EDUCAÇÃO FÍSICA DO PROFESSOR WILLIAM PEREIRA

Este blog é a continuação de um anterior criado pelo Professor William( http://wilpersilva.blogspot.com/) que contém em seus arquivos uma infinidades de conteúdos que podem ser aproveitados para pesquisa e esta disponível na internet, como também outro Blog o 80 AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA (http://educacaofisica80aulas.blogspot.com/ ) que são conteúdos aplicados pelo Professor no seu cotidiano escolar.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Notícias da Educação Física

Notícias da Educação Física


Artigo - Intensidade de sessões de treinamento e jogos oficiais de futebol

Posted: 26 Dec 2012 01:47 AM PST


Introdução

A medida da freqüência cardíaca (FC) é usada como método válido e prático para se estimar a demanda fisiológica durante diversas atividades, inclusive no futebol (BANGSBO, 1994; CAPRANICA, TESSITORE, GUIDETTI & FIGURA, 2001; ESPOSITO & IMPELLIZZERI, 2004). Com o desenvolvimento de monitores portáteis de FC que armazenam as informações sem a necessidade da utilização de monitores de pulso, o que é proibido pelas regras desse esporte, tornou-se possível a caracterização da demanda fisiológica associada com os jogos. De fato, diversos estudos identificaram a intensidade de esforço (IE) dos jogos de futebol com o uso da FC (ALI & FARRALLY, 1991; HELGERUD, ENGEN, WISLOFF & HOFF, 2001; MOHR, KRUSTRUP, NYBO, NIELSEN & BANGSBO, 2004; O'CONNOR, 2002; TUMILTY, 1993). O conhecimento mais detalhado da IE na qual os atletas de futebol realizam suas atividades durante o jogo é importante para que os treinamentos sejam aperfeiçoados, o que poderia levar a um melhor desempenho nos jogos. Esse fato justifica o crescente interesse dos pesquisadores sobre esse tema (WILMORE & HASKELL,1972).

Geralmente os programas de treinamento no futebol são estruturados para incorporarem três principais áreas: tática, técnica e física (FLANAGAN & MERRICK, 2002). Apesar de freqüentemente serem realizadas sessões de treinamento direcionadas para cada uma dessas áreas, é possível integrá-las em um treinamento, poupando tempo e propiciando o desenvolvimento integral e específico dos atletas (BANGSBO, 1994; HOFF, WISLOFF, ENGEN, KEMI & HELGERUD, 2002).

No entanto, cada tipo de treinamento irá determinar uma demanda fisiológica específica aos jogadores. Por isso é essencial quantificar a demanda fisiológica nas sessões de treinamento para que os pesquisadores e treinadores possam aplicar de forma correta cada tipo de treinamento (ENISELER, 2005).

Na preparação física, a intensidade das atividades é um dos principais componentes da sobrecarga e determina quase sozinha a existência ou não de adaptações positivas (DENADAI, 2000). Assim, um dos objetivos dos programas de treinamento no futebol é regular adequadamente a intensidade do treinamento (SASSI, REILLY & IMPELLIZZERI, 2004). Diante disso, alguns estudos investigaram métodos de treinamento para os futebolistas. HELGERUD et al. (2001) avaliaram a intensidade de esforço em jogos realizados antes e após um período de quatro semanas de treinamento aeróbio intervalado intensivo a 95% da freqüência cardíaca máxima (%FCmáx), e verificaram que a intensidade foi maior após o treinamento. MACHADO, SANZ e CAMERON (2003) concluíram que a adição do treinamento contínuo no limiar de lactato aumenta o desempenho de jogadores de futebol. No entanto, mesmo que os treinamentos sugeridos pelos estudos citados tenham surtido efeitos positivos de adaptação ao treinamento, os métodos utilizados não foram os mais específicos para atletas de futebol.

Os programas de treinamento com objetivo de preparação física para jogadores de futebol deveriam incluir atividades físicas específicas, tais como jogos modificados e jogos treino contra times oponentes com o objetivo de simular as situações reais de jogo (ENISELER, 2005). Seguindo essa recomendação e considerando a intensidade como parâmetro determinante, alguns estudos investigaram sessões de treinamento em campo reduzido (CAPRANICA et al., 2001; HOFF et al., 2002; IMPELLIZZERI, RAMPININI & MARCORA, 2005; MILES, MCLAREN, REILLY & YAMANAKA, 1993; REILLY & WHITE, 2004; SASSI, REILLY & IMPELLIZZERI, 2004), freqüentemente utilizados pelos treinadores e preparadores físicos. Entretanto, além de serem poucos os estudos disponíveis na literatura sobre esse tema, diferentes metodologias foram empregadas, com variações no número de jogadores, jogos femininos, masculinos e mistos. Além disso, alguns estudos não indicaram a IE dos treinamentos em valores individualizados em %FCmáx, como recomendado (KARVONEN & VUORIMAA, 1988), o que dificulta comparações e até mesmo a aplicação prática.

Portanto, o objetivo desse estudo foi identificar e comparar a IE de duas sessões de treinamento (coletivo e campo reduzido), freqüentemente utilizadas no futebol profissional masculino, com a IE de jogos de uma competição oficial de futebol, representada como o monitoramento da FC em valores individualizados apresentados em %FCmáx e também em batimentos por minuto (bpm).

 

Métodos

Amostra

Participaram do estudo 26 atletas do sexo masculino, da categoria juvenil, pertencentes a um clube da primeira divisão do futebol brasileiro, que mantém treinamentos regulares e participação em competições reconhecidas pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Entretanto, para a análise dos dados foram utilizados apenas os atletas que participaram durante todo o tempo dos jogos oficiais e dos treinamentos avaliados. Dessa forma, oito atletas foram selecionados. As características desses atletas estão descritas na TABELA 1. Destes atletas, dois eram pertencentes a cada posição desempenhada por eles em campo, que eram as posições de atacante, zagueiro, lateral e meio-campo.

 

 

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (COEP) da Universidade Federal de Minas Gerais (ETIC-476/2004) e respeitou todas as normas estabelecidas pelo Conselho Nacional da Saúde (Res. 196/96) envolvendo pesquisas com seres humanos. Todos os atletas voluntários assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido onde confirmaram estarem cientes dos objetivos e métodos utilizados e da possibilidade de abandonar o estudo a qualquer momento sem a necessidade de justificativa.

Procedimentos

A FC dos jogadores foi medida e registrada durante duas sessões de treinamento (coletivo e campo reduzido) e durante seis jogos de uma competição oficial. Todos os atletas tiveram a FC registrada nos treinamentos e em pelo menos quatro dos seis jogos oficiais. As FCs médias dos treinamentos foram comparadas com as FCs médias dos jogos oficiais. A FC média dos jogos avaliados foi considerada como %FCmáx e valores absolutos em bpm.

Os jogos oficiais transcorriam de acordo com as regras oficiais da CBF, para esta categoria, que consistia em dois tempos de 40 minutos, mais acréscimos se necessário, em campo gramado com medidas oficiais.

O treinamento coletivo foi realizado com número de atletas de um jogo normal, 11 contra 11 e no campo com medidas padrão. A duração desta atividade foi de 50 minutos.

O treinamento em campo reduzido foi realizado por três equipes com oito atletas em cada, em um espaço correspondente a um quarto das medidas de um campo de futebol oficial. Esta atividade foi contínua, dividida em cinco fases de 10 minutos, sendo interrompida rapidamente somente para a troca das equipes, tendo em vista que jogavam duas por vez, e com reposição de bola constante pelos companheiros de time que não estavam jogando. Os atletas deste estudo participaram de quatro das cinco fases da atividade.

Para a medida e registro da FC, utilizou-se um conjunto de cardiofreqüencímetros (Polar® Electro Oy, Polar Team System, Finland). Esse equipamento permite o registro da FC durante uma atividade sem a utilização de um monitor de pulso, o que é proibido em jogos pelas regras do futebol por oferecer risco a integridade do atleta, de seus companheiros e adversários. A taxa de amostragem de FC registrada foi de 5 s em 5 s.

Os cardiofreqüencímetros foram colocados junto ao peito dos jogadores antes do início dos jogos e dos treinamentos. Ao término das atividades, eles eram recolhidos pelo pesquisador. Posteriormente os dados armazenados eram transferidos para um computador por meio de um aparelho interface, catalogados e analisados no "software" Polar Precision Performance SW 3,0.

Foram avaliadas as FC do primeiro e segundo tempo dos jogos oficiais e dos treinamentos para a determinação da FC média de cada atividade.

A FCmáx foi determinada como a maior FC encontrada dentre as duas situações descritas a seguir:

1. Teste para a estimativa do consumo máximo oxigênio (VO2máx) (MARGARIA, AGHEMO & PIÑERA LIMAS, 1975): consistiu em percorrer uma distância pré-determinada em terreno plano no menor tempo possível. No presente estudo utilizou-se a distância de 2400 m em um local já conhecido pelos atletas;

2. FCmáx durante os jogos avaliados: a maior FC de cada jogador registrada ao longo dos jogos avaliados neste estudo foi considerada como a FCmáx durante os jogos (ANTONACCI, MORTIMER, RODRIGUES, COELHO, SOARES & SILAMI-GARCIA, 2007).

A FCmáx determinada foi utilizada para a relativização da IE, representada como a FC registrada nos jogos e treinamentos.

Análise estatística

Para a análise dos dados foi aplicada uma Análise de Variância de um fator ("one-way") seguida do teste de "post-hoc" de Tukey, quando apropriado. Os dados referentes ao monitoramento da FC são apresentados como média e erro padrão. O nível de significância adotado foi p < 0,05.

 

Resultados

Como mostra a TABELA 2, a IE registrada durante os jogos da competição oficial foi maior em comparação com a IE registrada durante o treinamento coletivo. Não houve diferença entre a IE dos jogos da competição oficial e a IE do treinamento em campo reduzido.

 

 

O monitoramento da FC nas três situações avaliadas foi ilustrado em seus respectivos gráficos que foram, Jogos oficiais (FIGURA 1), coletivos (FIGURA 2) e campo reduzido (FIGURA 3).

 

 

 

 

 

 

Discussão

Identificou-se no presente estudo que a IE, representada como bpm e %FCmáx, foi menor em jogos coletivos de futebol, freqüentemente utilizados para treinamentos, em comparação com jogos oficiais desta modalidade. Já o treinamento em campo reduzido produziu valores de FC semelhantes aos valores de FC dos jogos oficias. Essa característica se manteve quando os valores de FC foram apresentados em bpm ou %FCmáx.

A partir dos resultados obtidos pôde-se identificar que as sessões de treinamento avaliadas foram realizadas em uma IE intermediária (70-85 %FCmáx) para atletas de futebol (COELHO, 2005; HELGERUD et al., 2001), e consideradas como alta para indivíduos saudáveis (ACSM, 1998).

Entretanto, HOFF et al. (2002) registraram uma IE de 91,3 %FCmáx em um jogo em campo reduzido com duas equipes compostas por cinco jogadores cada e com constante reposição de bola. É possível que a menor IE encontrada no presente estudo seja devido ao maior número de atletas em cada equipe em comparação com HOFF et al. (2002). Com isso, os jogadores teriam uma menor participação efetiva no jogo, o que diminuiria a IE realizada por cada atleta. Esse fato foi descrito por SASSI, REILLY e IMPELLIZZERI (2004), que registraram uma maior IE no treino com equipes compostas por quatro jogadores em comparação com o treino com equipes compostas por oito jogadores.

Além de HOFF et al. (2002), outros estudos investigaram a IE de jogos de futebol em campo reduzido. CAPRANICA et al. (2001) identificaram a IE realizada por jogadores de futebol de 11 anos de idade, enquanto MILES et al. (1993) registraram a IE em um jogo feminino com quatro jogadoras. No entanto, a IE avaliada nos dois estudos citados foi apresentada em valores absolutos de FC e não em valores relativos de %FCmáx, como recomendado (KARVONEN & VUORIMAA, 1988), dificultando a comparação com o presente estudo.

Os resultados do presente estudo diferem do estudo de ENISELER (2005), que encontrou valores de FC menores em treinamentos em campo reduzido (135 ± 28 bpm) em comparação com jogos oficiais (157 ± 19 bpm). Essa diferença pode ser devido ao fato de que ENISELER (2005) utilizou 11 jogadores em cada equipe, ao contrário do presente estudo que utilizou oito jogadores. Como demonstrado por SASSI, REILLY e IMPELLIZZERI (2004), um número maior de atletas nos jogos em campo reduzido faz com que a IE do treinamento diminua. Além disso, a IE registrada por ENISELER (2005) no treinamento em campo reduzido (135 ± 28 bpm) foi menor em comparação com o presente estudo (157 ± 5 bpm e 79 ± 2,6 %FCmáx). No entanto, essa comparação torna-se difícil já que ENISELER (2005) também não apresentou os resultados em valores relativizados como %FCmáx, o que seria mais adequado (KARVONEN & VUORIMAA, 1988).

De acordo com BARBANTI, TRICOLI e UGRINOWITSCH (2004), seria interessante para o desempenho em uma modalidade esportiva, que a IE do treinamento fosse similar ou maior do que aquela imposta nas situações de competição. Portanto, a semelhança entre as IEs do treinamento em campo reduzido e dos jogos oficiais registradas no presente estudo sugere que um estímulo específico de treinamento aeróbico para essa modalidade foi alcançado nesta atividade. Já ESTEVELANAO, FOSTER, SEILER e LUCIA (2007) não identificaram que as altas intensidades fossem fatores determinantes no aumento do rendimento de corredores espanhóis de meio-fundo, ao monitorar grupos que treinaram com programas com intensidades diferentes por um longo tempo (cinco meses). Deve-se considerar a diferença entre as especificidades da modalidade avaliada no presente estudo, classificada como intermitente de altaintensidade relativo também a fatores como força e velocidade determinantes, e as corridas.

Tendo sido identificado que a IE dos treinamentos em campo reduzido representada em valores absolutos e relativizados não foi diferente da IE de jogos oficiais, supõe-se como implicação deste achado, que estas atividades podem representar um estímulo de treinamento aeróbio semelhante (HOFF et al., 2002) ou, às vezes, até mais intenso e específico para o futebol em comparação com outros tipos de treinamentos, como o treinamento aeróbico intervalado (SASSI, REILLY & IMPELLIZZERI, 2004). Pode-se sugerir também que jogos em campo reduzido podem substituir em parte este tipo de treinamento, com o objetivo de manter o condicionamento físico durante a temporada competitiva (REILLY & WHITE, 2004).

Já o treinamento coletivo produziu uma IE menor em comparação com os jogos oficiais. Mesmo essa sendo uma atividade comumente utilizada nos treinamentos e de grande valor para o aperfeiçoamento técnico e tático dos jogadores, pode não representar um estímulo tão eficiente no aperfeiçoamento e manutenção da capacidade aeróbia.

 

Referências

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Métodos e sistemas no treinamento de força

Posted: 26 Dec 2012 01:43 AM PST


O treinamento de força atualmente exerce um papel importante no condicionamento físico geral, na performance esportiva, na reabilitação de lesões e no aumento da massa muscular. Para se chegar aos objetivos desejados, existem diversos métodos e sistemas de treinamento, o que gera muita polêmica sobre a superioridade de um sobre o outro.
 
Porém, esta questão deve ser vista com muito cuidado, pois existem poucos estudos sobre os vários métodos, e dificilmente alguém poderá afirmar que um é melhor que o outro. O que ocorre muitas vezes é que uma pessoa pode responder melhor ou pior a um determinado sistema, o que não significa que ele seja "o melhor ou o pior", mas que este indivíduo respondeu de forma mais positiva ou negativa; afinal, quando falamos do aumento de massa muscular ou força, muitas variáveis devem ser levadas em consideração, e não somente o treinamento.
 
