EDUCAÇÃO FÍSICA DO PROFESSOR WILLIAM PEREIRA

Este blog é a continuação de um anterior criado pelo Professor William( http://wilpersilva.blogspot.com/) que contém em seus arquivos uma infinidades de conteúdos que podem ser aproveitados para pesquisa e esta disponível na internet, como também outro Blog o 80 AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA (http://educacaofisica80aulas.blogspot.com/ ) que são conteúdos aplicados pelo Professor no seu cotidiano escolar.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Newsletter da Saúde

Newsletter da Saúde


Exercício físico e saúde

Posted: 01 Mar 2013 12:36 AM PST



Em toda a história da humanidade, a atividade física vigorosa sempre esteve associada com a imagem de pessoas saudáveis. Basta lembrarmos dos jogos olímpicos que começaram na Grécia 776 antes de Cristo! Mens sana in corpore sano, diziam os romanos.

Popularmente existe a tendência para considerar todas as pessoas iguais, sendo as diferenças individuais atribuídas a fatores ambientais tais como hábitos de vida e alimentação, entre outros, e esquece-se os fatores hereditários, genéticos. É importante lembrar que a saúde das pessoas repousa sobre duas colunas : a constituição genética e as condições ambientais. Entretanto, agora, vamos dedicar-nos a estas últimas, porque a consciência e a preocupação com as heranças genéticas, não deve levar à posição de negligência do papel dos fatores ambientais. Dentre estes, que estimulam a saúde das pessoas, estão os exercícios físicos, ao lado da boa alimentação, da higiene, das imunizações, da vida em ambiente saudável, do sono e da recuperação adequada dos esforços físicos e mentais.

Consideração de importância é a de que os benefícios do exercício são comuns à todos os tipos de atividade física, esportiva ou laborativa, desde que os esforços não sejam excessivos em relação à condição física da pessoa. O exercício é uma forma de sobrecarga para o organismo. Sobrecargas bem dosadas estimulam adaptações de aprimoramento funcional de todos os órgãos envolvidos, mas quando excessivas, produzem lesões ou deterioração da função. O sedentarismo caracteriza-se por uma ausência de sobrecargas para todo o sistema neuro-músculo-esquelético e metabólico, levando ao enfraquecimento progressivo de estruturas com funções biomecânicas, e à alterações funcionais que estatisticamente se correlacionam com maior incidência ou gravidade de doenças. Com base em estudos epidemiológicos e fisiopatológicos, formou-se o consenso de que os exercícios estimulam a saúde em diversos aspectos:

Alívio de tensões emocionais: a atividade física é reconhecida como uma forma eficiente de aliviar o stress emocional, diminuindo assim um importante fator de risco para diversas doenças crônicas.
Melhora da composição sanguínea: os exercícios em geral tendem a normalizar os níveis de glicose, gorduras e diversas outras substâncias no sangue, que podem estar alterados e trazer riscos aos portadores.
Redução da pressão arterial: pessoas ativas fisicamente tendem a ter níveis pressóricos mais baixos, e os exercícios em geral auxiliam a diminuir a pressão arterial dos hipertensos.
Estímulo ao emagrecimento: qualquer tipo de exercício estimula a redução da gordura corporal, diminuindo assim a possibilidade da pessoa desenvolver doenças como a aterosclerose, o diabetes e outras.
Aumento da densidade óssea: o sedentarismo leva à uma diminuição progressiva da resistência óssea, aumentando o risco de fraturas, e os exercícios físicos constituem recurso de alta relevância para evitar e reverter essa situação.
Aumento da massa muscular: a atividade física habitual leva à um aumento do volume e força dos músculos, protegendo as articulações e favorecendo a aptidão física.
Desenvolvimento da aptidão física: os exercícios aumentam a capacidade das pessoas realizarem esforços, permitindo assim maior autonomia motora, condição conhecida como boa qualidade de vida.

