EDUCAÇÃO FÍSICA DO PROFESSOR WILLIAM PEREIRA

Este blog é a continuação de um anterior criado pelo Professor William( http://wilpersilva.blogspot.com/) que contém em seus arquivos uma infinidades de conteúdos que podem ser aproveitados para pesquisa e esta disponível na internet, como também outro Blog o 80 AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA (http://educacaofisica80aulas.blogspot.com/ ) que são conteúdos aplicados pelo Professor no seu cotidiano escolar.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Notícias da Educação Física

Notícias da Educação Física


O Treinamento físico e Mental

Posted: 21 Nov 2012 02:10 AM PST


Toda equipe precisa lutar para atingir o ponto máximo nos planos técnico e tático. Isto só é possível com muito trabalho nos campos físico e mental. Uma equipe campeã se dedica ao preparo físico e mental ao extremo.

Treinamento das Habilidades Perceptivo-Motoras

Acuidade Visual - Na média, as pessoas podem distinguir detalhes a 4,5metros de distância, utilizando a visão central, ou seja, o foco para onde olhamos num dado instante. Por isso, arremessos e passes até esta distância são recomendados.

Visão Periférica - Os processos de percepção da visão periférica e visão central são independentes. A visão periférica possibilita a reação a um movimento ocorrido fora do foco de nossa visão (visão central). Não se trata apenas da detecção de eventos que estão ocorrendo na periferia, mas também da taxa de resposta a esses estímulos periféricos. Devemos ver a bola utilizando a visão central e, ao mesmo tempo, visualizarmos e reagirmos a movimentos de companheiros e adversários através da visão periférica. Esta deve ser treinada.

Percepção de Profundidade - É a capacidade de o indivíduo calcular com precisão a distância entre ele e outro objeto, no ambiente em que se encontram, e de avaliar as distâncias comparativas e as profundidades de dois ou mais objetos, no campo visual. Fundamental no arremesso e no passe.
Tempo de reação visual - É o tempo (na casa dos 200ms) entre a apresentação de um estímulo visual inesperado e o início da resposta àquele estímulo.
Habilidades de coincidência temporal - São aquelas que exigem que as ações sejam iniciadas em um momento preciso, como a recepção de um passe, por exemplo.

Treinamento Mental

Pirâmide psicológica do alto rendimento
1. o perfil psicológico/personalidade do indivíduo envolvido
2. a psicologia na estratégia de performance máxima
3. enfrentando estratégias de adversidade
Áreas específicas do treinamento mental
1. Autoconfiança
2. Estabelecimento de objetivos (determine objetivos realistas e específicos, com prazos adequados e procure subir degrau a degrau);
3. Gerenciamento do estresse
4. Imagem e visualização (primeiramente, pratique e aperfeiçoe a técnica em sua mente, para depois praticá-la fisicamente. Aprimore a mentalização das técnicas e sua performance irá te surpreender);
5. Concentração e atenção (nos momentos em que temos sucesso em executar uma técnica em alta performance, nossa mente sempre estava focada no objetivo);
6. Motivação (a crítica e a auto-crítica devem ser sempre positivas e construtivas).

Estabelecimento de objetivos
específicos e mensuráveis; difíceis, mas reais; tanto de rápido quanto de longo alcance; de performance, ao invés de resultados; positivos, ao invés de negativos; identificar uma data alvo para atingir cada objetivo; registrar os objetivos por escrito; avaliação contínua do progresso. Se é rápido, amplie suas metas, se não redefina-as.

Gerenciamento do estresse
ambiente - treinadores podem reduzir as incertezas comunicando-se com seus atletas de forma mais consistente.
físico - relaxamento por visualização (imaginação), progressivos (tensionamento/relaxamento muscular).
auto-relaxamento (respiração), e biofeedback (monitoramento cardíaco).
cognitivo - perceber os pensamentos negativos e substituí-los por outros de auto-ajuda.

Treinamento da Força e da Potência Muscular
A produção de força é determinada por: 1. Fatores biológicos - área da seção transversa do músculo (AST) e ao tipo de fibra muscular. Fibras do tipo I são de contração lenta e resistentes à fadiga. Fibras do tipo IIA são de contração rápida e resistentes à fadiga. Fibras do tipo IIB são de contração rápida e sensíveis à fadiga. 2. Fatores neuromusculares - referem-se à frequência de estimulação e ao recrutamento das unidades motoras. Com um aumento da frequência de estimulação, as forças geradas a cada impulso são somadas. 3. Fatores mecânicos - são relacionados aos mecanismos de ação muscular, comprimento do músculo e velocidade da contração.