O método de treinamento é uma categoria fundamental do processo de treinamento, pois é através dele que utilizaremos os exercícios específicos para obter resultados previamente planejados, ou seja, é a forma que se utiliza um determinado meio para atingir uma determinada direção. Sendo que, a seleção do método está ligada a direção do efeito potencial conseguido e este deverá estar de acordo com o efeito previamente planejado.
 
Este artigo apresenta alguns métodos usados no treinamento de força voltado para hipertrofia, e possíveis explicações para seus mecanismos de atuação e manipulações para maximizar seus resultados.
 
Antes de aplicá-los, é importante conhecê-los e ter consciência de usá-los racionalmente, na pessoa correta e no momento adequado. Pois o método só será eficaz se considerado três questões: a quem se destina, quando aplicá-lo e o que se quer obter desse método, isto é, qual a tarefa que será resolvida por ele (aumentar a força máxima, resistência muscular, hipertrofia muscular e outros).
 
 
Método Isotônico
 
Para o desenvolvimento da força através do método isotônico utiliza-se de 90 a 100 por cento da força máxima do grupo muscular a ser desenvolvido, utilizando-se de 4 a 6 grupos, tendo cada um deles de 1 a 4 repetições, dependendo do percentual de peso utilizado para o desenvolvimento de força pura. No treinamento de força pura, é necessário que a musculatura esteja bem recuperada para que o trabalho se realize em níveis ótimos.
 
No trabalho de hipertrofia muscular devem ser utilizados 3 a 6 séries com 5 a 15 repetições. O descanso entre a realização das séries será de 30 segundos a 5 minutos, variando em função do esforço desenvolvido. Os efeitos produzidos por este treinamento se apresentam com o aumento da seção transversa do músculo com também o aumento da força muscular dinâmica, sendo esse um dos melhores métodos para esse desenvolvimento.
 
A principal desvantagem do método isotônico é que se for empregada tensão isotônica em todo o percurso do movimento, somente em um ponto se atingirá a tensão máxima.
 
O método isotônico pode ser subdividido em:
 
1 – Método das Múltiplas Séries - força, hipertrofia, resistência muscular e potência)
 
Neste método utilizam-se mais de uma série por grupo muscular (sendo 2 ou 3 séries de aquecimento com cargas sucessivamente maiores, seguidas por várias séries com a mesma carga), e esse número depende do objetivo e do estado de treinamento do praticante. Não há regra exata sobre o número de séries, repetições ou exercícios.
 
Essas variáveis serão ministradas conforme o tipo de treinamento, seja para aumento da massa muscular, resistência muscular, potência ou força máxima.
 
Se o objetivo do treinamento for hipetrofia muscular, deve-se utilizar em média de 2 a 4 séries de 8 a 12 repetições, com cargas próximas às repetições máximas (de 70 a 90%) – dependendo no nível de adaptação do aluno – e utilizar um intervalo entre as séries de 1 minuto e 30 segundos a no máximo 2 minutos.
 
No entanto, se o objetivo for desenvolver a força máxima, o número de séries deve ser superior ao citado acima (de 4 a 6 séries), variando entre 2 a 6 repetições e com um percentual de carga superior a 85% de 1RM (repetição máxima), utilizando um intervalo de no mínimo 3 minutos. Entretanto este treinamento deve ser realizado por indivíduos que já tenham um nível de adaptação no treinamento de força, ou seja, não deve ser utilizado por iniciantes.
 
 
2 – Método da Pirâmide - (força e hipertrofia)
 
A pirâmide pode ser de dois tipos: crescente e decrescente.
 
- Pirâmide Crescente
 
Atualmente, a pirâmide crescente é usada com repetições máximas ou submáximas – sem a preocupação aparente de não gerar fadiga – com uma progressiva diminuição das repetições e aumento das cargas. Desta forma, a pirâmide crescente consiste em aumentar a carga e diminuir o número de repetições ao longo da série.
 
É comum ver a indicação deste método para ganhos de força ou como meio de se treinar com cargas altas. Tal prática sugere que, com a pirâmide, haja preparação para o uso de cargas elevadas, por meio do aquecimento da musculatura, tornando-a mais apta e preparada para as séries finais.
 
Estudos recentes mostram que o uso de pirâmide crescente não produz vantagens adicionais para o ganho de força, sendo superada por diversos outros métodos. Com relação à hipertrofia, também se deve ter cuidado na aplicação da pirâmide, mantendo as repetições dentro de níveis controlados (como de 12 a 8). Caso contrário, corre-se o risco de gerar estímulos muito divergentes e em quantidade insuficiente para potencializar as adaptações necessárias para a hipertrofia (Gentil, 2005).
 
A aplicação mais recomendada da pirâmide seria como artifício didático, como nos casos de alunos que estejam treinando com repetições altas há muito tempo e sintam dificuldade em utilizar repetições baixas e cargas altas. Nesses casos, as séries em pirâmides poderiam servir como preparação psicomotora.
 
- Pirâmide Truncada Crescente
 
Esse método é a cópia do método pirâmide crescente, sendo que o indivíduo não necessita chegar aos 100% da força máxima do grupamento muscular, podendo atingir até aos 90% dessa força máxima (Rodrigues e Carnaval, 1985).
 
- Pirâmide Decrescente
 
Na pirâmide decrescente utilizada atualmente, realiza-se um pequeno número de repetições como cargas elevadas, com progressiva redução da carga e aumento do número de repetições. Lembrando que nesta versão atual, as repetições são realizadas até a fadiga ou próximas a ela, na maior parte dos casos.
 
Apesar de ser a versão menos conhecida, esta é a que encontra maior amparo da fisiologia. A utilização de cargas mais elevadas no começo da série aproveitaria o estado neural para fornecer estímulos tensionais. As séries seguintes, que porventura tenham características metabólicas, seriam iniciadas com estresse bioquímico mais acentuado, o que poderia ser benéfico para hipertrofia.
 
Este método de treinamento seria útil para adaptar na transição de treinos tensionais para metabólicos em pessoas acostumadas a treinar com repetições baixas por muito tempo.
 
- Pirâmide Truncada Decrescente
 
Esse método é a cópia do método pirâmide decrescente, sendo que o indivíduo não começa dos 100% de carga. Ele vai diminuindo a carga a partir de 90% da força máxima, respeitando-se o número de repetições de acordo com o percentual de peso utilizado (Rodrigues e Carnaval, 1985).
 
 
3 – Método Bi-Set - (hipertrofia)
 
Consiste na realização de dois exercícios consecutivos, sem descanso, para o mesmo grupo muscular. O objetivo deste método é gerar um aumento da congestão sangüínea (aumento do fluxo sangüineo) na musculatura, fenômeno relacionado ao aumento da massa muscular.
 
Podemos justificar o uso deste método por meio dos conceitos vistos no drop-set e na pré-exaustão, acrescentando a variação intencional no padrão motor. Ao final do primeiro exercício, um determinado número de unidades motoras não poderia mais ser recrutado, impedindo a execução do movimento, porém a mudança para um exercício com padrões motores diferentes (e cargas adequadas à nova condição) permitiria o prosseguimento do estímulo, aumentando o temo sob tensão e prolongando o estresse metabólico
 
O maior tempo sob tensão seria interessante para aproveitar estímulos tensionais; já a contração prolongada poderá causar, além do acúmulo de metabólitos, aumento posterior na circulação, com maior disponibilidade de nutrientes.
 
Neste método, utiliza-se de 3 a 4 séries, com 10 a 20 repetições, dando um intervalo mínimo entre os grupos, ou seja um exercício e o outro, e de 1 a 2 minutos entre as séries consecutivas.
 
 
4 – Método Tri-Set - (hipertrofia)
 
Consiste na realização de 3 exercícios consecutivos, sem intervalos entre eles, para o mesmo grupo muscular. Sua base é similar à do bi-set, com um estímulo ainda mais prolongado.
 
Os exercícios podem ser agrupados para estimular um único grupo com o objetivo de atingir porções distintas da mesma musculatura, procurando sempre isolar as porções do grupo muscular trabalhado, pode também ser usado para grupos musculares antagonistas ou diferentes. É um método muito usado para grupos musculares que possuem 2 ou 3 porções.
 
O objetivo do método é gerar congestão sangüínea (aumento do fluxo sangüineo na região) e desenvolvimento das varias porções do grupo muscular. A ausência de intervalo entre as séries pode favorecer uma pequena melhora na aptidão cardiorespiratória.
 
Neste método, utiliza-se de 3 a 4 séries, com 10 a 20 repetições, dando um intervalo mínimo entre os grupos, ou seja um exercício e o outro, e de 1 a 2 minutos entre as séries consecutivas, após três exercícios sem pausa.
 
Deve-se levar em consideração uma limitação para este método, onde só há viabilidade a sua utilização nos horários de pouca movimentação na sala de musculação.
 
 
5 – Método Super-Set - (hipertrofia)
 
Consiste na realização consecutiva de vários exercícios para o mesmo grupo muscular.
 
- Para o mesmo grupo muscular – (hipertrofia)
 
Consiste na realização de mais de 4 exercícios sem intervalo, ou seja, executar os exercícios de forma seguida, um atrás do outro, até completar o total superior a quatro exercícios sem pausa. Após a execução do último exercício, há uma pausa, para então realizar a segunda passagem e depois a terceira.
 
Neste método, utiliza-se em média 3 séries, com 10 repetições, dando um intervalo de até 2 minutos após os quatro exercícios diretos.
 
- Agonísta / Antagonista - (força e hipertrofia)
 
Este método lembra o bi-set, porém os exercícios executados são direcionados a grupamentos musculares antagônicos (exemplo: realiza-se extensão de joelhos seguida de flexão de joelhos). Ou seja, consiste na realização de dois exercícios sem intervalo, ou seja, executar os exercícios de forma seguida, porém respeitando a seqüência: primeiro o agonista, depois o respectivo antagonista. Após a execução do segundo exercício, segue-se a segunda passagem.
 
A contração voluntária de um músculo faz com que o seu antagonista também seja ativado, supostamente com a finalidade de criar estabilidade articular, em um processo denominado co-contração. Portanto, por mais que se exercite um músculo, é mantido um certo grau de atividade na musculatura oposta. Esta atividade contínua durante o super-set pode ser útil na manutenção do estresse metabólico, aumentando a concentração de metabólicos.
 
Agora se o intuito for produzir estímulos tensionais em seus níveis máximos, é importante observar o estado de fadiga e utilizar intervalos de descanso entre os exercícios, em vez de executá-los um após o outro, imediatamente.
 
Quando formos calcular os intervalos no super-set, devemos ter em mente o tempo que se levará para retornar ao mesmo exercício, incluindo o tempo de deslocamento entre aparelhos e preparação em cada um. Por exemplo, se houver um intervalo de 40 a 60 segundos entre os exercícios, normalmente gastam-se, aproximadamente, 2 a 3 minutos para se retornar ao primeiro movimento. Se quisermos que o tempo de intervalo entre as séries de um mesmo exercício fique entre 45 a 75 segundos, devemos dar intervalos entre 0 a 15 segundos entre os exercícios.
 
Entre as principais vantagens deste método estão seu dinamismo e a redução do tempo total de treino. Por possuir descansos reduzidos, os treinos em super-set promovem grandes elevações no metabolismo, elevando o gasto calórico e causando uma sensação de cansaço generalizado, diferente da maioria dos treinos.
 
 
6 – Método do Treinamento em Circuito - (condicionamento físico e resistência muscular)
 
É, sem dúvida, o método de treinamento de força mais usado com iniciantes. Este método consiste em realizar diversos exercícios com um intervalo controlado mínimo (aproximadamente 15 segundos), ou sem intervalo, entre eles. Este método é um dos únicos em que a carga deve ser moderada. Isso significa trabalhar próximo de 40 a 60% de 1 RM (repetição máxima).
 
O número de exercícios é definido conforme o objetivo e o grau de treinabilidade do praticante, e pode-se utilizar mias de uma passagem pelo circuito (nesse caso, em vez de utilizarmos a denominação duas séries, utilizamos duas passagens).
 
Caso o praticante seja iniciante, é adequado que a seqüência dos exercícios esteja baseada na montagem alternada por segmento, o que significa alternar, por exemplo, exercícios para membros superiores e exercícios para membros inferiores.
 
Neste método, utiliza-se em média 1 a 3 passagens, de 12 a 20 repetições, dando um intervalo de no máximo 15 segundos entre exercícios.
 
 
7 – Método da Pré-Exaustão - (força e hipertrofia)
 
Consiste em realizar um exercício de isolamento (uniarticular) seguido de um exercício composto, ambos envolvendo um grupo muscular em comum. Apesar de não possuir um embasamento científico definido, este método é comumente usado com a finalidade de enfatizar a musculatura trabalhada de forma isolada no primeiro exercício.
 
Segundo Fleck e Kraemer (1999), citados por Gentil (2005), na execução de exercícios para grupamentos musculares menores, antecedendo movimentos biarticulares, causariam sua menor ativação, devido à fadiga, impondo maior tensão aos demais músculos, ou seja a utilização prévia de um exercício de isolamento antes de um exercício composto fará com que haja menor ativação da musculatura trabalhada no primeiro momento, aumentando a atividade relativa dos músculos acessórios.
 
O objetivo deste método é levar a musculatura a exaustão (fadiga), através da utilização de alavancas que favoreçam uma maior solicitação da musculatura principal. Alguns estudos sugeriram que unidades motoras adicionais seriam recrutadas para compensar a perda de funcionalidade de outras. Além das unidades motoras de um mesmo músculo, devemos levar em consideração a atividade de outros grupamentos musculares. Em movimentos complexos, a menor ativação de unidades motoras em um músculo é contornada por alterações do padrão motor, com maior ativação dos demais músculos envolvidos no movimento, inclusive recrutando, primariamente, músculos que outrora eram meros coadjuvantes.
 
Tecnicamente, o uso da pré-exaustão, na verdade, estaria mais próximo ao uso do bi-set, produzindo as mesmas alterações fisiológicas.
 
Neste método, utiliza-se de 2 a 4 séries, com 6 a 20 repetições, dando um intervalo de 1 a 2 minutos entre as séries.
 
Deve-se levar em consideração uma limitação para este método, onde só há viabilidade a sua utilização nos horários de pouca movimentação na sala de musculação, e preferencialmente em aparelhos próximos uns dos outros.
 
 
8 – Método da Exaustão - (força, hipertrofia e resistência muscular)
 
Este método consiste em realizar as repetições até a exaustão. As repetições serão finalizadas quando a fase concêntrica do movimento não for completada (falha concêntrica momentânea), portanto, quando o padrão do movimento estiver comprometido.
 
Neste método, utiliza-se em média 3 a 4 séries, com a máximo de repetições, dando um intervalo de 30 segundos para resistência muscular, até 1 minuto e 30 segundos para hipertrofia, e maior que 3 minutos para força máxima.
 
 
9 – Método de Repetições Forçadas (Excêntrica) - (força e hipertrofia)
 
Durante as repetições forçadas, executa-se normalmente o movimento até a impossibilidade de mover a carga. Quando for detectada a falha na fase concêntrica, o ajudante (ou o próprio executante, quando possível) deve utilizar a quantidade de força necessária para que o movimento concêntrico prossiga em sua cadência natural. O movimento "forçado" deverá prosseguir até que es atinja a o objetivo desejado (tempo sob tensão, número de repetições, etc.) ou que haja necessidade de excessiva aplicação de força auxiliar.
 