Um dos aspectos que não pode ser esquecido, em função de sua importância para a vida em sociedade, é a deterioração da forma do corpo conseqüente ao sedentarismo. A falta de exercícios leva à diminuição progressiva da massa muscular e à tendência para o acúmulo de gordura. Tendo os músculos consistência firme e formas arredondadas, sua função é modeladora, tanto no homem quanto na mulher. O tecido adiposo, de consistência flácida e sem forma definida, é o elemento deformante do corpo.

Nas cidades, a solução mais habitual para o sedentarismo imposto pelo trabalho intelectual são as atividades esportivas. Clubes, academias e empresas que fabricam equipamento profissional e doméstico para ginástica proliferam nas regiões urbanizadas de todo o planeta, em consonância com a consciência das pessoas quanto à necessidade de atividade física. Atividades recreacionais como caminhadas, passeios ciclísticos, pescarias, camping e náutica também envolvem razoável e benéfica atividade física, mas devido ao seu caráter geralmente esporádico, devem ser complementadas com outras formas de exercício mais freqüente.

Uma questão que costuma receber ênfase injustificada é a indicação da atividade física supostamente ideal. O que se pode afirmar do ponto de vista do conhecimento científico é que todas as formas de exercício possuem mais ou menos os mesmos efeitos salutares acima elencados. Assim sendo, não se justifica classificar as diversas atividades físicas como mais ou menos salutares, a não ser que se considere a incidência de traumas, que evidentemente pode variar entre as diversas formas de exercício. A opção por uma ou outra forma de atividade física deve ficar por conta do prazer que cada pessoa encontra na sua prática. Pessoas extrovertidas costumam apreciar atividades coletivas com bola e ao ar livre, nos clubes e praças esportivas. As pessoas mais introvertidas geralmente preferem atividades individuais em academias, e quando as suas personalidades não são adequadas nem para estes locais, os exercícios em casa podem ser os ideais.

Algumas atividades esportivas exigem um grau mínimo de aptidão física, abaixo da qual não é possível a sua prática. Quando uma pessoa pretende dedicar-se à alguma modalidade de esporte para a qual não está preparado, deve iniciar um programa de condicionamento físico para melhorar seus níveis de aptidão.

Independentemente do tipo de atividade, aspecto de alta relevância é adequar o grau de esforço do exercício à condição física atual da pessoa. Qualquer tipo de exercício pode ser graduado nas suas características de realização, podendo então ser classificado como suave, moderado ou exaustivo, de acordo com o nível de sobrecargas impostas ao organismo. Evidentemente as pessoas descondicionadas devem iniciar as atividades com exercícios suaves. Frequentemente alguns profissionais utilizam o termo "aeróbico" e "anaeróbico" para fazer referência à exercícios suaves ou pesados, o que caracteriza uso incorreto destas palavras e erro de grafia, pois o correto são aeróbio e anaeróbio. Tanto as atividades aeróbias quanto as anaeróbias podem ser suaves, moderadas ou exaustivas.

Escolhido o tipo de exercício com base na preferência e na condição física da pessoa, uma adequada orientação técnica é fundamental. Nos clubes e academias professores e técnicos poderão oferecer a orientação adequada em cada modalidade esportiva. Para as pessoas que preferirem os exercícios domésticos, é importante seguir as orientações dos equipamentos utilizados, geralmente fornecidos por meio de folhetos ou vídeos. Qualquer dúvida deverá ser esclarecida com profissionais de educação física, muitos dos quais estão se dedicando à função de treinadores pessoais.