Na musculação, para um objetivo de melhoria da força muscular explosiva:
Intensidade de carga - 90 a 100% da carga máxima
Repetições (3-1)   Séries (4-6)   Intervalo de recuperação (3-5 min.)

Para um objetivo de desenvolvimento da resistência (membros superiores):
Intensidade de carga - 40 a 60% da carga máxima
Repetições (15-25)   Séries (3-5)   Intervalo de recuperação (0,5-1,5 min.)

Força reativa - descreve a habilidade do sistema neuromuscular produzir grandes forças concêntricas após rápida fase excêntrica, em um intervalo de tempo muito curto.
Os músculos e, principalmente, os tendões são capazes de armazenar energia por curto intervalo de tempo (150 a 200ms). O alongamento não pode ser muito pronunciado e a combinação de contrações excêntrica-concêntrica deve ocorrer em tempo muito curto . Maximização do impulso e minimização do tempo são objetivos diferentes que devem ter meios de treinamento diferentes. Sugerimos o exercício de pular corda por 5 minutos por dia, 365 dias por ano aos atletas de basquete, ou saltitamentos com 10 séries e 12 repetições; saltos verticais com uma perna com 8 séries e 2x5 repetições .

Flexibilidade
A  flexibilidade pode ser definida como a amplitude de movimento possível em uma ou em várias articulações. A flexibilidade é vista como um dos meios mais eficientes para se evitar lesões. Flexibilidade é uma capacidade altamente individual e deve ser tratada como tal, para todos os atletas. É necessário que os treinadores decidam qual é o nível ótimo de flexibilidade e garantam que ela seja alcançada e mantida. Os tendões unem os músculos aos ossos. Suas estruturas têm pouca elasticidade e esta qualidade permite-lhes transferir a contração muscular diretamente para o osso em que se insere. Entretanto, o tendão possui alguma elasticidade, particularmente os mais longos, como o Tendão de Aquiles, que é de grande importância para armazenar energia elástica para saltos. 

Exercícios de alongamento para o basquetebol:
1. flexão do ombro, circundação, extensores e adutores de ombro.

2. Quadril e abdome, coluna torácica, coluna lombar e quadril, rotatoes, flexores laterais e extensores de tronco.

3. Virilha, isquiotibiais, quadríceps, tornozelo-quadríceps, gastrocnêmio, tendão de Aquiles, flexores e extensores de quadril. Todos os grupos musculares (agonistas e antagonistas) devem estar em equilíbrio, em perspectiva de força e flexibilidade. O alongamento estático envolve alongamento lento (que inibe o estímulo do reflexo de alongamento) quase ao nível da resistência, em que, então, mantém-se durante 20-30 segundos ou até mesmo 60 segundos, se necessário. Durante este tempo a tensão diminui parcialmente e o atleta move-se lentamente para o novo e maior alcance de movimento. Um jogador de basquetebol necessita de flexibilidade, mas não ao extremo.

RELAXAMENTO - Não é possível alongar um músculo tenso ou contraído; ele deve estar relaxado. Pelo menos moderada transpiração deve manifestar-se antes dos exercícios de alongamento começarem, com objetivo de se evitar uma lesão muscular. O aquecimento pode ser por exercício ou banho quente.

REFLEXO MIOFÁSICO - Músculos têm sensores, que checam as mudanças nos seus comprimentos.
Quando o músculo varia o comprimento de maneira brusca, isto ativa o reflexo miofásico para prevenir lesões. Este reflexo impede um alongamento muscular adequado. Para evitar a ativação do reflexo miofásico, o alongamento deve ser feito lentamente. Alongue lentamente com uma carga constante. Segure por 30s a 1 minuto, relaxando o músculo enquanto nesta posição. Alongue músculos numa ordem apropriada, da capeça aos pés ou vice-versa. É importante considerar quais músculos são inter-relacionados. Para se atingir o máximo alongamento em determinadas áreas, pode ser necessário alongar um músculo inter-relacionado primeiro. Um fator importante no alongamento é o controle muscular, a abilidade de relaxar um músculo para alongá-lo e tensionar outro para força.

SEGURANÇA - A posição em que se está ao fazer alongamento deve ser segura, sem chance de deslizar ou cair, de outra forma o músculo pode ser tensionado ou ferido.

REGRA 48-72 HORAS - Não treine forte um dia e alongue forte no dia seguinte. Treine forte e alongue no mesmo dia ou treine forte num dia, descanse no dia dois, alongue no dia três.
O alongamento é um exercício, e se feito corretamente, ele desenvolverá força muscular.