A ajuda só deve ocorrer nos momentos e ângulos em que a falha for detectada e somente com a força necessária para fazer o movimento prosseguir. Do contrário, o método não intensificará o exercício e sim o tornará mais fácil.
 
Durante o movimento excêntrico, há facilidade de suportar cargas elevadas, mesmo com um menor número de unidades motoras sendo ativadas. Ao utilizar auxílio na fase concêntrica, pode-se progredir no exercício ainda que não haja mais possibilidade de se "levantar" a carga, o que trará uma maior tensão e maiores estímulos ao músculo.
 
O uso de repetições excêntricas oferece maior tensão, no entanto produz alterações em outros fatores fisiológicos, como o acúmulo de metabólitos e níveis de lactato. Desta forma, é interessante usar cargas altas e intervalos mais longos durante o método de repetições forçadas, para melhor aproveitar o componente tensional, tendo em vista sua baixa alteração em parâmetros metabólicos.
 
Segundo Gentil (2005), citando Folland et al., 2001, o método de repetições forçadas não é recomendado para alunos iniciantes e intermediários, tendo em vista que um treino intenso com repetições excêntricas realizadas pode levar a prejuízos nos ganhos de força por até 5 semanas.
 
Na aplicação do método das repetições forçadas, devem-se observar alguns pontos:
- Devido a sua alta intensidade, potencial de overtraining e lesões em ligamentos e tendões, não é recomendado seu uso por períodos muito longos de tempo (tempo recomendado: entre 4 e 6 semanas);
- É importante adequar o volume de treino, evitando usar o método em um grande número de séries. Realizar repetições roubadas em 1 a 3 séries por treino parece ser eficiente e seguro, lembrando que a máxima "quanto mais, melhor" não se aplica aqui;
- Os intervalos de descanso devem ser ajustados para manter a qualidade do treino, mantendo uma média de 2 a 4 minutos entre as séries;
- só deve ser usado em alunos avançados.
 
O objetivo deste método é o aumento da carga na fase excêntrica, que permite a desintegração das pontes cruzadas de actomiosina (componentes internos que formam as fibras musculares, e geram a ação da contração muscular), o que promove uma grande fricção interna.
 
Através de repetições negativas há também uma maior retenção sangüínea fora do músculo e quando a musculatura relaxa há um aumento da perfusão sangüínea (entrada lenta e contínua de líquidos nos vasos sangüíneos), o que favorece a hipertrofia.
 
 
10 – Método Blitz - (hipertrofia)
 
No método Blitz, diferencialmente dos outros, o que se promove é o trabalho sobre apenas um grupo muscular por dia ou sessão de treinamento.
 
É muito empregado por fisiculturistas, mas, como na maioria dos métodos, não há comprovação científica sobre sua eficácia, pois o intervalo entre cada sessão de treino para o mesmo grupo muscular acaba sendo muito maior que 72 horas, chegando, na verdade, a uma semana, em alguns casos.
 
Neste método, o praticante executará apenas um grupo muscular por sessão de treinamento, com alto volume e intensidade para o mesmo grupamento muscular. Podendo variar no número de exercícios de forma ilimitada, realizando entre 3 e 4 séries de 8 a 12 repetições, com cargas próximas a 1RM (repetições máximas).
 
 
11 – Método Drop-Set - (força e hipertrofia)
 
O drop-set, ou série descendente pode ser caracterizado em três passos:
            1 – realização do movimento com técnica perfeita até a falha concêntrica;
            2 – redução da carga (em aproximadamente 20%), após a falha; e
            3 – prosseguimento do exercício com técnica perfeita até nova falha.
Deve-se repetir o segundo e terceiro passos até se alcançar o objetivo estabelecido para o treino.
 
Em exercícios de intensidades altas, ocorre progressiva queda na ativação de unidades motoras até chegar-se a um ponto em que a ativação das fibras disponíveis não seria suficiente para prosseguir o movimento, levando à interrupção do exercício. As quedas na carga, durante o drop-set, têm a finalidade justamente de contornar a fadiga, adequando o esforço às possibilidades momentâneas do músculo e, com isso, mantendo um trabalho relativo intenso por mais tempo (Gentil, 2005).
 
Durante o drop-set, é possível manter um grande número de unidades motoras trabalhando em esforços máximos pro períodos longos, tornando-o indicado tanto para ganhos de força quanto de hipertrofia.
 
Neste método, utiliza-se em média 3 a 4 séries, com um mínimo de 6 repetições nas primeiras execuções e indo até a exaustão nas passagens subsequentes, dando um intervalo de 2 a 3  minutos entre as séries.
 
 
12 – Método de Repetições Roubada - (força e hipertrofia)
 
Neste método, o exercício é executado com a técnica correta até a falha concênctrica e, em seguida, altera-se o padrão de movimento com a finalidade de prosseguir por mais algumas repetições. As repetições roubadas só devem ser aplicadas em casos específicos, levando-se em conta a característica do indivíduo e do exercício, do contrário, os resultados serão irrelevantes diante do risco aumentado de lesões.
 
O método das repetições roubadas não consiste simplesmente em realizar um movimento de maneira errada. As alterações no padrão motor só devem ocorrer diante da impossibilidade de execução de forma correta, ou seja, o movimento é executado de forma estrita até que não seja mais possível fazê-lo e só então o padrão motor é alterado. É essencial que haja um perfeito conhecimento não só da técnica correta, mas também dos aspectos biomecânicos dos exercícios, pois as alterações no padrão motor deverão ser aplicadas nos momentos e intensidades suficientes para vencer o ponto de quebra.
 
Estas limitações tornam as repetições roubadas o último método a ser usado, dentro de uma escala temporal.
 
A explicação para utilização deste método estaria próxima às repetições forçadas, com a vantagem de não depender de parceiros de treino. A alteração no padrão de movimento adapta o exercício à possibilidade de trabalho relativa do músculo, pois as modificações biomecânicas incluem músculos acessórios, outras fibras ou alteram a relação de alavancas, o que pode reduzir o esforço absoluto do músculo fadigado. Desse modo, pode-se prolongar o trabalho, aumentando a magnitude dos estímulos, inclusive para unidades motoras que não estejam fadigadas e que provavelmente seriam menos estimuladas se o exercício fosse interrompido.
 
Tendo em vista a grande variedade de métodos conhecidos, seria pouco prudente e desnecessário utilizar repetições roubadas em alunos iniciantes e intermediários, ou mesmo em alunos avançados que não estejam habituados com determinado exercício. Nossa recomendação é que somente alunos avançados com vivência na tarefa motora específica o utilizem. Além da questão individual, a escolha do exercício também deve ser criteriosa. É comum ver pessoas se expondo perigosamente ao utilizar repetições roubadas em movimentos em que o método não seria recomendado como, por exemplo, agachamentos, levantamento terra e supinos com barras.
 
 
13 – Método da Fadiga Excêntrica - (hipertrofia e força)
 
Este método consiste em levar as repetições forçadas ou roubadas até os limites extremos. Para se treinar com fadiga excêntrica é recomendável utilizar cargas elevadas – que permitam repetições entre 3 e 6 completas – realizando o exercício até a falha concêntrica e, em seguida, utilizar um dos 2 métodos acima para prosseguir com o movimento até que haja impossibilidade de sustentar a fase excêntrica.
 
A fadiga excêntrica leva o trino a viveis elevadíssimos de intensidade e não deve ser usada por qualquer pessoa a qualquer momento, do contrário promoverá lesão, e não adaptação. Lembre-se de que nosso corpo é um sistema intimamente interligado e, por isso, a intensidade não se limita aos músculos, mas também envolve o estresse neural, articular, psicológico, e este estado geral deve ser levado em conta ao aplicar métodos intensivos.
 
Devido à elevada intensidade da fadiga excêntrica, ela só deve ser usada em uma ou duas séries por treino, com intervalos de 7 a 10 dias, ou com mais freqüência, durante fases intensivas, conhecidas como microciclo de choque.
 
Algumas observações práticas em relação a esse método:
- Não usar este método por períodos muito longos de tempo (tempo sugerido: +/- 4 semanas);
- Reduzir o volume de treino (1 a 2 séries para grandes grupos musculares);
- Utilizar poucos movimentos complementares – ao usarmos a fadiga excêntrica em exercícios multiarticulares, deve-se levar em conta, além do estresse na musculatura principal, o trabalho dos músculos acessórios. No caso do supino, por exemplo, há a necessidade de reduzir também o volume e intensidade de ombro e tríceps. Caso contrário, poderá ocorrer excesso de treinamento e lesões articulares;
- Ajustar o intervalo de descanso: 2 a10 minutos;
- Usar a fadiga excêntrica em 1 a 3 séries por treino;
- Utilizar, prioritariamente, em movimentos complexos.
 
 
14 – Método SuperLento ou Super Slow - (resistência muscular e hipetrofia)
 
Este método consiste em realizar repetições de forma extremamente lenta, levando de 15 a 60 segundos para completar um ciclo de movimento. A proposição original de Ken Hutchins, conhecida com superslow, é a realização de repetições com cadências de 5 segundos para fase excêntrica e 10 segundos para fase concêntrica (Gentil, 2005).
 
Para aproveitar adequadamente este método é importante não utilizar cargas deliberadamente baixas, pois a dor pode mascarar a intensidade real do exercício, desencorajando o executante a utilizar cargas maiores, apesar de seus músculos as suportarem. Isto garante um trabalho mais completo em nível de unidades motoras, pois o movimento lento, submáximo e como cargas reduzidas, ativaria principalmente as unidades motoras pequenas, com baixo limiar de excitabilidade.
 
A combinação de cargas baixas e velocidade lenta, faz com que o método superlento promova baixo ganho de força, mas parece ser bom para desenvolvimento de hipertrofia e resistência muscular.
 
Ao usar o método superlento, deve-se manter a técnica correta durante todo o movimento e enfatizar os pontos de quebra (desvantagem mecânica), senão os estímulos serão subaproveitados. Nesse caso, para se aproveitar melhor o método, é interessante enfatizar os ângulos próximos de 90º (cerca de 80 a 100º).
 
Uma vantagem pratica deste método é o uso de cargas moderadas que são relativamente baixas (em relação aos outros métodos), podendo ser prescritos em períodos onde não se desejam sobrecarregar demasiadamente as estruturas conectivas. Além disso, é um bom método para trabalhar a consciência motora na execução dos movimentos.
 
 
15 – Método Ondulatório - (força, hipertrofia e potência)
 
Este método baseia-se na forma de uma onda, em que o ventre superior reflete cargas altas e repetições baixas e no ventre inferior cargas moderadas, porém com altas repetições.
 
A expllicação deste tipo de treino parece estar no conceito de potenciação pós-tetânica, segundo o qual, após uma contração muscular intensa, ocorrem favorecimento da ativação das fibras e maior capacidade de gerar força. Algumas explicações fisiológicas para o fenômeno são as alterações nas concentrações de neurotransmissores, fluxo dos íons de sódio e potássio, e acúmulo de íons de cálcio no sarcoplasma.
 
O ponto ideal para se reiniciar o exercício é resultado da soma de diversos fatores, principalmente potenciação pós-tetânica e fadiga. Este período varia entre 3 a 10 minutos, meio-tempo em que há possibilidade de utilizar cargas mais elevadas do que se faria normalmente e, dessa forma, de proporcionar um maior estresse mecânico às estruturas musculares – o que favoreceria o processo de hipertrofia, dentro da abordagem dos treinos tensionais – e

Educação Física Escolar e Promoção da Qualidade de Vida

Posted: 14 Dec 2012 08:32 AM PST


 1.    INTRODUÇÃO

 No passado, nossos ancestrais mantinham um estilo de vida extremamente ativo. Comparando-se com as gerações atuais nossos antepassados possuíam grande dificuldade em manter-se vivos. Para se alimentar necessitavam da caça de animais muitas vezes maiores e mais fortes, para se aquecer precisavam extrair a madeira para fogueira. Não existia veículo algum que os levasse a lugares mais longínquos. Sendo assim, parece correto afirmar que a história da humanidade nos traz fortes indícios de que o início da espécie foi repleto de movimentos, exercícios até então involuntários ou não programados. O correr, o saltar e o arremessar parece ter sido fortemente presente e necessário à evolução humana.

Hoje em dia, os avanços tecnológicos facilitam cada vez mais a vida do homem que aos poucos vêm perdendo sua característica inicial de espécie ativa e rica em movimentos necessários para a sobrevivência. Exemplo disso, são as pessoas que percorrem distâncias curtíssimas a bordo de seus automóveis, deixando de caminhar ou correr. O trabalho manual e pesado vêm sendo substituído pelo simples apertar de um botão da máquina.

Se por um lado, a tecnologia e a industrialização facilitam nossas vidas e contribuem para o progresso social e econômico da civilização, por outro nos colocam a mercê de uma série de fatores de riscos relacionados ao estado de saúde.

Atualmente, em todo o mundo, discute-se sobre as altas taxas de mortalidade referente a doenças chamadas de crônico-degenerativas, como alguns tipos de câncer, dislipidemias e o diabetes mellitus (ROLLAND CACHERA et al., 1996; CERVATO et al., 1997; MONTEIRO et al., 2000; CARVALHO et al., 2001; FORNÉS et al., 2002 apud SOUZA, 2006) . Além disso, Guedes e Guedes (1995), caracterizam essas enfermidades como doenças hipocinéticas, de hipo+cinesia, sendo elas apresentáveis com maior freqüência em indivíduos com estilo de vida sedentário ou carente de atividades físicas. O termo apresentado pode ser traduzido da seguinte maneira: hipo..., prefixo de diminuição, grau inferior; cinesia, ciência do movimento, em suas relações com a educação, a higiene e a terapêutica (FERNANDES et al., 1992). Portanto, podemos entender as doenças hipocinéticas como as derivadas de falta ou diminuição dos níveis das atividades físicas, educacionais e suas relações com o ambiente. Em suma, o termo será apresentado no desenvolvimento deste trabalho como sinônimo das doenças crônico-degenerativas.

Contrariando essa perspectiva, a Educação Física aparece como uma das variáveis na promoção da qualidade de vida e da saúde, tendo papel importante na atuação escolar (NAHAS, 2001). Abastecido por essa crença, a presente pesquisa pretende apontar o papel da educação física escolar na educação motriz dos indivíduos, ainda no ensino fundamental, de forma à prevenir que crianças se tornem adultos sedentários e tenhamos que remediar todos os incômodos que um estilo de vida carente de atividade física possa causar.

Sendo assim, este trabalho tem o objetivo de discutir e entender o que é, e como se atinge a qualidade de vida, e assim, inferir a Educação Física escolar como variável importante na promoção dessa qualidade, e por conseqüência, da saúde.

2.    REVISÃO DE LITERATURA

Depois de identificada a problemática que incentivou esta produção e a tematização da qualidade de vida e seus fatores de promoção, faz-se necessário entender e definir esse termo em suas relações com a saúde e a educação física como forma de prevenção dos distúrbios hipocinéticos.

2.1 Qualidade de Vida

Presentemente fala-se muito em "qualidade de vida", "qualidade em saúde", e "qualidade de produtos" (CORRÊA; GONÇALVES, 2004). Podemos também, acrescentar  "qualidade em educação". Mas o que significa "qualidade"?

Buscando no Dicionário Brasileiro Globo (Fernandes et al, 1992), encontra-se como significado de qualidade: Aquilo que caracteriza uma coisa; propriedade; modo de ser; disposição moral; caráter; aptidão e etc. Portanto, ao abordar um dos temas citados, refere-se a forma com que ele se apresenta. Sendo assim, quando o assunto é qualidade de vida, estamos nos referindo ao modo com que conduzimos nossa vida. Logo, o enfoque de discussão deve ser em caráter de melhoria desse modo.