A avaliação inicial de alguém que deseja iniciar um programa de condicionamento físico é um outro aspecto que merece algumas considerações. As recomendações para atividade física de populações estabelecidas pelos "Centers for Disease Control and Prevention" e pelo "American College of Sports Medicina", dos Estados Unidos (Pate et al, 1995), esclarecem que a maioria das pessoas adultas não necessitam consulta médica antes de iniciar um programa de exercícios suaves ou moderados. Homens acima de 40 anos e mulheres acima de 50 anos, devem consultar um médico nas seguintes situações: desejo de praticar exercícios intensos; quando apresentarem doenças crônicas do tipo diabetes, hipertensão arterial e aterosclerose; quando apresentarem fatores de risco para doenças crônicas tais como tabagismo e obesidade. Na consulta médica serão avaliados os antecedentes familiares e pessoais, os sinais e sintomas de doenças em geral, e exames laboratoriais poderão estar indicados. Um deles é o eletrocardiograma realizado durante exercício em bicicleta ergométrica ou esteira, que pode evidenciar estágios iniciais de doenças cardíacas, caso em que estarão contra-indicados exercícios exaustivos de qualquer tipo. Avaliação detalhada da composição corporal e das qualidades de aptidão não é uma necessidade para realizar exercícios com segurança e eficiência, desde que as pessoas sejam bem orientadas por um profissional competente. Mudanças de hábitos alimentares podem ser necessárias para que as pessoas possam atingir os seus objetivos, e neste caso uma consulta com nutricionista poderá ser importante.

Asma e doença pulmonar obstrutiva crônica: uma comparação entre variáveis de ansiedade e depressão*

Posted: 28 Feb 2013 12:12 PM PST


Introdução

Pacientes com doenças crônicas apresentam maior predisposição a transtornos psiquiátricos quando comparados à população geral.(1) Portadores de artrite reumatóide, hipertensão arterial, lombalgias, cardiopatias e diabetes mellitus referem freqüentemente sintomas depressivos como co-morbidade.(2-4) Pneumopatas crônicos têm freqüência elevada de transtornos de humor e de ansiedade.(5)

A prevalência de depressão na população geral é de aproximadamente 3%, aumentando para 10% entre a população atendida em algum serviço de saúde.(6) Entre os pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), os estudos mostram resultados que variam entre 6 e 42% da população estudada.(7) Esta variação não conclusiva foi referendada por recente revisão sistemática sobre a prevalência de depressão em portadores de DPOC, que concluiu pela pobre qualidade metodológica da maioria dos estudos.(7)

Os transtornos ansiosos têm prevalência de aproximadamente 20% na população geral.(8) Entre os pacientes com DPOC a prevalência também varia muito, entre 21 e 96%, em função da metodologia escolhida e das características da população investigada.(9)

Sabe-se também que existe uma correlação muito estreita entre ansiedade e depressão: alguns autores consideram estas manifestações como imagens em espelho.(10)

Entre os asmáticos, um estudo recente verificou uma prevalência de 30% para ansiedade e de 9% para depressão.(11) A literatura mostra os componentes de ansiedade e depressão como fatores associados principalmente à asma de difícil controle.(12) Ao aumento da freqüência e amplitude respiratória causado pela ansiedade soma-se o quadro clínico da asma, amplificando os sintomas de dispnéia.

Nos trabalhos de qualidade de vida relacionada à saúde em pacientes com asma e DPOC, está indicada a quantificação de sintomas de depressão e ansiedade, pela influência destes nos baixos escores de qualidade de vida encontrados.(13,14)

Como parte da metodologia de três estudos clínicos, pacientes portadores de asma e DPOC foram submetidos à avaliação quantitativa dos sintomas de ansiedade e depressão. Neste estudo foi feita a análise comparativa dos resultados obtidos.

 

Métodos

Foram estudados instrumentos específicos de avaliação de sintomas de ansiedade e depressão respondidos por pacientes dos ambulatórios de asma e de DPOC da Disciplina de Pneumologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. A amostra estudada constituiu-se de 189 pacientes, sendo 140 asmáticos e 49 com DPOC, selecionados aleatória e prospectivamente.