PULSO - Um atleta bem condicionado terá um batimento cardíaco no repouso (antes de levantar pela manhã) de aproximadamente 50 batimentos por minuto. Pode-se reduzir o batimento cardíaco no repouso fazendo-o bater mais rápido por períodos longos regulares de exercício (12 a 20 minutos). O coração é fortalecido melhorando-se a qualidade do músculo do coração (miocárdio), e aumentando a coordenação das fibras.

EQUILÍBRIO - A posição e o deslocamento do atleta devem ser equilibrados. Para manter o equilíbrio, o centro de gravidade deve estar no meio das pernas e o peso igualmente distribuído entre elas. A flexibilidade executa papel fundamental na manutenção do equilíbrio.

Treinamento da Velocidade
Um dos requisitos da vitória consiste em pensar e agir mais rápido do que o adversário. Eis o objetivo do treinamento da velocidade em nosso esporte.
Fatores influenciadores da velocidade:
1. Aptidão: sexo, talento, constituição, idade, técnica, movimento, antecipação.
2. Fatores sensório-cognitivos e psicológicos: concentração, motivação, aceitação de informação, processamento, controle e regulação, força de vontade.
3. Fatores neurais: coordenação intramuscular e intermuscular, potencial de ação, velocidade de propagação, inervação reflexa.
4. Fatores musculo-tendinosos: distribuição do tipo de fibra, seção transversal de cada fibra, velocidade de contração muscular, elasticidade dos músculos e tendões, viscosidade muscular, comprimento do músculo e relação tronco-extremidades, suprimento de energia, temperatura do músculo.
Para sobrecargas cíclicas com intensidade máxima, o valor de referência é de 1 minuto de pausa para cada 10 metros percorridos.
O aquecimento é extremamente importante para o desempenho de velocidade. A força rápida, que é baseada no alto nível de força máxima, é o parâmetro decisivo para o desenvolvimento da capacidade de aceleração.
Os tempos das fases de suporte e de vôo, em ciclos unitários de passadas, são indicadores de desempenho do mais alto nível de velocidade, não devendo exceder 120ms. Importante fator de força está na tração de cada passada, que ocorre no movimento de extensão do quadril após apoio ativo do pé. Isso reduz a importância da extensão da perna, que , por sua vez, é importante na fase de aceleração. Para atingirmos velocidade máxima devemos tocar o solo e suspender o joelho em menos de 0,2 segundo.

Treinamento das Capacidades Aeróbica e Anaeróbica
Uma propriedade do músculo esquelético é a capacidade de transformar energia química em trabalho mecânico. A fonte imediata de energia química em uma contração muscular deriva da hidrólise do trifosfato de adenosina (ATP):  ATP + H2O  --> ADP + Pi + H+ + energia (29 kJ/mol)


A restauração do ATP pode ser alcançada tanto por reações anaeróbicas quanto aeróbicas. A produção anaeróbia de energia resulta no crescimento da concentração de lactato e acidose. A acidose leva a uma atividade muscular reduzida, caso os ions (H+) não sejam removidos ou lançados no sangue. Como resposta ao treinamento aeróbio verifica-se tanto uma melhora na eliminação do lactato do sangue quanto uma redução na produção de lactato nos músculos. A energia aeróbia é produzida na mitocôndria com a utilização de oxigênio retirado do sangue. A produção aeróbia de energia na fase inicial do exercício é limitada (para até 30 segundos de exercício, a produção total de energia se subdivide em 80% anaeróbica e 20% aeróbia), devido a um retardo no aumento do transporte de oxigênio para os músculos em atividade. Após 60 segundos de atividade intensa, os musculos dependem predominantemente do fornecimento de oxigênio (60% energia aeróbia) nos locais da utilização de energia. 

Através do treinamento intermitente pode-se treinar algumas fibras musculares (FT, de contração rápida) que somente seriam recrutadas após horas de exercício submáximo contínuo. O exercício intermitente também permite um alto estresse metabólico por tempo prolongado, sem que ocorra fadiga nas fibras recrutadas. O aumento da capacidade aeróbia do músculo treinado se deve em parte ao aumento de sua densidade capilar. Recomenda-se uma intensidade de treinamento aeróbio com a freqüência cardíaca (FC) acima de 60% da FC máxima menos a FC de repouso.

Fonte


Educação física na Educação Infantil e o currículo da formação inicial

Posted: 20 Nov 2012 11:08 PM PST


INTRODUÇÃO

Este trabalho tece uma análise da formação dos professores de Educação Física de uma universidade estadual baiana no que se refere à inserção do futuro professor como educador na escola de Educação Infantil.