Manoel (2002),  encara a qualidade de vida como algo muito complexo, não podendo ser analisada através de um enfoque singular, caso contrário compromete-se o entendimento do todo. Evidenciando-se um único elemento do sistema, a explicação se torna simplista, pois a modificação de um dos componentes pode originar mudanças drásticas e abrangentes ao sistema.

A psicologia do esporte trabalha esses conceitos e define o assunto da seguinte maneira: 

A qualidade de vida reflete a satisfação harmoniosa dos objetivos e desejos de alguém; isso enfatiza a experiência subjetiva mais que as condições objetivas de vida. A qualidade de vida ou "felicidade" é a abundância de aspectos positivos somada a uma ausência de aspectos negativos. Ela reflete também o grau no qual as pessoas percebem que são capazes de satisfazer suas necessidades psicofisiológicas". (BERGER; MCINMAN, 1993:729) apud (SAMULSKI, 2000:302)

Mendes e Leite (2004) avaliam a qualidade de vida como uma condição inteiramente individual, pois depende do panorama e das expectativas de vida de cada ser. Assim, o que pode ser considerado por alguém como uma vida de boa qualidade, pode não satisfazer outras pessoas que sentem-se felizes de outra maneira.

Semelhantemente, Samulski (2000) concluiu que a qualidade de vida é o resultado positivo do conjunto de condições subjetivas da vida de um indivíduo, considerando seu trabalho, sua vivência na sociedade, seu humor, sua saúde física e mental. Ele ainda certifica que o exercício físico influencia indiretamente a vida social das pessoas, e age diretamente na saúde física e no humor.

Podemos então, considerar que a perspectiva da qualidade de vida vem substituindo gradualmente a relação atividade física e saúde, incorporando o discurso às Ciências do Esporte e à Educação Física. Essa relação positiva é estabelecida entre atividade física e melhores níveis de qualidade de vida (ASSUNPÇÃO et al, 2005).

2.1.1 Definição de Saúde

 

 

Considerando Fernandes et al (1992), podemos definir saúde como sendo o bom estado do indivíduo, cujas funções orgânicas, físicas e mentais se encontram em situação normal; boa disposição do organismo; força; robustez; vigor.

Mendes e Leite (2004), acreditam que os vocábulos de saúde e qualidade de vida quase sempre se confundem, e apontam para a definição de saúde utilizada pela OMS como sendo uma condição de bem-estar não só do corpo, mas também espiritual, psicológico e social, compreendido entre boas relações com outras pessoas e com o meio ambiente, sendo que, segundo os autores, definiria bem a qualidade de vida.

Já Bouchard et al (1990) apud Guedes e Guedes (1997), afirma que a saúde deve, acima de tudo, ser compreendida como um estado total de bem-estar físico, social e psicológico, e não somente como ausência de doenças.

Efetivamente, existe maior conscientização para que se abandone o conceito empregado costumeiramente à saúde. Dentro desse entendimento, é visível que não basta apenas não apresentar nenhum quadro de enfermidade ou doença. É necessário apresentar indícios e evidências que afastem ao máximo os fatores de risco. Admitindo que as doenças hipocinéticas são resultantes de estágios mais avançados e que seus sintomas são quase sempre silenciosos, não se pode considerar, por exemplo, que um adolescente fumante possa se tornar um adulto saudável somente por não estar doente no momento. O mesmo acontece com crianças e adolescentes obesos; ou com problemas no desempenho motor; ou ainda, com índices de crescimento e desenvolvimento abaixo do esperado (GUEDES E GUEDES, 1997).

2.1.2 Fatores de Risco Contra a Saúde

A obesidade pode ser considerada como um dos maiores problemas hipocinéticos, sendo determinante para o indivíduo quanto aos seus fatores de risco, interferindo não só na qualidade, mas também na expectativa de vida (GUEDES; GUEDES, 2003). Souza (2006), afirma que esse quadro é causado por diversos fatores, como o gasto insuficiente de energia, a má alimentação, fatores ambientais e psicológicos estressantes e também a carga genética do indivíduo. Um sujeito obeso está predisposto a desenvolver alguns tipos de patologias endócrinas, metabólicas, respiratórias e cardiovasculares.
Segundo os Indicadores e Dados Básicos, conhecidos como IDB Brasil 2005, o diabetes mellitus corresponde a 20,95 % das mortes no país. Doenças do aparelho circulatório apresentam quadro ainda pior, representando 46,48 % dos óbitos, enquanto as neoplasias malignas, ou tumores, do sistema respiratório são responsáveis por 9,19 % (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005). Isso nos mostra que as morbidades atreladas à obesidade e ao estilo de vida sedentário matam, no Brasil, mais do que os acidentes de trânsito ou qualquer outra causa, expressando cerca de 76,62 % das mortes, mais até do que as doenças transmissíveis.

O Senso brasileiro estima que a população brasileira seja de 186.770.562 habitantes (IBGE, 2006). A Organização Mundial da Saúde (OMS) assegura que 8% dos homens e 18% das mulheres brasileiras acima de 15 anos são obesos, ou seja, 48.560.346 habitantes. A estimativa para 2015 é extremamente assustadora, sugerindo que 17% dos homens e 31,5 % das mulheres brasileiras estarão sujeitos à obesidade e seus fatores de risco (WHO, 2005).

Já que todos os dados apontam para o crescimento no número de adultos obesos, hipertensos, diabéticos e etc, devemos procurar uma forma de prevenção para que as crianças de hoje contrariem essa expectativa, construindo um futuro mais saudável do que se espera.

Refletindo sobre os números e fatos, fez-se necessário questionar o porquê dessas moléstias, e estudar, como e quanto, a Educação Física pode prevenir, de maneira ativa e educacional, o surgimento dos distúrbios hipocinéticos tão nocivos aos homens, promovendo uma maior qualidade de vida.

2.1.3 Multidisciplinaridade e Qualidade de Vida

 

 

Diante dos conceitos aplicados, podemos perceber que o tema é extremamente amplo e envolve aspectos multidisciplinares. Devemos então, rapidamente entender o significado da multidisciplinaridade. 

O Dicionário Interativo da Educação Brasileira (EducaBrasil, 2004) trata o contexto como sendo um conjunto de disciplinas trabalhando simultaneamente, sem expor as relações existentes entre elas. Na escola, representa a estrutura tradicional de currículo, fragmentado em várias matérias. 

Como já comentado, o assunto em tese possui uma multiplicidade de fatores e variáveis interferindo direta e indiretamente em seu fim. A variável comportamental e sentimental da qualidade de vida, e da saúde, é estudada pela psicologia que, dentre seus diversos autores, possui os que relacionam o exercício e a saúde com o bem-estar psicológico (SAMULSKI, 2000). Há ainda, os que classificam saúde mental como relacionada aos aspectos cognitivos, e saúde emocional como sendo de entendimento subjetivo, trabalhando com os aspectos do humor, bem-estar e seus opostos (HACKFORT, 1994 APUD SAMULSKI, 2000). 

Outro fator variável de suma importância no trabalho de promoção da qualidade de vida é a nutrição. Autores e estudiosos mais antigos têm revisado e reeditado suas obras acrescentando os conceitos de saúde e bem-estar, acreditando que com o passar dos anos o tema se tornou enfático e a relação de exercício, nutrição e saúde, cada vez mais direta (KATCH; MCARDLE, 1996). Outrossim, Fajardo (1998) comenta a importância de um bom café da manhã para o bem-estar diário, e orienta que a ingestão calórica está diretamente ligada ao seu gasto. Indivíduos que se alimentam pela manhã, raciocínam melhor e mais rápido no decorrer do dia, sendo mais eficientes e produtivos no trabalho e nos estudos. O autor ainda salienta que é preciso saber quando, como e o que comer, confirmando a importância da nutrição para a saúde e a qualidade de vida.

Já Assumpção et al (2005) levantam a questão social patente na discussão sobre a saúde e defende a contribuição das Ciências Humanas. Os autores deduzem que o assunto não deve ser tratado por variáveis exclusivamente biológicas, pois é preciso considerar os elementos culturais, sociais, políticos e econômicos, para então configurar o quadro do bem-estar. Da mesma forma, Filho et al (1997) já se preocupavam em entender os meandros causadores das doenças e os mecanismos que mantém a saúde, considerando que esses prodígios não se restringem às leis naturais, mas estão sujeitos a políticas de habitação, saneamento básico e emprego. Devido a esse objeto de enfoque, os autores aplicam a mesma importância, dada à realidade biológica, à histórico-social.

Á seguir, estará em discussão a Educação Física e a importância de sua aplicação na escola, como variável promotora da qualidade de vida.

2.1.4 Atividade Física, Aptidão física e Saúde na Escola

Atividade física tem como definição qualquer movimento corporal, voluntário, produzido pela musculatura esquelética, que resulte em um gasto energético maior do que os níveis de inatividade (CASPERSEN et al1985 apud GUEDES; GUEDES, 1995; NAHAS, 2001). Porém, não se deve confundir o uso da denominação de atividade física com exercício físico, mesmo apresentando elementos em comum. O exercício é considerado uma subcategoria da atividade física, assim como as atividades relacionadas ao trabalho profissional, o trabalho doméstico, os momentos de lazer e as horas de sono, refeição e higiene. Dessas subcategorias da atividade física, apenas as atividades esportivas e os programas de condicionamento físico é que podem ser considerados exercícios físicos (GUEDES; GUEDES 1995). A definição de exercício, segundo Caspersen et al (1985) apud Guedes e Guedes (1995), é que toda atividade física programada, repetitiva, com estrutura e objetivos definidos em prol a manutenção ou melhoria de um ou mais componentes da aptidão física, é considerada exercício físico. O fato é que ambos, quando devidamente aplicados de forma progressiva demonstram relações positivas com a melhora na aptidão física (GUEDES; GUEDES, 1995).

Nahas (2001), conceitua a aptidão física simplesmente como a capacidade de realizar atividades físicas, sendo essa uma característica que pode derivar de fatores de saúde, alimentação, fatores hereditários e principalmente da prática de exercícios físicos. Essa aptidão tem vital importância para a realização das atividades físicas, e também, para a manutenção e melhora da saúde. O autor traz ainda em seu trabalho, a definição dos componentes da aptidão física fundamentados na década de 1970, pela Aliança Americana para a Saúde, Educação Física, Recreação e Dança (AAHPERD). Os componentes são: Agilidade, Equilíbrio, Velocidade, Resistência Anaeróbia, Força e Resistência Muscular, Flexibilidade, Resistência Aeróbia e Composição Corporal, sendo que os quatro últimos itens são os componentes relacionados à promoção da saúde e, por consequência, melhora da qualidade de vida. 

Treinamento desportivo para crianças e jovens

Posted: 14 Dec 2012 02:29 AM PST


Cada vez mais crianças e jovens estão em evidência no esporte competitivo, seja na ginástica artística com meninas de 10 anos ou até mesmo no futebol profissional com garotos de 15-16 anos. Considerando a idade que essas "crianças" estão chegando ao topo do esporte nacional e internacional, levanta-se uma questão muito importante: será que o treinamento aplicado aos jovens atletas está de acordo com sua maturação biológica, sem prejudicar a sua carreira futura?

    Neste estudo procurou-se demonstrar os aspectos do desenvolvimento infantil e as características do treinamento para esses jovens.

"A criança não é uma miniatura do adulto e sua mentalidade não é só quantitativa, mas também qualitativamente diferente da do adulto, de modo que a criança não é só menor, mas também diferente" (CLAPARÈDE, citado por WEINECK, 1991, p. 246). As crianças não são adultos em miniaturas que podem ser programadas para desempenhar atividades fisiológicas e psicológicas potencialmente tão questionáveis (REILLY; BANGSBO; FRANKS, 2000; GALLAHUE; OZMUN, 2001; BOMPA, 2002). As crianças e adolescentes, em comparação com os adultos, ainda se encontram em fase de crescimento, onde surgem inúmeras alterações físicas, psicológicas e psicossociais, que provocam consequências para a atividade corporal ou esportiva (WEINECK, 1991; ASTRAND, citado por TOURINHO FILHO; TOURINHO, 1998). O treinamento aplicado aos adultos não deve ser transferido aos jovens sem as devidas adaptações (REILLY; BANGSBO; FRANKS, 2000).

    "As crianças são quanto ao seu desenvolvimento imaturas e, por isso, faz-se necessário estruturar experiências motoras significativas apropriadas para seus níveis desenvolvimentistas particulares" (GALLAHUE; OZMUN, 2001, p. 107). Segundo HAUBENSTRICKER e SEEFELDT, citado por GALLAHUE e OZMUN (2001), existe uma melhora sistemática na velocidade de corrida de crianças no período médio e no final dos anos da infância. Essa melhora na velocidade de corrida continua na adolescência. Para WILLIAMS, citado por GALLAHUE e OZMUN (2001), o equilíbrio melhora dos 3 aos 18 anos. Apesar das dificuldades de mensuração, é possível concluir que o equilíbrio melhora com a idade na infância e adolescência. A aptidão relacionada à saúde e ao desempenho do adolescente passa por grandes alterações desde o início do período adolescente até o final da adolescência (de 11 até 21 anos) (GALLAHUE; OZMUN, 2001).

    "O comportamento adolescente é essencialmente exploratório e não deve ser considerado sem importância porque ajuda o indivíduo a encontrar o seu lugar na sociedade" (p. 481). Não se deve esperar que os adolescentes demonstrem uma obediência cega à autoridade. Entretanto, uma liderança adulta sensata, modelos positivos de papéis a desempenhar e uma orientação que desenvolva a coragem são essenciais para um processo psicossocial saudável e produtivo de desenvolvimento desses anos tumultuados (GALLAHUE; OZMUN, 2001). "... alguns comportamentos modelares de mentores respeitados são promissores como técnicas eficientes para inspirar alterações comportamentais em adolescentes" (CARNEGIE REPORTE, citado por GALLAHUE; OZMUN, 2001, p. 484).

    Segundo COAKLEY, citado por GALLAHUE e OZMUN (2001), o esporte pode desenvolver o comportamento moral pelas inúmeras emoções e situações imprevisíveis que surgem. O esporte fornece um ambiente favorável para ensinar os valores de honestidade, lealdade, autocontrole e de justiça (GALLAHUE; OZMUN, 2001).

    De acordo com CLARK, citado por ISAYAMA e GALLARDO (1998), o desenvolvimento motor possui seis estágios: 1 - reflexivo; 2 - pré-adaptativo; 3 - de habilidades motoras fundamentais; 4 - de habilidades motoras específicas do contexto; 5 - habilidosa; 6 - compensatória.

    A progressão de um período para outro vai depender das mudanças nas restrições críticas, em que as habilidades e as experiências adquiridas no período anterior servem como base para a aquisição de habilidades posteriores. No entanto, para esse modelo, as idades dadas para cada período são apenas estimativas; a ordem dos períodos é que é significante, e não a idade proposta.

    "Cada faixa etária tem suas tarefas didáticas especiais, bem como particularidades específicas do desenvolvimento. A oferta de estímulos e aprendizagens deve ser regulada pela fase sensitiva" (p. 263). Deve ser salientado que coordenação (técnica) e condição devem ser sempre desenvolvidas paralelamente, mas com o peso correspondente (WEINECK, 1991).