Os pacientes foram classificados como portadores de asma e de DPOC segundo o Consenso Brasileiro de Asma e DPOC. Eles possuíam avaliação clínica preliminar e de função pulmonar com o registro do volume expiratório forçado no primeiro segundo através de espirometria realizada nos últimos seis meses, com a padronização da American Thoracic Society.(15)

O primeiro grupo foi formado por 40 pacientes com asma clinicamente controlada. Os pacientes foram avaliados com o objetivo de se verificar os efeitos terapêuticos aditivos da fisioterapia respiratória. A totalidade destes pacientes era portadora de asma persistente moderada e recebia, regularmente, corticosteróide inalado e broncodilatador de longa duração. Foram considerados controlados por não apresentarem piora de sintomas asmáticos no último mês. O segundo grupo estudado foi de 100 asmáticos parcialmente ou não controlados, a maioria com asma persistente moderada e grave. Foram selecionados para uma análise transversal dos fatores de risco associados à asma. O terceiro grupo constituiu-se de 49 pacientes com DPOC estáveis, sem exacerbação recente. O objetivo do estudo era relacionar a dispnéia com a medida da oximetria durante o esforço. Todos os estudos foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Para avaliar os sintomas depressivos foi utilizado o inventário de depressão Beck Depression Inventory (BDI).(16) Trata-se de uma medida de auto-avaliação de depressão traduzida em vários idiomas e validada em diferentes países (incluindo o Brasil). O BDI é constituído de 21 itens com quatro possibilidades de resposta cada um, graduado de zero a três de acordo com a intensidade do sintoma. Para obtenção do resultado, faz-se o somatório da pontuação (máximo de 63 pontos), e considera-se o total encontrado como sendo o resultado final. O escore usado para a classificação de gravidade dos sintomas depressivos foi o seguinte: de 10 a 18 pontos, leve; de 19 a 29 pontos, moderada; e 30 pontos ou mais, grave.(16)

Os sintomas de ansiedade são avaliados pelo Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) proposto por Spielberger em 1970, e traduzido e padronizado para a língua portuguesa.(17) Este instrumento é composto por duas escalas de auto-avaliação de dois conceitos de ansiedade: "traço" e "estado" de ansiedade. A escala do "traço" de ansiedade verifica a personalidade do indivíduo frente às situações potencialmente ameaçadoras ao longo da vida. A escala do "estado" de ansiedade observa um estado transitório (momentâneo), em que sentimentos desagradáveis de tensão e a variável intensidade dependem da situação vivida. Cada escala tem vinte itens, com a possibilidade de resposta graduada de um a quatro pontos. A avaliação dos resultados é feita somando-se os pontos (máximo de 80 pontos) de acordo com os critérios estabelecidos pelo autor. A classificação de gravidade é: mais de 30 pontos, ansiedade moderada; e mais de 50 pontos, ansiedade grave.(17) É utilizada a análise dos valores da ansiedade "estado" para comparar os grupos, por representar os sintomas de ansiedade no momento da avaliação (transversal).

Os grupos de pacientes foram comparados pelos seus aspectos demográficos, funcionais e através do percentual dos escores de ansiedade e depressão, pelo teste ANOVA one way. Considerou-se para a análise estatística dos testes IDATE e BDI o percentual correspondente ao resultado, onde o total de pontos, ou seja, 80 pontos no IDATE e 63 pontos no BDI corresponderam a 100%. Entende-se que quanto maior a pontuação, maior a gravidade. Avaliou-se também a proporção de pacientes com sintomas leves e ausentes comparando-os com a proporção de moderados e graves (BDI 19 < pontos; IDATE 30 < pontos). Os valores obtidos pelo BDI e IDATE foram correlacionados intragrupos através do teste de Spearman. Considerou-se significativo um valor de p < 0,05.

 

Resultados

A população de asmáticos constituiu-se predominantemente de mulheres, e era mais jovem em relação ao grupo com DPOC. O volume expiratório forçado no primeiro segundo médio dos asmáticos esteve em torno de 70% do previsto, enquanto que nos portadores de DPOC, esteve abaixo de 40%. Na Tabela 1 podemos comparar os dados demográficos dos grupos e verificar que os asmáticos possuem um valor médio de IDATE significativamente mais alto que o grupo com DPOC, independentemente de estarem ou não controlados. Em relação ao BDI a média ficou entre 20 a 30%. Verifica-se uma pequena, mas significativa, diferença para maior no percentual de depressão do grupo com asma não controlada quando comparado aos outros dois grupos.

