinador tem no momento. A utilização de equipamentos sofisticados para fazer as avaliações não faz parte da realidade de muitos treinadores. Mas a aplicação de um treinamento individualizado se torna importante tanto para os esportes coletivos como para os individuais, na medida que existem diferenças individuais em resposta a um mesmo treinamento. Por isso, a otimização do treinamento não dependerá de apenas um fator. A dedicação do treinador, do atleta, e de uma equipe multidisciplinar auxiliando nas diversas áreas relacionadas ao esporte deve ser a chave para se obter melhores e crescentes rendimentos.

Apoio Financeiro: Fapesp (processo número 04/15241-4) e Capes.


Referências

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Autor: Adelino Sanchez Ramos da Silva*
José Rodrigo Pauli**
Cláudio Alexandre Gobatto*
adelinosanchez@hotmail.com
(Brasil)
 

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