    Com a queda no aprendizado de novas habilidades coordenativas na pubescência, devido a fatores de crescimento e desenvolvimento, deveria ser dada ênfase no aperfeiçoamento e fixação de sequências motoras já dominadas e técnicas esportivas. Na adolescência ocorre uma estabilização geral da condução de movimentos, uma melhora da capacidade de controle, de adaptação, de reorganização e de combinação (MEINEL, citado por WEINECK, 1991).

    Para WEINECK (1991), a adolescência começa normalmente aos 14/15 anos nos meninos e vai até 18/19 anos. A adolescência forma o fim do desenvolvimento da criança para o adulto, caracterizada pela diminuição de todos os parâmetros de crescimento e desenvolvimento. Ocorre uma harmonização das proporções, o que é favorável em relação a uma melhora das capacidades coordenativas.

    Pode ser treinada nessa fase com máxima intensidade as capacidades condicionais e coordenativas, apresentando uma fase de melhoras elevadas no desempenho motor (WEINECK, 1991). Para o treinamento, essa fase apresenta melhoras, pois ocorre um equilíbrio psicológico. Ele deve ser atribuído à estabilização da regulação hormonal que ainda mostrava turbulentas alterações na fase anterior: os mecanismos de controle neuro-humorais hipotálamo-hipofisários sofrem um acerto definitivo. Ao contrário da fase anterior, agora apenas quantidades grandes de hormônios acionam os receptores do centro de regulação do hipotálamo (DEMETER, citado por WEINECK, 1991). Com as proporções equilibradas, a psique estabilizada, a maior intelectualidade e a melhor capacidade de observação fazem da adolescência a segunda "idade de ouro" da aprendizagem (WEINECK, 1991). Aos 16 anos muitos desses conflitos desaparecem; a necessidade de independência transforma-se num calmo desejo de emancipação. As ideias de desenvolvimento profissional, família, casamento são tangíveis e debatidas nessa fase (SANSTRÖM, 1975).

    "A adolescência deveria ser aproveitada para o aperfeiçoamento das técnicas específicas da modalidade esportiva e para a aquisição da condição específica da modalidade esportiva" (WEINECK, 1991, p. 263).

    No conjunto esta fase apresenta um bom período para a aprendizagem motora - nos jovens do sexo masculino é mais acentuada que nas jovens -, que possibilita um treinamento coordenativo ilimitado em todas as modalidades esportivas (WEINECK, 1991).

    Segundo ROWLAND, citado por VILLAR e DENADAI (2001), na fase pré-pubertária e pubertária, a maturação biológica pode diferir para a mesma idade cronológica.

 

Treinamento

 

    O treinamento tem como principal objetivo causar adaptações biológicas destinadas a aprimorar o desempenho numa tarefa específica (McARDLE; KATCH; KATCH, 1991).

    "A elaboração metodológica tem assentado nas dominantes condicionais do treino desvalorizando-se as vertentes de índole coordenativa" (SANTOS, 1992, p. 105).

    A demonstração facilita o aprendizado, pois instruir e depois demonstrar minimiza instruções mais complexas. A demonstração apresenta particularidades que reduzem a incerteza na execução de uma habilidade motora (TONELLO; PELLEGRINI, 1998). LANDERS, citado por TONELLO e PELLEGRINI (1998) realizou um estudo comprovando que a demonstração deve ser apresentada antes e durante a execução da tarefa.

    TONELLO e PELLEGRINI (1998) afirmam ainda que a informação visual tem uma importância fundamental no comportamento motor humano e, em específico, no processo de ensino-aprendizagem de habilidades motoras. Os atletas aprendem mais a ver e fazer, do que a ouvir (McGOWN, 1991).

Os treinadores deveriam utilizar dois métodos de ensino: a demonstração e a instrução verbal. Alguns estudos comprovam que a aprendizagem é mais eficiente ao se utilizarem várias demonstrações, mas somente a demonstração não é suficiente, por isso se utiliza a instrução ou palavras-chave. Esse recurso tem quatro funções a desempenhar: concentrar a informação; reduzir o número de palavras, diminuindo a exigência de processamento de informação; focalizar a atenção do praticante no que é importante, e auxiliar a memória. Isso conclui que o ideal é fazer uma perfeita combinação entre a demonstração e a utilização de palavras-chave (McGOWN, 1991).

    O processo de aprendizagem é influenciado por um conjunto de variáveis, sendo a prática do indivíduo uma das mais importantes. Para GODINHO, MENDES e BARREIROS (1995), uma dessas variáveis que tem importância fundamental no aprendizado, além da prática, é o feedback.

 

Treinamento Físico

 

O treinamento físico é definido por BARBANTI (2003, p. 595) como o "tipo de treinamento cujo objetivo principal é desenvolver as capacidades motoras (condicionais e coordenativas) dos executantes, necessárias para obter rendimentos elevados, e que se faz através dos exercícios corporais". Durante a iniciação geral e os períodos de preparação, deve-se utilizar a preparação física geral (KUNZE, 1987).

    Ao se referir à criança ou adolescente e exercício, faz-se necessária uma classificação pela idade biológica, pois possibilita distinguir, de forma mais clara, as adaptações morfológicas e funcionais resultantes de um programa de treinamento das modificações observadas no organismo, decorrentes do processo de maturação, principalmente intensificado na puberdade (TOURINHO FILHO; TOURINHO, 1998). De acordo com GOLOMAZOV e SHIRVA (1996), a idade cronológica em muitos casos não coincide com a motora. Os ritmos de amadurecimento são muito individuais.

    Segundo BOMPA (2002); BAR-OR, citado por VILLAR e DENADAI (2001), os programas de treinamento devem ser elaborados de acordo com o estágio de maturação da criança e não de acordo com a idade cronológica, pois as exigências e necessidades individuais variam bastante. Crianças de mesma idade cronológica podem diferir em anos com relação à maturação biológica.

As crianças evoluem de forma diversa. A proporção de crescimento de ossos, músculos, órgãos e sistema nervoso é diferente em cada estágio maturacional, e esses desenvolvimentos determinam a capacidade fisiológica e de desempenho. Portanto, o programa de treinamento precisa levar em consideração essas diferenças individuais e o potencial de treinamento (BOMPA, 2002).

A avaliação maturacional pode ser usada para identificar períodos de crescimento rápido e para justificar reduções no regime de treinamento em longo prazo. Pode auxiliar na redução de lesões, servindo como base na preparação (GALLAHUE; OZMUN, 2001).

"A idade biológica refere-se ao desenvolvimento fisiológico dos órgãos e dos sistemas no corpo que ajuda a determinar o potencial fisiológico, tanto no treinamento como na competição, para a obtenção de alto nível de performance". Deve-se levar em consideração a idade biológica na classificação, seleção e treinamento de atletas (BOMPA, 2002, p. 14). "... os programas de treinamento infantis devem considerar a dinâmica de crescimento e desenvolvimento para cada estágio" (BOMPA, 2002, p. 116). O princípio da preparação física implica na utilização de variados métodos e de exercícios físicos para obter um efeito positivo em todos os órgãos do corpo (BOSCO, 1994).

Estudo realizado por CUNHA (2003) com equipes de futebol da categoria juvenil, compostas de meninos na faixa etária entre 15 e 17 anos, identificou que apenas 43% das equipes estudadas realizam uma avaliação maturacional nos atletas dessa categoria.

Após a determinação das características biológicas de cada indivíduo, inicia-se o planejamento das atividades. De acordo com BOMPA (2002) as cargas de treinamento devem aumentar gradativamente com a idade e com a progressão dos treinamentos. A duração das sessões de treino pode aumentar do início até o fim da temporada, quando atingirem por volta de noventa minutos; os treinamentos devem ser variados para se evitar um desgaste psicológico e a fadiga prematura. O aumento progressivo da carga inclui um aumento do número e da repetição dos exercícios, porém é importante observar o tempo de descanso após o aumento das repetições. Outro aspecto relevante é o aumento da frequência de treinamento: o ideal é de duas a quatro sessões para cada jogo, pois assim haverá um desenvolvimento maior dos atletas durante os treinamentos do que nos jogos, isso no caso específico do futebol. Ainda conforme o estudo realizado por CUNHA (2003), as equipes de futebol juvenil paulistas realizam cinco ou seis sessões de treino por semana e com relação a preparação física, a sessão de treino dura em média 62 minutos.

    Segundo McARDLE, KATCH e KATCH (1991, p. 284), "ainda não foi identificada uma duração limiar por sessão capaz de induzir aprimoramentos cardiovasculares ideais. Esse limiar depende de muitos fatores, que incluem o trabalho total realizado, a intensidade do exercício, a frequência do treinamento e o nível inicial de aptidão".

    Com relação à frequência do treinamento, alguns investigadores, citados por McARDLE, KATCH e KATCH (1991), relatam que constitui um fator importante capaz de induzir a aprimoramentos cardiovasculares, porém outros afirmam que esse fator é menos importante que a intensidade e a duração do exercício. Treinar menos de dois dias por semana, em geral não produz alterações adequadas na capacidade aeróbia ou anaeróbia e na composição corporal.

O potencial esportivo de uma criança depende de seu desenvolvimento físico e mental (BOMPA, 2002).

    Para GONCALVES (1998), os principais fatores que devem ser considerados no programa de preparação física para o futebol, são:

- Aumentar a capacidade do sistema respiratório (aeróbio e anaeróbio);

- Aumentar o volume de bombeamento sanguíneo pelo coração e o sistema circulatório;

- Hipertrofiar os músculos necessários;

- Aumentar a força dos grupos musculares necessários e suas relações com tendões e ligamentos;

- Diminuir a presença do ácido lático muscular durante e depois da atividade do futebol.

 

    Treinamentos seletivos para os esportes não são necessários antes da fase pré-púbere de desenvolvimento. A recomendação é não aplicar uma organização formal de atividades no contexto do jogo por diversão, adquirindo assim habilidades motoras (REILLY; BANGSBO; FRANKS, 2000).

O treinamento individualizado é importante, mas deveria começar após a maturidade completa (DI SALVO; PIGOZZI, 1998), pois após a puberdade inicia a etapa de preparação física intensa e desenvolvimento das capacidades individuais (GOLOMAZOV; SHIRVA, 1996). O período pubertário será o ideal para proporcionar o desenvolvimento da força rápida e da potência. Cuidados devem ser tomados, pois o exercício anaeróbio exige uma elevada solicitação de ossos, articulações e tecidos moles (músculos, tendões etc.). Isso pode ocasionar lesões nos jovens em desenvolvimento (ALMEIDA, 2002).

    A especialização no esporte de alto nível é necessária, mas ela deveria ocorrer o mais tarde possível e com base numa estrutura de treinamento adequada ao desenvolvimento, que propiciará uma aquisição adequada das habilidades e um desenvolvimento harmonioso do jovem (WEINECK, 1991). Relatos de um estudo russo concluíram que a especialização esportiva não deve começar antes da idade de 15 ou 16 anos na maioria dos esportes (BOMPA, 2002).

O autor afirma ainda que após um desenvolvimento multilateral no início da vida atlética, os jovens atingem o período de treinamento especializado entre 15 e 18 anos, podendo assim atingir o ápice esportivo futuramente. Mesmo durante a etapa de especialização do desenvolvimento, os atletas devem dedicar apenas de 60 a 80% do tempo de treinamento a atividades específicas da modalidade.

No estágio da especialização (15 - 18 anos), deve-se monitorar o volume e a intensidade do treinamento, para que os jovens evoluam com pequeno risco de lesões. Alguns aspectos são importantes nesta fase (BOMPA, 2002):

- Aumentar o volume de treinamento para repetições e exercícios específicos a fim de facilitar o aprimoramento do desempenho.

- Envolver sempre que possível os atletas no processo de tomada de decisões;

- O desenvolvimento da força deve começar a atingir os objetivos da modalidade específica;

- Aumentar progressivamente o volume e a intensidade do treinamento anaeróbio;

- Prática do treinamento mental. Exercícios que desenvolvam concentração, atenção, pensamento positivo, autoregulação, visualização e motivação, a fim de melhorar o desempenho na modalidade.

Na maioria dos esportes de potência e velocidade, a especialização deve ocorrer no final do período de estirão de crescimento na adolescência (BOMPA, 2002).

Devido ao grande número de exercícios e ao excessivo número de repetições, a introdução de uma variabilidade de atividades e habilidades no processo de aprendizagem e treinamento não só contribuirá para a prevenção de lesões, como para evitar o tédio e o desgaste psicológico dos jovens (BOMPA, 2002). Cargas intensas e monótonas podem ocasionar um desgaste psicológico, como na utilização acentuada de treinamentos não adequados à idade - grande motivo de desistência do esporte. A falta de formação múltipla do organismo acarretará em prejuízo para a obtenção de habilidades futuras (WEINECK, 1991). Segundo MEDLER, citado por WEINECK (2000), deve-se ter cuidado no treinamento ministrado para crianças e adolescentes para serem evitados os momentos de monotonia e enfado, assim como os momentos de dor e de sofrimento que se relacionam com o treinamento da resistência aeróbia. A especialização precoce nas categorias menores (infantil e juvenil), apesar de se obterem bons resultados no princípio, deve ser observada com cuidado, pois poderá levar ao encurtamento da vida profissional do atleta. O uso de cargas específicas antes do momento oportuno gera estresse físico e emocional acentuado, podendo afastar os jovens dos treinamentos e competições (FILIN e VOLKOV, citado por AUGUSTI, 2001). MATVEEV, citado por AUGUSTI (2001) também concorda que a especialização precoce fará que o jovem, ao chegar à fase adulta, não será mais capaz de desenvolver e atingir os bons resultados que obteve durante a infância.

Para não ocorrer uma especialização prematura, devem ser considerados os aspectos do treinamento adequado à idade e ao desenvolvimento, ou seja, a capacidade da criança suportar carga é limitada, podendo ocorrer desgaste prematuro de cartilagem, ossos, tendões e ligamentos. Superexigência funcional pode acarretar em redução da amplitude da articulação, com respectiva sobrecarga dos segmentos articulares, ocasionando prejuízo no processo de treinamento (WEINECK, 1991).

A especificidade excessiva no treinamento pode resultar em lesões por overuse. Para ALMEIDA (2002), as lesões por overuse são características de esportes anaeróbios que requerem períodos de atividade de potência máxima ou quase máxima. Outro risco que pode ocorrer na especificidade excessiva, segundo BOMPA (2002), é o desequilíbrio entre os músculos agonistas e antagonistas do movimento específico. A utilização de novos exercícios desenvolverá também a agilidade e a coordenação, auxiliando no processo de aquisição de novas habilidades e evitando lesões por esforços repetitivos.

    Outro aspecto importante na programação esportiva é a nutrição dos atletas. Para GONCALVES (1998), os atletas necessitam de uma dieta balanceada, baseada em nutrientes necessários para a requisição diária do organismo e a performance nas atividades. REILLY (1997) afirma que a nutrição adequada, verificada por meio dos índices iniciais de glicogênio muscular, é um aspecto que pode diminuir a fadiga.

 

Conclusão

 

Pode-se concluir que o treinamento tanto técnico, como tático ou físico fornecido a crianças e jovens deve ser muito bem estudado, elaborado e conduzido por treinadores e preparadores físicos. As características biológicas e maturacionais devem ser levadas em consideração na programação do treinamento. Um erro muito comum encontrado em treinamentos em equipes de competição relaciona-se ao fornecimento da mesma carga e intensidade para todos os atletas, isso é um erro muito grave que poderá acarretar problemas futuros aos jovens atletas.

Portanto, não se pode esquecer a afirmação que se encontra logo no início deste artigo: "As crianças não são adultos em miniaturas...".