 

 

Como mostrado na Tabela 2, a análise estratificada por gravidade não encontrou diferença significativa em relação aos níveis de depressão. Mas quanto à ansiedade, houve prevalência significativamente maior de ansiedade moderada e grave entre asmáticos não controlados quando comparados a pacientes com DPOC (p < 0,001), e asmáticos controlados quando comparados com portadores de DPOC (p < 0,05).

 

 

Existiu uma correlação intragrupo entre os valores de IDATE e BDI, tendo sido mais forte no grupo com DPOC (r = 0,63, p < 0,001) do que nos grupos asma controlada e asma não controlada (r = 0,57 e 0,53, p < 0,001, respectivamente).

 

Discussão

Os resultados mostram a presença de elevado percentual de sintomas depressivos e de ansiedade entre pacientes com doenças pulmonares obstrutivas. Os asmáticos obtiveram um percentual mais alto de sintomas psiquiátricos, ou seja, um comprometimento emocional maior. O achado de maior relevância é o resultado referente aos sintomas de ansiedade, com os percentuais mais expressivos encontrados nos grupos de asma. Já a média do percentual de depressão é semelhante entre asmáticos e portadores de DPOC.

Estes resultados parecem indicar que os pacientes com maior grau de obstrução pulmonar medida pelo volume expiratório forçado no primeiro segundo (DPOC) não são os que apresentam mais sintomas de ansiedade e depressão. Da mesma forma, parece não haver correlação com a idade, ainda que pacientes idosos tenham uma maior tendência a apresentar sintomas depressivos.(18)

Talvez o gênero possa ser um fator determinante. Na casuística de asmáticos havia 110 mulheres (78,6%), e entre os pacientes com DPOC, 22 (45%). A prevalência de sintomas de depressão e de ansiedade é mais comum entre as mulheres.(19) O gênero inclusive pode ser um fator preditor de depressão, após a manifestação de um dos transtornos de ansiedade primária em algum momento da vida.(19) A correlação significativa de sintomas de ansiedade e depressão encontrada neste trabalho indica o paralelismo dessas manifestações.

Estudos com asmáticos têm mostrado alta prevalência de distúrbios psiquiátricos e problemas psicossociais, indicando haver uma possível associação entre gravidade da asma e incapacidade psicológica.(20) Dentre esses distúrbios, a asma associa-se principalmente com o pânico.(21)

A gravidade da asma pode relacionar-se diretamente tanto com os sintomas de ansiedade e depressão, como com altas doses de corticóides inalados(22) e, inversamente com as medidas de qualidade de vida relacionada à saúde dos pacientes. Alguns autores encontraram correlação negativa entre os escores Hospital Anxiety and Depression scale, os escores Asthma Quality of Life Questionaire, e o Questionário "Q", usado para verificar o grau de controle dos sintomas da asma na última semana.(11) Também houve correlação negativa entre a Hospital Anxiety and Depression scale - depressão e as medidas de volume expiratório forçado no primeiro segundo e de pico de fluxo expiratório.(11)

Em certos estudos é observada uma relação entre asma, sintomas depressivos e aderência ao tratamento. Alguns autores(23) mostraram que pacientes asmáticos não aderentes ao tratamento tiveram um escore significativamente maior para depressão do que aqueles aderentes. Os asmáticos não controlados deste estudo apresentaram percentual um pouco maior de sintomas de depressão, o que pode indicar uma baixa aderência ao tratamento de manutenção prescrito.

Outros autores(24) conseguiram mostrar uma correlação entre ansiedade, depressão e as visitas à emergência. Os pacientes com doença pulmonar obstrutiva que retornaram à emergência em um mês, devido a exacerbações, tiveram escores de ansiedade e depressão significativamente maiores que aqueles que se mantiveram controlados. Ao observar os grupos separadamente verificaram que os pacientes com asma que apresentaram crise no primeiro mês tinham escore Hospital Anxiety and Depression scale mais alto. A mesma tendência foi verificada nos pacientes com DPOC, embora a diferença não tenha sido significativa. Nesse estudo, devido ao tamanho reduzido da amostra, não se concluiu se a relação entre fatores psicológicos e tratamento de emergência diferiu entre asmáticos e portadores de DPOC. Para outros autores,(25) a ansiedade é tão importante que pode ser considerada o maior fator preditor da freqüência de admissão hospitalar por exacerbação aguda em pacientes com DPOC.