Existe no campo da Educação/Educação Física (EF) a necessidade de ampliação de estudos no campo específico da atuação com os "pequenos", visando ultrapassar a lógica instrumental, que vem sendo debatida em nossa área já há algum tempo. Como afirma Soares (2001/2002, p. 23), "a Educação Física é uma área de conhecimento escolar, que possui saberes que vêm sendo construídos historicamente e que conferem significado ao movimento". Compartilhando desta ideia, ratificamos que as práticas da cultura corporal são, também na Educação Infantil, a especificidade pedagógica e a contribuição da EF como área de conhecimento escolar. Portanto, através das aulas de EF as crianças devem participar como sujeito sócio-histórico produtor de cultura, de modo que a intencionalidade pedagógica deve compor o trabalho do professor de EF.

Some-se a isto o fato de que a maioria dos professores que atuam na Educação Infantil, inclusive os de EF, são formados em serviço, aprendem a fazer fazendo, sem capacitação que dê conta de uma ampla formação teórica e política.

Diante do exposto, tivemos como problema do estudo: O atual currículo do curso de Licenciatura em Educação Física da universidade pesquisada oferece subsídios para atuação dos futuros professores nas escolas de Educação Infantil?

Portanto, o objetivo foi identificar se o currículo atual de Licenciatura em Educação Física da referida IES oferece elementos para uma ação pedagógica intencional e deliberada dos futuros professores na Educação Infantil.

Para tanto, foi necessário analisar a EF enquanto componente curricular na Educação Infantil, e compreender a relação entre a estrutura curricular do curso de Licenciatura em Educação Física da IES pesquisada e a formação dos professores para atuação na Educação Infantil.

 

EDUCAÇÃO FÍSICA ENQUANTO COMPONENTE CURRICULAR DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Aproximadamente até o final da década de 1980, a produção teórica da EF escolar esteve voltada, principalmente, para o Ensino Fundamental. Quando se tratava da primeira infância, a preocupação significativa era o desenvolvimento motor. Portanto, pode-se dizer que a produção da área em relação à Educação Infantil, em perspectivas críticas, é recente.

A produção teórica da EF para a faixa etária de zero a seis anos (agora 0 a 5, com a implementação do Ensino Fundamental de 9 anos) é marcada por poucas pesquisas e estudos. Diante deste contexto, surge a necessidade de construir uma proposta curricular para EF na Educação Infantil, o que é fortalecido, como afirma Soares (2001/2002), pelo fato de a LDB estabelecer a disciplina como componente curricular da Educação Básica que, hoje, engloba a Educação Infantil.

A falta de clareza em relação à EF nesse segmento educacional faz com que, em muitas realidades, as atividades de movimento sejam reduzidas à diversão, à utilização da linguagem corporal como "muleta" para aprendizagem de conteúdos de outras áreas de conhecimento, à concepção de que o movimento deve estar presente para que as crianças "liberem as energias" e se aquietem nos momentos considerados importantes.

Uma proposição que define, claramente, objetivos pedagógicos e conteúdos para a EF na Educação de 0 a 6 anos advém da experiência da Secretaria Municipal de Educação da cidade de Olinda-PE, expressa em texto de Silva (2005). Nessa proposta metodológica afirma-se, com base na teoria sócio-histórica, que o objetivo geral desta disciplina na Educação Infantil é organizar a reflexão pedagógica do educando sobre os temas da cultura corporal, possibilitando o conhecimento das possibilidades de ação corporal, assim como o efeito da ação corporal sobre objetos naturais e sociais, responsabilizar-se pelas próprias ações e compreender a função social das regras. Os temas de ensino são a dança, a ginástica, a capoeira, jogos e brincadeiras. Nesta proposta, o autor busca caracterizar uma EF cujo foco seja a criança, entendida como sujeito inserido no mundo sócio-histórico e cultural humano.

No entanto, com o intuito de evitar algumas generalizações, é importante lembrar que, como assegura Ayoub (2001), a linguagem corporal não é uma "propriedade" da Educação Física, apesar de ser sua especificidade. A linguagem corporal deve ser utilizada em outros momentos educativos, principalmente para evitar que as crianças fiquem grudadas às carteiras escolares como se estivessem sendo moldadas.

Para Soares e colaboradores (1992), através da expressão corporal como linguagem será mediado o processo de sociabilização das crianças na busca da apreensão autônoma e crítica da realidade, através do conhecimento sistematizado, ampliado e aprofundado no âmbito da cultura corporal.