Somente a observação criteriosa de todos esses fatores durante o treinamento, poderá obter o máximo rendimento de um jovem desportista, sem prejudicar o seu desenvolvimento físico harmonioso e consequentemente sem prejudicar sua carreira.

Com isso, procura-se auxiliar os profissionais que ministram e orientam os treinamentos para crianças e jovens há elaborar programas que sejam adequados a cada faixa etária e nível de maturação. Segundo CUNHA (2003) muitos treinadores e preparadores físicos não utilizam métodos mais científicos durante o treinamento devido a problemas estruturais em seus clubes.

Referências Bibliográficas
 
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AUGUSTI, M. Treinamento de endurance para crianças e adolescentes. In: Revista Digital, Buenos Aires, ano 7, n. 37, jun. 2001. Disponível em: <www.efdeportes.com>. Acesso em: 15 nov. 2001.

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O nível de aptidão física afeta o desempenho do árbitro de futebol?

Posted: 12 Dec 2012 03:34 AM PST


Introdução

O futebol é um dos esportes mais praticados no mundo. Em 2003, cerca de 220 milhões de pessoas foram consideradas membros ativos da Federation Internationale de Football Association (FIFA), sendo que 150 milhões eram jogadores (homens e mulheres) em algum nível competitivo (CASTAGNA, ABT & D'OTTAVIO, 2007).

Nas últimas décadas, o futebol experienciou significativo avanço do profissionalismo (GOMES & SOUZA, 2008). Essas mudanças ocorridas nos últimos anos, principalmente em função das maiores exigências físicas, intensificaram a carga de treinamento imposta aos atletas (COHEN, ABDALLA, EJNISMAN & AMARO, 1997). Sem dúvida, este maior nível de exigência física alterou o padrão de jogo, tornando-o mais rápido e intenso (METAXAS, KOUTLIANOS, KOUIDI & DELIGIANNIS, 2005).

Neste contexto do futebol moderno, é plausível assumir que a demanda física dos árbitros também tenha sofrido aumento. Para atender esse novo padrão, o desenvolvimento da aptidão física específica para o futebol se torna fundamental. E, nesse processo, merecem destaque a composição corporal, a potência aeróbia e a potência anaeróbia. Entretanto, por não fazer parte, de forma importante, da economia do futebol, a preparação dos árbitros tem sido negligenciada ao longo dos anos (CASTAGNA, ABT & D'OTTAVIO, 2007).

Recentemente, alguns estudos avaliaram o desempenho dos árbitros em testes físicos (BARTHA, PETRIDIS, HAMAR, PUHL & CASTAGNA, 2009; CASTAGNA, ABT & D'OTTAVIO, 2002A, 2002B, 2005; CASTAGNA, ABT, D'OTTAVIO & WESTON, 2005), durante as partidas (CASTAGNA & ABT, 2003; CASTAGNA, ABT & D'OTTAVIO, 2004; CASTAGNA & D'OTTAVIO, 2001; D'OTTAVIO & CASTAGNA, 2001; MALLO, NAVARRO, GARCÍA-ARANDA, GILIS & HELSEN, 2008; TESSITORE, CORTIS, MEEUSEN & CAPRANICA, 2007) e as relações existentes entre a performance obtida nos testes físicos e a atuação durante os jogos (CASTAGNA, ABT & D'OTTAVIO, 2002A, 2002B; CASTAGNA & D'OTTAVIO, 2001). No entanto, apesar do local de destaque do futebol brasileiro no cenário internacional, os estudos com árbitros brasileiros são escassos.

CASTAGNA, ABT E D'OTTAVIO (2004) demonstraram que os árbitros de elite do campeonato italiano (série A) são os que percorrem maior distância durante os jogos (~13 km), seguidos pelos árbitros europeus (sem contabilizar os italianos) que atuam na Union of European Football Associations (UEFA) (~11,5 km). Alguns estudos internacionais reportaram que durante partidas oficiais os mesmos se deslocam entre 41,8 e 73,8% do tempo em baixa intensidade (3-13 km/h), 11 a 46,3% em média intensidade (>13-18 km/h) e 4,1 a 17,7% em alta intensidade (>18 km/h) (CASTAGNA, ABT & D'OTTAVIO, 2007). Somado a isso, a cada quatro segundos, aproximadamente, há alteração no modo de deslocamento, totalizando ~1.300 mudanças. Desse total ~45% e ~12%, respectivamente, ocorrem em baixa e alta intensidade (KRUSTRUP & BANGSBO, 2001).

No que se refere ao perfil geral do árbitro de futebol, os dados supracitados devem ser levados em consideração, visto que esses indivíduos apresentam em média 15-20 anos a mais que os jogadores. Além disto, geralmente, os mesmos atuam de forma amadora e não podem ser substituídos durante as partidas (CASTAGNA, ABT & D'OTTAVIO, 2007).

Portanto, diante da importância do árbitro para o jogo de futebol e da carência de trabalhos nacionais acerca da análise de desempenho desses profissionais durante partidas oficiais, o objetivo do presente estudo foi descrever o comportamento de parâmetros relacionados à demanda física (distância percorrida, velocidade e frequência cardíaca) imposta aos árbitros em jogos oficiais e verificar possíveis associações destes parâmetros com componentes da aptidão física (composição corporal e potência aeróbia). Além disso, considerando o aumento das demandas físicas do futebol, é plausível especular que o condicionamento físico dos árbitros influencie a qualidade da sua arbitragem. A fim de testar esta hipótese, o presente trabalho também investigou o nível de correlação entre a composição corporal e a potência aeróbia com o desempenho da arbitragem nas partidas, avaliado pelos critérios estabelecidos no "Manual do observador" da Confederação Brasileira de Futebol (CBF, 2007).

 

Métodos

Amostra

A amostra do estudo foi composta por 11 árbitros profissionais (sexo masculino; 36,36 ± 6,34 anos; IMC = 24,54 ± 1,80 kg/m2; percentual de gordura = 16,45 ± 3,90%; O2máx = 44,98 ± 2,67 ml/kg/min, e; tempo de experiência = 8,90 ± 4,25 anos) do quadro "A" da Federação Norte-Rio-Grandense de Futebol (FNF). Todos os voluntários foram escalados para arbitrar, pelo menos, um jogo do campeonato Potiguar profissional da temporada de 2009. Os critérios de inclusão adotados foram: apresentar pelo menos três anos de experiência no quadro "A" da FNF e não apresentar nenhuma alteração osteomioarticular que limitasse parcial e/ou totalmente a realização dos testes físicos. Todos os participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), conforme resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Protocolo de nº 282/09).

Procedimentos

Inicialmente, foram realizadas a avaliação da composição corporal e o teste de 2.400 metros. Isso ocorreu nos dias de treinamento comum a todos, na última semana antes do início do campeonato Potiguar de 2009. As coletas referentes à análise da demanda física nas partidas ocorreram de acordo com a escala de arbitragem determinada pela FNF, sem que isso causasse qualquer alteração no cronograma da mesma.

Avaliações físicas

Foram realizadas as medidas da massa corporal (kg), estatura (m), IMC (kg/m2) e percentual de gordura. O cálculo do percentual de gordura foi efetivado por avaliador experiente através da plicometria (adipômetro Lange® científico com variação de 0,1 mm), através do protocolo de JACKSON e POLLOCK (1978) de sete dobras cutâneas (subscapular, tricipital, peitoral, axilar média, supra-ilíaca, abdominal e femural média). O teste de 2.400 metros (realizado em terreno plano) proposto por MARGARIA, AGHEMO e PIÑERA LIMAS (1975) foi utilizado para estimar o O2máx dos árbitros.

Avaliação da demanda física durante as partidas

Para avaliação da demanda física imposta aos árbitros durante as partidas foram estabelecidas as seguintes variáveis: distância percorrida (km), velocidade média e máxima (km/h), frequência cardíaca média e máxima (bpm). Para coleta das variáveis relacionadas com a demanda física durante os jogos foi utilizado um GPS (Global Positioning System) de pulso (Garmin® modelo Forerunner 405) com cardiofrequencímetro acoplado. Os árbitros foram, previamente, instruídos sobre o manuseio do equipamento.

Análise do desempenho da arbitragem

A análise do desempenho dos árbitros foi realizada por três avaliadores oficiais credenciados pela FNF. Por haver mais de uma partida por "rodada" no campeonato, somente um avaliador foi responsável por avaliar o desempenho da arbitragem em cada partida. Como instrumento avaliativo foi usado o "Manual do observador", ferramenta padrão - instituída pela CBF - para esse propósito.

Foram contemplados três aspectos para análise de desempenho do árbitro, tendo cada um, tópicos específicos: a) aspecto técnico: 1) posicionamento com bola em jogo, 2) posicionamento com bola fora de jogo, 3) aplicação correta e coerente das regras, 4) coerência nos critérios das decisões, 5) utilização adequada das sinalizações, 6) utilização do som do apito, 7) agilização do jogo, 8) interpretação das vantagens, 9) interpretação da indicação do impedimento e 10) integração com os árbitros assistentes e o quarto árbitro; b) aspecto disciplinar: 11) autoridade constante em campo, 12) arbitragem preventiva, 13) controle emocional, 14) aplicação correta das advertências (cartão amarelo), 15) aplicação correta das expulsões (cartão vermelho), 16) postura na aplicação dos cartões e 17) presença nas jogadas, e; c) aspecto físico: 18) resistência física durante a partida, 19) velocidade (deslocamento rápido) e 20) aceleração.

Para avaliação do desempenho geral da arbitragem adotou-se a recomendação da CBF. Cada aspecto supracitado (técnico, disciplinar e físico) foi avaliado através de seus tópicos correspondentes. Nesse sentido, o avaliador da partida definiu um escore variando de 0-10 para cada um dos 20 tópicos supracitados (ex. aspecto técnico, tópico 1. posicionamento com bola em jogo = 7,0). Após isso, todos os escores foram somados e divididos por 20, sendo definida, portanto, a nota final do árbitro na partida. No tocante à análise do aspecto físico isoladamente, os escores de resistência, velocidade e aceleração foram somados e divididos por três, obedecendo ao mesmo critério definido previamente.

Análise estatística

Para caracterização e disposição dos resultados foi utilizada a estatística descritiva (média e desvio-padrão). Todas as variáveis apresentaram distribuição normal, verificado através do método Shapiro-Wilk. Para análise de diferença (primeiro vs. segundo tempo) foi utilizado o teste t de Student pareado. Para análise de correlação das variáveis analisadas foi utilizado o coeficiente de correlação de Pearson. O pacote estatístico SPSS® versão 15.0 foi utilizado para esses fins, sendo adotado um p-valor < 0,05 como significância estatística.

 

Resultados

Os dados referentes à demanda física imposta aos árbitros nas partidas do campeonato Potiguar de 2009 são apresentados na TABELA 1.

 

 

Na TABELA 2 estão dispostos, separadamente, dados relacionados às exigências físicas referentes ao primeiro e ao segundo tempo de jogo. É possível observar que a velocidade média de deslocamento, assim como a frequência cardíaca média foram superiores no primeiro tempo (p < 0,05).

 

 

Na TABELA 3 encontra-se a análise de correlação entre as variáveis relacionadas às demandas da partida e as variáveis da aptidão física (composição corporal e resistência aeróbia). Houve correlação positiva do O2máx com a distância percorrida no segundo tempo da partida, a velocidade máxima atingida no segundo tempo de jogo e a velocidade máxima durante a partida toda (p < 0,05). O percentual de gordura apresentou correlação negativa com a velocidade máxima empregada no segundo tempo de jogo (p < 0,05). Além disso, foi detectada correlação negativa entre o percentual de gordura e o O2máx (p < 0,01).

 

 

Na TABELA 4 são apresentados os resultados referentes à análise de correlação da composição corporal e do O2máx com o desempenho da arbitragem. É possível observar que o desempenho físico e geral dos árbitros se correlacionou, negativamente, com o percentual de gordura e, positivamente, com o O2máx.

 

 

Discussão

O presente estudo teve como objetivo descrever a demanda física imposta aos árbitros de futebol durante partidas oficiais. Além disto, outro objetivo do estudo foi investigar a influência do nível de aptidão física sobre o desempenho da arbitragem. Os principais achados foram: a) os parâmetros relacionados à demanda física da partida (distância percorrida, velocidade e frequência cardíaca) apresentaram comportamento similar em comparação ao, previamente, observado em árbitros internacionais, caracterizando o alto padrão de demanda física destes profissionais, b) o critério de avaliação da arbitragem relacionado ao aspecto físico apresentou correlação com o O2máx (r = 0,748) e com o percentual de gordura (r = -0,758) e c) com relação à nota geral atribuída à arbitragem, também foram observadas correlações com o O2máx (r = 0,530) e com o percentual de gordura (r = -0,496).

A média de idade observada foi semelhante à encontrada por DA SILVA e RODRIGUEZ-AÑES (2001) em árbitros paranaenses (34,5 anos) e RONTOYANNIS, STALIKAS, SARROS e VLASTARIS (1998), ao avaliar árbitros gregos (36,3 anos). Esses autores apontam ainda que a idade dos árbitros, quando comparada com a dos atletas, é superior em cerca de 10 anos, e que essa diferença é menor em outros esportes. CASTAGNA, ABT e D'OTTAVIO (2007) reportam delta ainda maior nesse aspecto, diferença de 15-20 anos entre os atletas e os árbitros.

Com relação à composição corporal, o valor médio de percentual de gordura observado (16,5%) é muito semelhante ao encontrado no trabalho de RONTOYANNIS et al. (1998) (16,7%) e DA SILVA e RODRIGUEZ-AÑES (2003) (17,3%). Apesar do número de estudos com esse foco de investigação ser limitado, os dados disponíveis indicam que o nível de adiposidade da amostra avaliada encontra-se próximo aos índices observados na elite internacional (HELSEN & BULTYNCK, 2004).

A respeito da demanda física imposta aos árbitros, os resultados reportados parecem corroborar os dados apresentados na literatura internacional. Tem sido relatado que os árbitros de futebol percorrem aproximadamente 10 km em partidas oficiais em uma intensidade média de 85-90% da frequência cardíaca máxima (CASTAGNA, ABT e D'OTTAVIO, 2007).

A média da distância percorrida (~10,5 km) pelos árbitros potiguares foi superior ao valor médio percorrido por árbitros da primeira divisão australiana e inglesa (9,4 km) (CATTERALL, REILLY, ATKINSON & COLDWELLS, 1993; JOHNSON & MCNAUGHTON, 1994), árbitros brasileiros - série A e B - (9,15 km) (DA SILVA, FERNANDES & FERNANDEZ, 2008) e árbitros dinamarqueses (10 km) (KRUSTRUP & BANGSBO, 2001). Entretanto, os árbitros avaliados no presente estudo apresentaram valores inferiores aos percorridos por árbitros italianos da primeira divisão do Calcio (11,4 km e 13 km) (CASTAGNA, ABT & D'OTTAVIO, 2004; D'OTTAVIO & CASTAGNA, 2001) e europeus (não-italianos) filiados a UEFA (11,2 km) (CASTAGNA & D'OTTAVIO, 2001). Essa distância é semelhante à percorrida pelos jogadores (meio-campistas) que mais se movimentam durante as partidas (STOLEN, CHAMARI, CASTAGNA & WISLOFF, 2005).

É importante salientar que pelo fato do futebol ser uma modalidade acíclica aberta, diversos fatores devem influenciar o volume de deslocamento do árbitro na partida, tais como o padrão tático das equipes, condições climáticas, situações específicas de jogo, estado de fadiga dos jogadores, entre outros. Esses fatores poderiam explicar a grande variabilidade no padrão de deslocamento nas investigações acima citadas. Além disso, a própria condição física do árbitro influencia na quantidade de deslocamento durante os jogos (CASTAGNA, ABT & D'OTTAVIO, 2002a; CASTAGNA & D'OTTAVIO, 2001).