As metodologias usadas em pesquisas interferem nos resultados.(7,9) Neste estudo foram utilizados instrumentos que nos permitiram estratificar por gravidade os sintomas psicológicos, e obter uma melhor avaliação em cada grupo estudado. Com isto pôde-se demonstrar que a maioria dos pacientes portadores de DPOC tem algum grau de depressão e ansiedade. É certo que a depressão aparece com freqüência nos pacientes com DPOC. Alguns autores encontraram até 42% de pacientes portadores de DPOC com depressão.(26) Em outro estudo, o risco encontrado de depressão foi 2,5 vezes maior em pacientes com DPOC grave quando comparados com um grupo controle.(27) Para esses autores a explicação para a maior prevalência de depressão seria uma resposta psicológica dos indivíduos à medida que se confrontam com suas limitações às atividades de vida diária, com os maiores esforços exigidos pela condição incapacitante atual e com a privação social decorrente desses sintomas de incapacidade.

A dispnéia é um dos sintomas mais limitantes nos pacientes com doenças pulmonares obstrutivas e também pode ser considerada como um dos fatores mais importantes para se determinar a gravidade e a qualidade de vida relacionada à saúde.(28) A gravidade da asma, manifestada por dispnéia, despertar noturno e sintomas pela manhã, tem boa correlação tanto com os transtornos de humor como com a qualidade de vida desses pacientes.(29) Na origem da dispnéia há vários fatores relacionados, dentre eles a hipoxemia, a hipercapnia, o aumento do trabalho respiratório e as alterações emocionais, como a ansiedade e a depressão.(15) Talvez por isso se observe neste estudo que os asmáticos não controlados apresentaram uma prevalência maior de sintomas de ansiedade e de depressão.

Alguns estudos tentaram explicar a etiologia dessa ansiedade, sugerindo que a hipóxia cerebral resultante da hiperventilação desses pacientes estaria envolvida no processo.(27) Está bem estabelecido que a hiperventilação e a hipersensibilidade à pressão parcial de gás carbônico fazem parte do mecanismo que dá origem a vários tipos de transtornos de ansiedade.(30) O quadro parece ser resultante de alterações concomitantes no sistema respiratório e no sistema cerebral. Mas ainda não se sabe onde exatamente está localizada essa ligação ou de que forma ela acontece.

As limitações principais deste estudo estão na metodologia. Em primeiro lugar, ele foi delineado a partir de uma coletânea de dados de pacientes diferentes avaliados ao acaso, com objetivos distintos. Estão incluídos nos grupos pacientes com diferentes graus de gravidade de asma, o que pode ter influenciado (positiva ou negativamente) os resultados. Em segundo lugar, os pacientes não foram submetidos a uma avaliação psiquiátrica posterior à determinação dos valores de IDATE e BDI. Portanto, não se pode saber quais deles eram realmente doentes psiquiátricos.

Conclui-se que os sintomas de ansiedade e de depressão são freqüentes em pacientes com doenças pulmonares obstrutivas. Entre os pacientes asmáticos essa freqüência parece ser maior do que entre os portadores de DPOC, independentemente da idade e da função pulmonar. É importante a avaliação desses sintomas para o prognóstico do paciente, já que eles podem comprometer a aderência ao tratamento, dificultar o controle e aumentar a morbimortalidade. Na literatura nacional poucos dados estão disponíveis sobre transtornos de humor em portadores da asma e DPOC. Os resultados aqui mostrados indicam uma tendência da nossa população de portadores de doenças obstrutivas crônicas. Futuros estudos delineados com objetivos mais específicos podem ajudar a compreender até que ponto sintomas de ansiedade e depressão agravam os sintomas físicos ou vice-versa, ou ainda se ambos os fatores coexistem agindo de forma mais ou menos independente.

 

Referências

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