Outro ponto bastante relevante neste contexto seria a questão da especificidade do professor de EF na Educação Infantil, sendo necessário, como salienta Sayão (1999), romper com as barreiras que determinam o que é específico de cada área de conhecimento e abrir espaço para uma atuação integrada dos diferentes profissionais que lidam com as crianças pequenas que, de forma isolada, não conseguem construir um trabalho voltado para as reais necessidades do mundo infantil. O problema não está na atuação dos diversos profissionais na Educação Infantil, mas sim em concepções de trabalho pedagógico que geralmente fragmentam as funções de uns e outros, isolando cada um em seu campo.

Como afirma Ayoub (2001), é necessário não mais se pensar em professoras(es) "generalistas" e "especialistas", mas em professoras(es) de Educação Infantil que irão compartilhar seus diferentes saberes, enquanto docentes, para a criação de projetos educativos com as crianças, valorizando suas experiências e interesses.

Desta forma, a atuação de professores de Educação Física na Educação Infantil só poderá ser considerada um avanço se esses profissionais estiverem participando efetivamente do projeto político-pedagógico da escola. Enquanto ocorrer a fragmentação dos saberes e sua hierarquização, "o fazer pedagógico da Educação Física se reduzirá ao lugar de atividade eminentemente prática, destituída de saberes e possibilidades de reflexão" (DEBORTOLI; LINHALES; VAGO, 2001/2002, p. 98). Assim, percebemos que pensar a EF em uma escola de Educação Infantil não é uma tarefa fácil, mas é possível.

 

CURRÍCULO E FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA ATUAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

O currículo é construção social, e é por esse motivo que determinados conhecimentos fazem parte ou não dele. A sua constituição tenta responder à questão de que modelo de homem se pretende formar para atender a um determinado projeto histórico. É nesse contexto de disputas que se forja o currículo para formar o professor de EF.

O currículo, porém, apesar de ter uma importância bastante relevante, não é o único a versar sobre os conhecimentos necessários à prática educativa. O fazer docente, conforme é apontado por Brzezinski (2002), envolve o ato de interrogar o real, pensar a experiência, compreendê-la para buscar sua gênese e sentido. Com base nessa colocação, a autora define as características/saberes essenciais necessários ao ato de ensinar, que são: conhecimentos específicos que o diferenciam de outros grupos profissionais, o que significa ter a docência como base de formação. Além de exercer a profissão em tempo integral, constituir associações de classe,ter um código de ética e um conjunto de conhecimentos e técnicas de instrumentalização docente.

Como qualquer outra licenciatura ou formação universitária, a formação em EF possui seus dilemas, principalmente curriculares. Como afirmam Taffarel e colaboradores (2006), as principais dificuldades são a inconsistente base teórica; dicotomia teoria-prática; currículos extensivos e desportivizados; falta de articulação entre pesquisa-extensão; teorias de conhecimento voltadaspara atender o mercado.

Sendo assim, Andrade Filho (2001) salienta que a história da formação de professores de EF no Brasil pode ser organizada em quatro fases: a primeira, marcada pela criação da ENEFD (Escola Nacional de Educação Física e Desportos), atual UFRJ, que funcionou com um currículo padrão, responsável pela formação dos primeiros profissionais civis em substituição ao modelo médico-militar; a segunda surgiu com a implantação do Currículo Mínimo em 1969, marcado pelo conflito entre uma visão esportivizante e outra pedagógico-educacional; a terceira referiu-se ao momento em que vigorou o currículo por Áreas de Conhecimento; e a quarta e atual fase do estabelecimento de Cursos de Graduação, de acordo com as novas Diretrizes Curriculares, determinadas pelo CNE/MEC sob pressão do mercado capitalista.

Tais Diretrizes são consideradas por Taffarel et al.(2006a) como um retrocesso histórico que desvaloriza os professores de EF, dividindo-os entre licenciados e graduados, além de se basear numa formação para o mercado de trabalho, e não para o mundo do trabalho. Nesse sentido, caminha-se na contramão de um projeto histórico contra-hegemônico e emancipador, colocando o professor, mais uma vez, como mero executor de tarefas, e não como intelectual capaz de refletir sobre sua própria prática.

Além disso, Taffarel e Santos Júnior (2005) destacam que o documento tem o desenvolvimento de competências como ponto central. Para estes autores e para Taffarel et al. (2006a), a formação de professores baseada nesta lógica assume papel estratégico para o capital, atendendo e reproduzindo as suas necessidades. Em contraponto, destaca-se a importância de uma perspectiva baseada na formação omnilateral, orientando a produção com base nas necessidades vitais humanas.