Diante da alta demanda física imposta aos árbitros, a capacidade cardiorrespiratória parece ser fundamental para o desempenho dos mesmos. Já é sabido que o VO2máx é o melhor indicador de capacidade cardiorrespiratória (ACSM, 2000). CASTAGNA, ABT e D'OTTAVIO (2007) e STOLEN et al. (2005) apontam que o árbitro de futebol profissional possui em média 45-50 ml/kg/min de O2máx. Os resultados dos árbitros potiguares encontram-se dentro desse perfil. De fato, já foi observado que o nível adequado de VO2máx parece influenciar diretamente o desempenho físico dos árbitros durante as partidas (CASTAGNA & D'OTTAVIO, 2001). Somado a isso, dada a forte correlação encontrada entre o percentual de gordura e o O2máx nos árbitros da FNF, a composição corporal é outro aspecto que deve ser considerado na avaliação física destes profissionais.

CASTAGNA e D'OTTAVIO (2001) verificaram que árbitros italianos com maior O2máx percorreram maiores distâncias nos jogos, além de terem permanecido mais tempo em maior intensidade de deslocamento e menos tempo em repouso. Ainda nessa linha, CASTAGNA, ABT e D'OTTAVIO (2002a) verificaram, em árbitros da comissão nacional de arbitragem da Itália, correlação positiva entre a distância percorrida em alta velocidade no segundo tempo de partidas oficiais e a distância atingida no teste de 12 minutos. Os dados reportados no presente estudo parecem confirmar tais achados, haja vista que houve correlação positiva entre o O2máx e a distância percorrida no segundo tempo. Da mesma forma, o O2máx também apresentou correlação positiva com a velocidade máxima de movimentação.

A investigação referente à associação entre a potência aeróbia e o desempenho nas partidas poderia avançar, significativamente, através de padronização dos testes empregados nos estudos. No presente estudo foi utilizado o teste de 2.400 m, pela facilidade de aplicação e interpretação dos resultados. Entretanto, no cenário internacional os trabalhos têm realizado, preferencialmente, testes intermitentes, como o "Yo-Yo Intermittent Recovery Test", por apresentar características semelhantes ao futebol (CASTAGNA, ABT & D'OTTAVIO, 2007; KRUSTRUP, MOHR, NYBO, JENSEN, NIELSEN & BANGSBO, 2006). Sem dúvida, essa é uma limitação do presente estudo. CASTAGNA, ABT e D'OTTAVIO (2005) verificaram que o teste de corrida de 12 minutos não foi capaz de detectar diferença no desempenho aeróbio de árbitros de nível alto (série A e B do campeonato italiano), médio (série C) e baixo (série D). Já o "Yo-Yo Intermittent Recovery Test" mostrou-se bastante sensível para detectar estas diferenças.

No que diz respeito à análise dicotômica entre o primeiro e o segundo tempo de jogo, só foi verificada diferença entre a velocidade média e a frequência cardíaca média (p-valor < 0,05). Estes resultados são conflitantes aos apresentados previamente na literatura. CASTAGNA e D'OTTAVIO (2001) verificaram diferença na distância percorrida por árbitros italianos nos diferentes tempos de jogo, havendo queda de 6% na segunda etapa (5,9 vs. 5,6 km). D'OTTAVIO e CASTAGNA (2001) avaliando árbitros da primeira divisão da Itália, observaram dados semelhantes, com diminuição de 4,1% no segundo tempo (5,8 vs. 5,6 km). Entretanto, DA SILVA, FERNANDES e FERNANDEZ (2008), ao monitorar árbitros brasileiros, não encontraram diferença na distância percorrida durante a primeira e a segunda etapa (4,6 vs. 4,5 km).

Apesar da redução na velocidade e na frequência cardíaca média dos árbitros durante o segundo tempo, a velocidade máxima e a frequência cardíaca máxima, indicadores de movimentação em alta intensidade, permaneceram semelhantes aos valores observados no primeiro tempo. Tal fato parece corroborar os achados de CASTAGNA e D'OTTAVIO (2001) e DA SILVA, FERNANDES e FERNANDEZ (2008) que não observaram diferença na distância percorrida em intensidade máxima entre o primeiro e o segundo tempo. D'OTTAVIO e CASTAGNA (2001), entretanto, encontraram maior distância percorrida em velocidade máxima (>24 km/h) no segundo tempo em comparação ao primeiro tempo (225 vs. 202 m).

Com relação à avaliação da arbitragem, os resultados apresentados corroboram a hipótese inicial de que a aptidão física influencia o desempenho dos árbitros. Estes dados suportam o pressuposto que a qualidade da preparação física e o consequente desenvolvimento da aptidão física desses profissionais são aspectos que podem auxiliar a atuação dos mesmos.

Sendo o futebol dependente, de forma predominante, do metabolismo aeróbio, é plausível especular que a maior potência aeróbia dos árbitros maximize sua movimentação durante a partida, permitindo o acompanhamento das jogadas de forma mais precisa. Além disso, a capacidade cardiorrespiratória adequada maximiza a recuperação entre esforços intermitentes de alta intensidade, que são característicos do futebol moderno (STOLEN et al., 2005). Isso pode facilitar o deslocamento do árbitro na partida, sem prejuízo no desempenho das ações em intensidade alta (>18 km/h) e máxima (>24 km/h) (CASTAGNA, ABT & D'OTTAVIO, 2007; KRUSTRUP & BANGSBO, 2001).

Somado ao exposto anteriormente, o baixo percentual de gordura favorece o maior O2 relativo, além de beneficiar ações relacionadas ao desenvolvimento de força rápida, como sprints de curta duração (15-20 m) em velocidade máxima (>24 km/h). Em contra partida, o excesso de peso e gordura corporal poderia afetar, negativamente, o padrão de movimentação dos árbitros e, por consequência, o julgamento das jogadas. Em lances decisivos e polêmicos, esse acompanhamento poderá determinar o resultado da partida.

É importante ressaltar que, apesar das correlações observadas, uma limitação do presente estudo foi a ausência de testes mais específicos para avaliar os componentes envolvidos na aptidão para o desempenho esportivo. É plausível especular que estes componentes também apresentem relação com o desempenho dos árbitros.

Os achados do presente estudo indicam que os parâmetros associados à sobrecarga física/fisiológica da partida de futebol, analisados nos árbitros da FNF, são muito similares ao observados previamente em árbitros internacionais. Estes dados revelam que a demanda física do árbitro é muito semelhante à demanda dos jogadores que apresentam o maior nível de movimentação. No presen

Aptidão física relacionada ao desempenho motor em escolares de 7 a 15 anos

Posted: 12 Dec 2012 03:19 AM PST


Introdução

Os benefícios do desenvolvimento da aptidão física sobre a saúde estão bem evidenciados na literatura científica. Dentre eles, destacam-se: menor a incidência dos fatores de risco para doenças crônicas, redução da adiposidade total e abdominal, melhora da saúde mental e corporal e aumento do desempenho acadêmico (Glaner, 2003; Kvaavik, Klepp, Tell, Meyer & Batty, 2009; Ortega, Ruiz, Castillo & Sjostrom, 2008). Além disso, a aptidão física está mais fortemente relacionada à prevenção da síndrome metabólica do que a atividade física (Rizzo, Ruiz, Hurtig-Wennlof, Ortega & Sjostrom, 2007).

No entanto, há vários estudos mostrando que os níveis de aptidão física têm declinado ao longo das últimas décadas (Malina, 1996; Tomkinson & Olds, 2007; Tomkinson, Olds, Kang & Kim, 2007; Westerstahl, Barnekow-Bergkvist, Hedberg & Jansson, 2003). Estimativas provenientes dos Estados Unidos apontam que a prevalência de aplicação de testes de aptidão física no ano 2000 foi de 65% em escolas de todos os níveis (Morrow Junior, Fulton, Brener & Kohl, 2008). No Brasil, não há dados científicos acerca dessa proporção, mas percebe-se que esta prática está em decadência no contexto escolar (observação empírica).

Conforme Guedes (2007), a aptidão física pode ser dividida em dois componentes. O primeiro corresponde à aptidão física relacionada à saúde e envolve basicamente as seguintes capacidades físicas: resistência cardiorrespiratória, força/resistência muscular e flexibilidade (Guedes, 2007). O segundo componente diz respeito à aptidão física relacionada ao desempenho motor, e abrange as seguintes habilidades: potência (ou força explosiva), velocidade, agilidade, coordenação e equilíbrio (Guedes, 2007). A maior parte dos estudos encontrados na literatura avaliou apenas o primeiro componente. Poucos estudos sobre o segundo foram localizados. Ainda assim, a maioria deles é apenas descritivo.

Um estudo indicou que o nível de esforço físico nas aulas de Educação Física não é suficiente para aumentar a aptidão física (Guedes & Guedes, 2001). Outro estudo nacional feito com escolares identificou que a prática de atividades física com intensidade moderada a vigorosa explicou somente 4-8% da variabilidade do consumo máximo de oxigênio (Guedes, Guedes, Barbosa & Oliveira, 2002). Acrescentando, a aptidão física adquirida na infância e adolescência tende a perdurar até a fase adulta (Malina, 1996; Twisk, Kemper & Van Mechelen, 2000).

Logo, a mensuração da aptidão física em jovens consiste em uma importante ferramenta disponível aos professores de Educação Física para avaliar e monitorar o desempenho dos seus alunos. Além disso, é importante determinar se o nível de aptidão física difere de acordo com determinadas características, tanto do aluno, quanto do contexto. Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi descrever a aptidão física relacionada ao desempenho motor de crianças e adolescentes e examinar as diferenças de acordo com sexo, idade, tipo de escola e região geográfica da escola.

 

Método

Delineamento

Trata-se de um estudo epidemiológico com desenho transversal. Esta pesquisa foi desenvolvida como parte de um projeto nacional, denominado "Projeto Esporte Brasil" (PROESP). Este projeto foi lançado em 2002 pelo Ministério dos Esportes, e teve, dentre outros objetivos, traçar o perfil de aptidão física das crianças e adolescentes brasileiros. Detalhes adicionais sobre o respectivo projeto podem ser conferidos em outra publicação (Marques, Gaya, Silva & Torres, 2005), bem como no seguinte endereço eletrônico: www.proesp.ufrgs.br.

Aspectos éticos

O protocolo do estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Pelotas. Um consentimento verbal foi obtido dos diretores de cada instituição de ensino incluída na amostra. Além disso, os pais ou responsáveis por cada aluno deveriam assinar um termo de consentimento autorizando-o a participar do estudo.

Amostra e amostragem

O presente estudo ocorreu no município de Rio Grande, RS, cuja população estimada é de aproximadamente 200 mil pessoas. A amostra foi selecionada em dois estágios. Primeiro, selecionaram-se 10 escolas com ensino fundamental (de 90, na época de estudo), as quais foram previamente estratificadas por tipo de escola (pública e privada) e pela localidade geográfica (rural e urbana). Com o intuito de assegurar a proporcionalidade existente no município, foram selecionadas oito escolas públicas e duas privadas, bem como três rurais e sete urbanas.

O próximo passo do processo amostral consistiu na seleção das turmas de cada série. Quando a escola possuísse apenas uma turma, esta era automaticamente selecionada. Se tivesse mais de uma turma por série, era feita uma seleção aleatória, com probabilidade proporcional ao número de escolares em cada série no município de Rio Grande.

Foram selecionados, em média, aproximadamente 70 escolares por série do ensino fundamental (1ª a 8ª) de cada escola incluída na amostra. Os critérios de inclusão eram: estar devidamente matriculado na escola no respectivo ano letivo; e ter idade entre sete e 15 anos. Aqueles escolares cuja idade não atingisse ou extrapolasse a faixa etária do estudo, foram avaliados junto com seus colegas de classe, porém foram posteriormente excluídos das análises. Os alunos que não quiseram participar, tinham alguma limitação física para fazer os testes, que não trouxeram o termo de consentimento assinado ou que se ausentaram no dia das avaliações, foram considerados como perdas. A reposição das perdas não foi permitida para não causar um possível viés de seleção.

Logística

A equipe de examinadores foi formada por seis profissionais de Educação Física, todos devidamente treinados e padronizados para realizar os testes e medidas do estudo. Um estudo piloto, envolvendo cerca de 100 alunos de quatro turmas de uma escola não incluída na amostra, foi realizado com o propósito de testar os instrumentos e a logística do estudo. Ao longo do trabalho de campo, os alunos eram informados com pelo menos um dia de antecedência sobre a pesquisa e os procedimentos necessários para participar das avaliações físicas. Os testes eram feitos preferencialmente no período das aulas de Educação Física. A coleta de dados ocorreu entre os meses de setembro e novembro de 2004.

Variáveis dependentes

As variáveis dependentes corresponderam aos resultados dos testes de aptidão física relacionada ao desempenho motor. Salienta-se que os testes de aptidão física relacionada à saúde também foram aplicados, porém foram objeto de pesquisa de outro estudo já publicado (Dumith, Azevedo & Rombaldi, 2008). Desse modo, cinco testes foram empregados neste trabalho, os quais estão descritos resumidamente a seguir (entre parênteses, está a principal habilidade motora envolvida em cada um deles).

Salto em distância parado (potência muscular de membros inferiores)

O aluno ficava parado, com os pés atrás de uma linha feita no chão. Por um movimento de flexão do joelho e quadril deveria pegar impulsão e saltar a distância máxima que conseguisse. Uma tentativa era permitida antes do salto oficial. A distância entre a linha no chão e a parte posterior dos pés era mensurada em centímetros por meio de uma fita métrica.

Arremesso de "medicine-ball" (potência muscular de membros superiores)

O aluno devia sentar no chão, com as costas encostadas na parede, e o quadril num ângulo de 90º. Com as duas mãos, devia segurar, encostado no peito, uma bola pesando 1,5 kg. Ao sinal, jogavam a bola para frente, numa trajetória parabólica, de modo a lançarem o mais longe que conseguisse. A distância da parede até o primeiro ponto onde a bola tocasse o solo era registrada em centímetros, por meio de uma fita métrica.

Barra modificada (força de membros superiores)

Uma armação de madeira foi construída de modo a posicionar a barra em diversas alturas. O aluno devia deitar sobre um colchonete, posicionado sob a barra. A barra era colocada numa altura em que os braços do aluno ficassem totalmente estendidos para cima. O movimento consistia numa flexão dos cotovelos, com o quadril totalmente reto, até o seu queixo atingir a altura da barra. O aluno devia realizar o máximo de repetições que conseguisse, sem tocar o tronco ou o quadril no solo. Eram contabilizados apenas os movimentos corretos, e não havia limite de tempo.

Corrida de 20 metros (velocidade)

Uma pista de 20 metros, reta e sem obstáculos, era demarcada, preferencialmente na quadra de esportes da escola. O aluno deveria percorrer a distância da pista no menor tempo que conseguisse. O tempo era registrado por um cronômetro em segundos e centésimos. O teste era feito por um aluno de cada vez. Salienta-se que quanto maior o tempo, pior o desempenho.