Nota-se, até aqui, que existe uma indefinição no processo de formação do professor de EF, tendo como problemas centrais a questão da legitimidade e do objeto de estudo.

Este contexto torna ainda mais complexo o debate sobre os subsídios na formação inicial em EF para o trabalho na Educação Infantil, pois concordamos com Barbosa (2001/2002), quando afirma que para atuar em tal segmento da Educação Básica, os professores, inclusive os de EF, precisam abandonar a ideia de que na Educação Infantil a criança deve ser o centro das propostas educativas, pois acabam por considerar apenas suas necessidades de desenvolvimento, afinal, os projetos de educação se atrelam a projetos políticos mais globais, e não apenas a um projeto educacional específico.

Além disso, na prática docente na Educação Infantil é necessário observar que as aprendizagens são fundamentais e necessárias para o desenvolvimento infantil; desligar-se das perspectivas que, historicamente, provocaram um desligamento entre o aspecto da formação e profissionalização e o da atuação no campo, determinando um agir sem por quê; deixar de ressaltar apenas o aspecto prático no processo de educação da criança, evitando a defesa do brincar como algo imanente da infância e como mera atividade sem história, retirando-lhe todo o caráter dialógico; pensar na sua carreira, já que historicamente não se investiu na profissionalização dos educadores infantis; cuidar para não aceitar o conhecimento em "fatias", dividindo especialidades (linguagem, movimento, emoções, raciocínio...) e evitando, assim, disputas hegemônicas por algo que só pode ser assumido na totalidade; e, por fim, diante de uma proposta didático-pedagógica que se oriente em uma perspectiva dialética sobre aprendizagem e desenvolvimento infantil, os professores não podem tomar como "complementares" os aspectos gestuais, corporais, estéticos e emocionais das crianças.

 

OS CAMINHOS DA PESQUISA

Este é um estudo de natureza qualitativa, que teve como opção teórico-metodológica o marxismo, pela sua marca de totalidade. Porém, o princípio da totalidade "não é sinônimo de fechamentos, de certezas absolutas e de verdades estabelecidas" (MINAYO, 2007, p. 115). Entendemos o marxismo como uma teoria que tem uma concepção de homem e de história baseada na práxis.

Nesse sentido, a forma de lidar com os fenômenos busca uma análise crítica do contexto das relações sociais (realidade) no modelo de produção vigente. Sendo assim,

[...] é esse caráter de abrangência, que tenta de uma perspectiva histórica, cercar o objeto de conhecimento por meio da compreensão de todas as suas mediações e correlações, constituindo a riqueza, a novidade e a propriedade da dialética marxista (MINAYO, 2007, p. 107).

O método dialético parte do princípio de que "para conhecer realmente um objeto é preciso estudá-lo em todos os seus aspectos, em todas as suas relações, e todas as suas conexões" (GIL, 1995, p. 32).

O espaço de pesquisa foi uma universidade estadual baiana, localizada no semi-árido do Estado da Bahia. A IES possui 22 cursos de graduação, sendo que a maioria de formação de professores, pois a própria instituição nasceu para atender à necessidade de formação docente no interior do Estado. Na totalidade, a IES atende 6.457 alunos em cursos de graduação e no curso de Educação Física havia, no período da pesquisa, 284 alunos matriculados.

Tratou-se de uma pesquisa documental, que, segundo Gil (1995), assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica, mas buscando documentos que ainda não foram submetidos a uma análise sistemática. Por conta disto, além da autorização de liberação dos documentos pelo Colegiado do curso pesquisado, não foi necessário submeter o projeto de pesquisa ao Comitê de Ética em Pesquisa da referida universidade, visto não se tratar de pesquisa direta com seres humanos.

Nesta pesquisa, na coleta de dados, foi feita a análise documental do projeto do curso de Licenciatura em Educação Física e os planos de curso das disciplinas oferecidas, tendo como critério para análise a possibilidade de relação do componente curricular com o contexto escolar, e com os aspectos relativos ao trabalho do professor em geral e do professor de Educação Física em particular, com a dimensão do desenvolvimento e da aprendizagem humana no segmento da Educação Infantil. Portanto, foram solicitados para análise os planos de curso das seguintes disciplinas: Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem, Análise Histórica da Educação Física/Esporte e Lazer, Prática Curricular I, Didática, Prática Curricular II, Metodologia do Ensino da Educação Física, Prática Curricular III, Desenvolvimento e Aprendizagem Motora, Prática Curricular IV, Estágio Curricular I e Estágio Curricular II.

Os dados da pesquisa foram analisados através da Análise de Conteúdo, por ser "a expressão mais comumente usada para representar o tratamento dos dados de uma pesquisa qualitativa" (MINAYO, 2007, p. 303), porque permite elaborar inferências em relação ao que está explícito e subentendido nas mensagens (BARDIN apud MINAYO, 2007).

Entre os tipos de Análise de Conteúdo, optamos por utilizar a Análise Temática, pois além de ser a mais utilizada, "ela comporta um feixe de relações e pode ser graficamente apresentada através de uma palavra, de uma frase, de um resumo" (MINAYO, 2007, p. 315).

Procedemos à análise trabalhando com três categorias, que foram: concepção de "ser professor", expressa no projeto do curso; campos de atuação do professor de EF; características do trabalho do professor de EF.

 

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Durante a coleta e análise dos dados desta pesquisa fizemos a opção de trabalhar com a primeira versão do Projeto de Reforma do Currículo do Curso de Educação Física, por ser a que está regendo as atividades do curso. Vale ressaltar que tal projeto está pautado nas Resoluções CNE/CP 01 e 02, de 2002, e na Resolução CNE/CES 07, de 2004.

Ao utilizar as três categorias já citadas anteriormente como critério de análise dos dados, foi possível notar que apareceram algumas proposições em relação à concepção de "ser professor", sendo que a citada o maior número de vezes é a concepção de que o docente é sujeito de sua prática, como fica explícito no seguinte trecho: "isto é, um sujeito que assume sua prática a partir dos significados que ele mesmo lhe dá, um sujeito que possui conhecimento e um saber-fazer proveniente de sua própria atividade e a partir dos quais ele a estrutura e a orienta" (UNIVERSIDADE, p. 15).

Percebe-se que a concepção de "ser professor",defendida pelo documento, é de um ser que possui todos os conhecimentos essenciais ao trabalho pedagógico. É preciso reconhecer, no entanto, três aspectos: 1) a formação inicial não dá conta de todos os conhecimentos, pois a história de vida, a formação continuada e as experiências profissionais influenciam o "ser professor", conforme posto por Brzezinski (2002); 2) no projeto, o professor é visto como responsável por organizar o conhecimento que lhe é passado ao longo da formação, para contribuir com a formação humana de outros sujeitos, além de um profissional generalista e pesquisador, como fica claro no trecho "formação do educador, como para o pesquisador e o profissional generalista" (UNIVERSIDADE, 2008, p. 21). Ainda no diálogo com Brzezinski (2002), como a formação inicial não tem como dar conta de todos os aspectos necessários ao fazer docente, entendemos que isto que aumenta a possibilidade de uma "esquizofrenia pedagógica", ou seja, falar, mas não fazer; 3) não nos debruçaremos sobre tal aspecto, pois se tratou de uma pesquisa documental.

No que diz respeito ao campo de atuação do professor de Educação Física, aparecem escolas de Educação Básica e de Ensino Superior, o campo do lazer e recreação, atenção básica à saúde e fitness, entre outros. No entanto, o que aparece com maior frequência são as escolas. Em relação a esses espaços, o projeto analisado traz: "na área de educação, o aluno terá condições de atuar tanto na Educação Básica como na Educação Superior" (BAHIA, 2008, p.16); "escola, clubes, academias, condomínios, acompanhamentos individualizados, hotéis, comunidades, ONGs, etc" (UNIVERSIDADE, 2008, p. 17); "nas diferentes escolas, bem como, nos ambientes não escolares, como academia, clube e comunidades de uma forma geral" (UNIVERSIDADE, 2008, p. 9).

O fato de considerar as escolas como principal campo de intervenção do professor de EF é um aspecto relevante para esta pesquisa, pois acreditamos que a EF, enquanto área de conhecimento,tem a prática pedagógica como característica essencial, além de que se reconhece toda a Educação Básica como campo de atuação, ou seja, apesar do Projeto do Curso não citar diretamente a Educação Infantil, há o reconhecimento de que os professores de EF formados pela universidade investigada podem se inserir nessa ambiência.

Apesar de uma frequência menos significativa, o documento ressalta ainda o campo da recreação e do lazer como campo de atuação. Atualmente, os debates sobre o lazer no campo da EF são bastante vultosos, já que a nossa Constituição reconhece-o como um direito social. Todavia, quando se fala em recreação, remetemo-nos ao tempo em que a EF, principalmente destinada às crianças, era baseada no objetivo da recreação apenas, tendo como referência a psicomotricidade. Conforme discutido no referencial teórico desta pesquisa, isto pode ser reflexo da produção teórica ainda reduzida sobre o fazer pedagógico com a primeira infância, e da consequente dificuldade de a EF se legitimar como componente curricular nas escolas infantis por falta de clareza em relação a seus objetivos (SOARES, 2001/2002).