Quadrado (agilidade e coordenação)

Quatro cones, separados por uma distância de quatro metros entre si, eram posicionados no chão de modo a formar a figura de um quadrado. Eram feitas quatro corridas entre os cones (descritas abaixo), alternando o sentido dos movimentos, sendo que o aluno deveria tocar com a mão sobre o cone quando o atingisse. Os alunos partiam de trás do primeiro cone até o que estivesse em sua diagonal (1), depois iam em direção ao cone situado a sua esquerda (2), depois novamente em diagonal corriam em direção ao terceiro cone (3), e por fim retornavam à direita ao cone de onde partiram (4). Cada aluno era estimulado a memorizar a sequência de movimentos e realizá-la no menor tempo possível. O tempo era registrado em segundo e centésimos por meio de um cronômetro. Salienta-se que quanto maior o tempo, pior o desempenho.

Variáveis independentes

Foram consideradas como variáveis independentes e possíveis fatores de confusão: sexo (masculino ou feminino); idade em anos completos e posteriormente categorizada em três grupos (sete a nove, 10 a 12 e 13 a 15 anos); tipo de escola (pública ou privada); e localidade geográfica da escola (rural ou urbana).

Procedimentos estatísticos

Para a descrição dos testes empregados foram utilizadas as medidas da estatística descritiva para variáveis contínuas. A descrição das variáveis independentes se deu por meio de proporções. As análises cruzando os escores de cada teste com as variáveis independentes foram feitas por ANOVA (análise de variância). As análises multivariáveis foram feitas empregando-se a técnica de regressão linear múltipla, ajustando-se o efeito de cada variável independente para as demais. O nível de significância estatística foi de 5% para testes bicaudais. A limpeza do banco e análises dos dados foi feita no programa STATA (STATACORP, TX, 2000).

 

Resultados

Ao todo, foram avaliados 526 escolares entre sete e 15 anos do ensino fundamental de Rio Grande. Destes, 52,7% pertenciam ao sexo masculino, 12,9% estudavam em escolas particulares e 90,7% estudavam em escolas da zona urbana do município. A média de idade foi 11,0 anos (DP = 2,1). A descrição sumária dos valores obtidos em cada teste relacionado ao desempenho motor está apresentada na TABELA 1.

Os resultados das análises brutas e ajustadas para cada um dos cinco testes aplicados estão apresentados nas TABELAS 2 a 6. Quanto ao desempenho no teste de salto em distância, observa-se que foi superior para os rapazes, para os escolares da zona urbana, e que aumentou com a idade (TABELA 2). Não houve diferença conforme o tipo de escola (pública ou privada).

O desempenho no teste de arremesso de "medicine-ball" foi significativamente superior para os rapazes, para os escolares da rede privada e para os que estudavam em escolas da zona urbana (TABELA 3). Além disso, observa-se que aumentou de acordo com as categorias de faixa etária.

Com relação ao desempenho no teste de barra modificado, observa-se que foi maior para os rapazes e para aqueles de maiores faixas etárias (TABELA 4). No entanto, não houve diferenças significativas de acordo com o tipo de escola nem com a região geográfica.

No que se refere ao teste de corrida de 20 metros, o desempenho foi maior para os rapazes, para os escolares da zona urbana e para aqueles de maiores faixas etárias (TABELA 5). Não houve diferença entre escolares da rede pública e privada.

Por último, observa-se que o desempenho no teste do quadrado, assim como no teste acima mencionado, foi superior para os rapazes, para os escolares da zona urbana e para aqueles de maiores faixas etárias (TABELA 6). No entanto, após ajustes para as demais variáveis independentes, os alunos de escolas públicas obtiveram um melhor desempenho, apesar da pequena diferença em relação àqueles de escolas particulares.

Os modelos de regressão linear múltipla apontaram que as variáveis sexo, idade, tipo de escola e localidade geográfica da escola explicaram, conjuntamente, 40%, 64%, 22%, 41% e 44% da variabilidade dos testes de salto em distância, arremesso de "medicine-ball", barra modificada, corrida de 20 metros e quadrado, respectivamente. O principal preditor isolado de cada um destes testes, com exceção da barra, foi a idade (em anos), seguido pelo sexo (este foi o principal preditor no teste da barra). Localidade geográfica e tipo de escola explicaram apenas uma pequena parcela da variância de cada teste.

 

Discussão

O objetivo deste estudo foi descrever os componentes da aptidão relacionada ao desempenho motor em jovens de um município localizado ao Sul do Brasil, bem como examinar se há diferença conforme sexo, idade, tipo de escola e região geográfica da escola. Uma bateria de cinco testes motores foi aplicada a 526 alunos entre sete e 15 anos do ensino fundamental.

Os resultados apontam que o desempenho em todos os testes foi superior para os rapazes e aumentou diretamente com a faixa etária. Aliás, estes foram os principais preditores da aptidão física dentre as variáveis examinadas, sugerindo que as características de cunho biológico respondem pela maior parte da variabilidade dos níveis de aptidão física, ao menos para crianças e adolescentes. O desempenho motor crescente com a idade e maior para o sexo masculino é um achado consistente na literatura, também sendo verificado, por exemplo, em um estudo feito com 1800 escolares de sete a 17 anos de Londrina, PR (Guedes, 2007),

O tipo de escola só teve influência sobre o desempenho no teste de arremesso de "medicine-ball", em que os escolares da rede privada atingiram escores médios superiores aos da rede pública. Ausência de diferença pelo tipo de escola, nesta mesma população, também foi notada para os componentes de aptidão física relacionadas à saúde (Dumith, Azevedo & Rombaldi, 2008). Quando levado em consideração o nível de atividade física, dois estudos nacionais também não notaram diferenças para alunos de escolas públicas e privadas (Hallal, Matsudo, Matsudo, Araújo, Andrade & Bertoldi, 2005; Silva, Rivera, Ferraz, Pinheiro, Alves, Moura & Carvalho, 2005). Esses achados sugerem não haver diferença na qualidade das aulas de Educação Física entre escolas da rede pública ou privada. Outra hipótese é que, havendo diferenças, as aulas de Educação Física não exercem efeito sobre o nível de aptidão física dos indivíduos. No entanto, tais hipóteses precisam ser mais bem exploradas por outros estudos delineados especificamente com este objetivo.

Escolares da zona urbana atingiram um melhor desempenho em todos os testes, exceto no teste de barra modificada. Neste, o número de repetições até foi maior do que os escolares da zona rural, mas não atingiu significância estatística, provavelmente devido à sua grande variabilidade amostral, o que pode ter afetado o poder das análises. Um estudo com escolares do norte gaúcho e oeste catarinense constatou que os rapazes da zona rural possuem aptidão física superior aos da zona urbana (Glaner, 2005). No entanto, no trabalho citado, foram analisados apenas os componentes de aptidão física relacionados à saúde. Por sua vez, outro estudo desenvolvido com escolares de sete a 10 anos do sexo masculino de Portugal encontrou resultados contraditórios, isto é, rapazes da zona urbana atingiram níveis superiores em alguns testes e inferiores em outros (Rodrigues, Bezerra & Saraiva, 2005). Dessa forma, o efeito da localização geográfica sobre o nível de aptidão física ainda não está bem determinado, e pode variar conforme o contexto da população estudada. Além disso, tal efeito pode ser influenciado pelo estado socioeconômico, bem como por outros fatores, tanto ambientais (por exemplo, disponibilidade de espaços públicos para a prática de esportes) quanto sociais (por exemplo, influência dos amigos e pessoas próximas no comportamento relacionado à prática de atividade física).

As variáveis examinadas (sexo, idade, tipo de escola e região geográfica) explicaram cerca de dois terços (65%) da variância no teste de arremesso de "medicine-ball". Para os testes de salto em distância, corrida de 20 metros e quadrado, tais valores ficaram próximos a 50%. Entretanto, quando considerado o desempenho no teste de barra, essas variáveis explicaram apenas cerca de 20% de sua variabilidade. Uma possível explicação consiste na distribuição assimétrica (assimetria à direita) observada para este teste, diferentemente dos demais que apresentaram distribuição próxima da normalidade. Salienta-se, contudo que, mesmo se fosse utilizado um teste não-paramétrico (Kruskall-Wallis, por exemplo) os resultados permaneceriam basicamente os mesmos daqueles apresentados nas tabelas. Logo, optou-se pela utilização de testes paramétricos e pela não-transformação das variáveis para facilitar a compreensão dos achados.

Vale mencionar que um ajuste adicional para o índice de massa corporal (IMC) também foi feito, com o intuito de verificar se o desempenho em cada teste pudesse estar sendo confundido pelo IMC. No entanto, os resultados ficaram muito semelhantes e, portanto, não foram incluídos neste artigo. Isso significa que os achados apresentados neste estudo são independentes do peso e altura de cada indivíduo.

Ressalta-se que o desempenho avaliado refere-se apenas ao escore bruto obtido em cada teste, não tendo sido utilizado nenhum padrão de referência para classificar tais valores. Essa escolha se deu pela diversidade de critérios existentes na literatura e pelo fato de que esses valores normativos mudam de acordo com a população. Dessa forma, optou-se por descrever os valores absolutos de cada teste e compará-los segundo algumas características.

Algumas vantagens do estudo merecem ser destacadas. Primeiro, o método de seleção amostral permitiu que a amostra de jovens selecionados fosse representativa dos escolares do ensino fundamental de Rio Grande, RS. Segundo, a realização dos testes feita geralmente pelo mesmo avaliador (cada examinador ficou responsável pela aplicação de um a dois testes) atenuou a possibilidade de viés de mensuração. Terceiro, foram aplicados testes bem conhecidos e utilizados em várias baterias de aptidão física (AAHPERD, 1976; Committee for the Development of Sport, 1988; Guedes & Guedes, 2002; Welk, Marrow & Falls, 2002).

Dentre as limitações do estudo, estão a não-descrição das perdas, uma vez que estas não foram registradas. No entanto, a equipe que trabalhou na coleta de dados presenciou muito poucas recusas de alunos. A maior parte dos que não puderam participar das avaliações foi porque não trouxeram o termo de consentimento assinado pelos pais ou responsáveis (embora muitos desses demonstrassem interesse em participar). A ausência de uma variável de maturação sexual/biológica também deve ser salientada, uma vez que ela difere entre e dentro de cada gênero e pode influenciar o nível de aptidão física. Outra limitação consiste na ausência da mensuração de um indicador socioeconômico do próprio aluno e de outras variáveis como cor da pele, por exemplo. Cabe ressaltar, contudo, que a prioridade estava na bateria de testes motores e logisticamente a coleta de outras variáveis, mesmo que por meio de questionário, era um tanto complicada logisticamente.

Como recomendações, sugere-se a realização de pesquisas com o mesmo enfoque em outras regiões do Brasil, a fim de testar a consistência dos achados e procurar entender possíveis diferenças. Também se propõem que testes de aptidão física sejam administrados com maior frequência dentro do ambiente escolar, e que os alunos tenham seu desempenho monitorado ao longo do ano letivo pelos professores de Educação Física. Atenção especial deve ser dada aos escolares da zona rural, pois apresentaram desempenho inferior aos seus pares de escolas da zona urbana. No entanto, os resultados obtidos por alunos de escolas públicas e privadas foram muito semelhantes para os testes considerados. O desenvolvimento da aptidão física na infância e na adolescência deve ser estimulado como um meio de melhorar a condição de saúde tanto nesta fase da vida quanto na idade adulta.

 

Agradecimentos

Agradecemos a toda a equipe envolvida no PROESP-BR, em especial ao coordenador do projeto no Rio Grande do Sul, Prof. Adroaldo Gaya. Os autores também agradecem aos diretores e professores das escolas que fizeram parte do estudo, bem como aos alunos e aos seus pais/responsáveis pelo consentimento em participar da pesquisa. O primeiro autor do artigo agradece ao CNPq pelo apoio concedido por meio de bolsa de estudos no momento da redação deste manuscrito.

 

Referências

AMERICAN ALLIANCE FOR HEALTH, PHYSICAL EDUCATION, RECREATION AND DANCE (AAHPERD) . Youth fitness test manual. Washington: AAHPERD, 1976.         [ Links ]

COMMITTEE FOR THE DEVELOPMENT OF SPORT. Handbook for the EUROFIT tests of physical fitness. Rome: Council of Europe, 1988.         [ Links ]

DUMITH, S.C.; AZEVEDO, M.R.; ROMBALDI, A.J. Aptidão física relacionada à saúde de alunos do ensino fundamental do município de Rio Grande, RS, Brasil. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, São Paulo, v.14, n.5, p.454-59, 2008.         [ Links ]

GLANER, M.F. Importância da aptidão física relacionada à saúde. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, Florianópolis, v.5, n.2, p.75-85, 2003.         [ Links ]

_____. Aptidão física relacionada à saúde de adolescentes rurais e urbanos em relação a critérios de referência. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v.19, n.1, p.13-24, 2005.         [ Links ]

GUEDES, D.P. Implicações associadas ao acompanhamento do desempenho motor de crianças e adolescentes. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v.21, p.37-60, 2007. Número especial.         [ Links ]

GUEDES, D.P.; GUEDES, J.E.R.P. Esforços físicos nos programas de educaçäo física escolar. Revista Paulista de Edu

As aulas de Educação Física na escola são suficientes para obtenção da saúde?

Posted: 11 Dec 2012 07:36 AM PST



Hoje em dia, o cotidiano é muito agitado. Pelo menos em um turno, há aulas; depois, são as tarefas de casa, as aulas de língua estrangeira, a família, as brincadeiras, os amigos, os programas favoritos de televisão, enfim... É bastante coisa para se fazer em um único dia. Assim, com tantos compromissos e tarefas diárias, muitas vezes não sobra tempo para a prática de alguma atividade física. Mas será que essa atividade é mesmo tão importante? Até porque, existe uma matéria dedicada somente a isso.

As aulas de Educação Física escolar realmente objetivam o desenvolvimento pessoal do aluno. Por meio do movimento, são ensinados valores múltiplos que vão desde o desenvolvimento físico, passando pelo caráter lúdico - através dos jogos e brincadeiras -, e atingindo até a conscientização de valores morais, como o respeito e o trabalho em grupo. Entretanto, a principal função das aulas de Educação Física é propiciar aos alunos condições de saúde e qualidade de vida melhores.

No entanto, a freqüência dessas aulas varia de uma a três vezes por semana, dependendo da escola. É muito pouco tempo para que os objetivos sejam atingidos. Por isso, o professor de Educação Física precisa da colaboração do aluno, que deve agir em benefício de sua própria saúde.

O processo deve acontecer da seguinte forma: o professor passa conteúdos variados para os alunos - incluem-se aí os jogos, as atividades pré-esportivas, as brincadeiras, etc. - e os alunos, por sua vez, devem realizar as atividades sugeridas, apreendendo e, principalmente, contribuindo para a melhora de sua saúde. Mas só isso não basta! Os alunos também devem escolher as atividades que mais lhes agradam e procurar complemento para elas fora do horário de aula.

Existem as mais variadas atividades. São recomendáveis as "escolinhas" esportivas - que às vezes são oferecidas pela própria escola -, as escolas de natação e as academias de ginástica. A vantagem desses locais é que, na maioria deles, existem profissionais capacitados na área de Educação Física que garantem a continuidade do trabalho que o professor da escola está desenvolvendo. Mesmo que a opção seja outra atividade, sem a presença de um professor, é importante que ela seja feita sistematicamente. Caminhadas, prática de esportes com os amigos e esportes radicais - skate, surfe, etc. - também são válidos se feitos regularmente.

Conclui-se, portanto, que a Educação Física escolar ajuda bastante na obtenção de saúde, mas ela não é a solução para todos os problemas. Assim, mesmo que o dia-a-dia esteja bastante ocupado, é importante encontrar um "tempinho" para prática de alguma atividade física, o que garante uma vida mais saudável e, conseqüentemente, mais ativa e produtiva.

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