Em relação às características do trabalho do professor de EF, merecem destaque as ocorrências mais citadas, por serem essenciais para o trabalho docente no primeiro segmento da Educação Básica, segundo Barbosa (2001/2002). São elas: compreender de forma ampla (economia, política, questões socioculturais) a realidade, sobre o que o documento analisado afirma: "Compreender a realidade econômica, política e sócio-cultural brasileira, no sentido de situar a sua ação educativa de forma contextualizada" (UNIVERSIDADE, 2008, p. 17); ser um sujeito pesquisador, em relação ao que o documento coloca: "Produzir, socializar e estimular a produção de conhecimentos científicos e tecnológicos na área da Educação Física" (UNIVERSIDADE, 2008, p. 18); trabalhar de maneira coletiva, sobre o que o projeto analisado diz: "O trabalho coletivo dos professores também é condição indispensável para que as atividades de sala de aula sejam devidamente planejadas e avaliadas, tendo em vista a direção comum que se pretende imprimir ao processo de ensino-aprendizagem" (UNIVERSIDADE, 2008, p.14); e refletir sobre o fazer docente, sobre o que se afirma: "é fundamental que os docentes reflitam e explicitem a intencionalidade de sua ação" (UNIVERSIDADE, 2008, p. 12).

Kramer (2003) também enfatiza a necessidade de os professores que lidam com a infância, estudarem criticamente as teorias que auxiliam na compreensão e problematização da prática, o que nos remete a um docente pesquisador. Todavia, essa questão da pesquisa é bastante complexa, pois ao se falar neste assunto é preciso considerar as políticas de fomento à pesquisa nas universidades brasileiras, o que não é nosso objeto de estudo. E, ainda, que quando se fala em professor pesquisador não se pode reduzir a pesquisa a um instrumento docente, desconsiderando que o ato de pesquisar por si envolve conhecimentos específicos.

A respeito do trabalho coletivo, Ayoub (2001) afirma que é necessário se pensar em professoras(es) de Educação Infantil que irão compartilhar conhecimentos para a criação de projetos educativos com as crianças, valorizando suas experiências e interesses, admitindo uma Educação Infantil onde os profissionais de diversas áreas de formação atuem em parceria na educação e cuidado das crianças. Esse é, inclusive, um dos aspectos considerados pela autora para afirmar que se deve pensar num professor da Educação Infantil sem se pensar na fragmentação em áreas de conhecimento.

Ainda em relação à categoria sobre as características do trabalho do professor de EF, embora em menor frequência, algumas são baseadas na perspectiva do desenvolvimento de competências. Entre elas, destaca-se a competência técnica, a tomada de decisões e o domínio de conteúdo de áreas correlatas.

O modelo das competências é considerado, por pesquisadores como Taffarel et al. (2006b), uma estratégia para a formação de professores numa perspectiva neotecnicista, voltada para as necessidades e interesses do mercado de trabalho. Essa é, portanto, uma das vias de concretização de esvaziamento e proletarização do trabalho docente.

Outro ponto que merece destaque é a falta de clareza com relação à identidade do profissional de EF e ao objeto a ser estudado nos cursos de formação. No documento analisado, o professor de EF é visto como aquele que tematiza a cultura corporal de movimento e, em outras ocasiões, o objeto de estudo da EF aparece como cultura corporal. Isto está explicitado nos trechos: "nos diferentes espaços/contextos próprias da cultura corporal de movimento" (UNIVERSIDADE, 2008, p.16); e, "tematiza os elementos da Cultura Corporal – jogo, esporte, dança, luta, ginástica, etc." (UNIVERSIDADE, 2008, p. 12).

Com base nas contradições até então explicitadas no projeto, podemos inferir que os conflitos que envolvem a implantação das Novas Diretrizes Curriculares e o próprio objeto da EF estão postos no projeto do curso em análise.

No segundo momento da coleta de dados, selecionamos os planos de curso das disciplinas oferecidas, com base no critério anteriormente descrito. Portanto, esses documentos foram solicitados ao Colegiado do Curso via ofício e, em seguida, os mesmos foram submetidos à análise, a partir do questionamento sobre a relação do que se apresentava planejado com a Educação de modo geral e, em particular, com a Educação Infantil.


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